Polícia Federal indicia presidente da Andrade Gutierrez e mais oito por crimes investigados na Lava-Jato
Eles são acusados de corrupção ativa,
fraude em licitação, lavagem de dinheiro e crime contra a ordem
econômica; empresa afirma que acusações não têm fundamento
A Polícia Federal (PF) entregou à Justiça, no domingo (19.jul.2015), o
relatório das investigações sobre a participação da Andrade Gutierrez em
esquemas de corrupção na Petrobras. Nove pessoas foram indiciadas pelos
crimes de corrupção, formação de cartel, fraude em licitações e lavagem
de dinheiro. Entre elas, estão o presidente da construtora, Otávio
Marques de Azevedo, e o executivo Elton Negrão, que cumprem prisão
preventiva em Curitiba. Em nota, a empreiteira negou “qualquer relação
com os fatos investigados pela Lava-Jato”.
Em documento encaminhado à Ministério Público Federal no domingo
(19.jul.2015), o delegado Eduardo Mauat da Silva reconheceu que os
agentes federais não analisaram todo o material apreendido nas empresas e
nos endereços residenciais dos indiciados: “Oferecemos o presente
sumário a vista do exíguo prazo decorrente da segregação provisória dos
indiciados, em que pese constem celulares, mídias e alguns documentos
pendentes de análise”.
Além de Otávio, entrou na lista da PF Elton Negrão de Azevedo Júnior,
executivo da empresa. Os dois são os únicos da lista da Andrade que
estão presos. Foram indiciados ainda Rogério Nora de Sá, ex-presidente
do grupo, e os ex-executivos Antônio Pedro Campello de Souza e Paulo
Roberto Dalmazzo.
Do grupo de operadores do esquema da Andrade Gutierrez, foram citados:
Flávio Lúcio Magalhães, Mário Goes, Lucélio Goes e Fernando Soares,
conhecido como Fernando Baiano. Mário e Fernando Baiano também estão
presos em Curitiba, pois já foram citados como operadores de outras
empresas.
Também terminou no fim de semana o prazo para a PF apresentar o relatório das investigações contra a empresa Odebrecht.
Após a entrega desse relatório, o Ministério Público Federal tem cinco
dias para analisá-lo e apresentar a denúncia — o que deve acontecer na
próxima sexta-feira (24.jul.2015). Em seguida, o juiz Sérgio Moro, da
13ª Vara Federal, vai decidir se aceita o pedido do MPF. Se ele aceitar a
denúncia, os empreiteiros viram réus e passam a ser formalmente
acusados pela prática dos crimes.
Presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, deixa a sede da PF em São Paulo - 19/05/2015 - |
IRREGULARIDADES EM QUATRO CONTRATOS
O relatório aponta indícios de irregularidades em quatro contratos
firmados entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, de 2008 a 2011. São
citadas obras feitas pela empresa no Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj) e na Refinaria de Paulínia (Replan). A investigação
afirma que o resultado dessas licitações foi determinado previamente
pelo cartel montado pelas construtoras investigadas na Lava-Jato para
dividir os editais da estatal.
Para justificar o indiciamento, os agentes federais usaram informações
passadas por delatores da operação. Segundo eles, a empreiteira pagou
propina para diretores da Petrobras; parte desse dinheiro iria para
partidos políticos. Em uma das movimentações financeiras descritas no
relatório, a Andrade Gutierrez contratou a Rio Marine para uma
consultoria. A análise do contrato pelos peritos, porém, mostrou que “os
pagamentos listados foram realizados sem lastro fático e documental
adequado”. A Rio Marine pertence a Mário Goes.
Mário e seu filho, Lucélio Goes foram indiciados como operadores do
pagamento de propina da Andrade. Também foi apontado como responsável
pela mesma função Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e já
investigado pela operação Lava-Jato por estar envolvido em operações
financeiras de outros grupos.
O executivo da Andrade Elton Negrão e o ex-funcionário da construtora
Antônio Pedro Campello de Souza e Elton Negrão são apontados pela
investigação da PF como “contatos para o recebimento de propinas e
participação de reuniões do cartel", tendo defendido a real existência
de serviços prestados pelos operadores. Embora não trabalhe na
companhia, Paulo Dalmazzo também é citado como um contato da construtora
por delatores.
Flavio Lucio Magalhães é relatado como um operador, que teve contatos
com o doleiro Alberto Youssef e com Leonardo Meirelles, utilizado por
Youssef para fazer operações cambiais fraudulentas no exterior.
Já o presidente da Andrade, Otávio Marques de Azevedo, foi indiciado por
ter comprado uma lancha para Fernando Baiano, o que comprovaria sua
relação com o operador. Assim como ele, o ex-presidente da empreiteira,
Rogério Nora de Sá, foi indiciado porque, na opinião dos investigadores
da PF, os esquemas de corrupção não eram “mera iniciativa de algum
executivo de forma isolada e em benefício próprio, hão de ser entendidos
como atos de gestão do grupo Andrade Gutierrez”.
O presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, indiciado
pela PF por vários crimes, negou ter relações de amizade com o lobista
Fernando Soares, o Fernando Baiano. Mas o executivo não explicou, no
depoimento à PF, porque, em outubro de 2012, vendeu um barco de sua
propriedade para Baiano por R$ 1,5 milhão. Baiano, que também foi
indiciado no mesmo inquérito, é acusado de ser um dos operadores da
Andrade junto à Petrobras.
PRESIDENTE NEGA PROPINA
Em depoimento ao delegado Eduardo Mauat da Silva, Otávio negou ter feito
parte do esquema para fraudar licitações da Petrobras. Ele diz que
nunca pagou vantagens ilícitas a funcionários e dirigentes da Petrobras e
que, tão logo foi deflagrada a Lava-Jato, foi realizada uma auditoria
interna que constatou que a empresa não teria envolvimento com os
ilícitos.
Otávio negou ter relações de amizade com Fernando Baiano, mas não
explicou porque, em outubro de 2012, vendeu um barco de sua propriedade
para Baiano por R$ 1,5 milhão. Baiano, que também foi indiciado ontem no
mesmo inquérito, é acusado de ser um dos operadores da Andrade junto à
Petrobras.
O presidente da Andrade reconheceu que participou de reunião com o
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, réu
confesso na Lava-Jato. Otávio disse que a reunião tinha “finalidade de
tratar da posição da empresa perante a Petrobras, sendo ponderado que a
Andrade deveria ter participação maior nas obras da estatal”.
Outro diretor da Andrade Gutierrez preso na Lava-Jato, Elton Negrão de
Azevedo Junior, admitiu ter participado de reuniões com outras
empreiteiras para debater assuntos “de interesse comum”. No depoimento à
PF, Negrão disse que as reuniões não se tratavam de ajustes das
empreiteiras, mas sim de discutir reajustes dos contratos com a
Petrobras que, segundo ele, não estavam seguindo a inflação. Ele negou
ter pago propinas a diretores da estatal.
NOTA DA ANDRADE GUTTIEREZ
Em nota, a Andrade Gutierrez reafirma “que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Lava-Jato”.
“A empresa reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude
em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a
quem quer que seja. A empresa reafirma ainda que não existem
fundamentos ou prova que justifiquem a prisão e o indiciamento de seus
executivos e ex-executivos. A Andrade Gutierrez volta a afirmar que
sempre esteve à disposição das autoridades para colaborar com as
investigações e esclarecer todas as dúvidas o mais rapidamente possível,
restabelecendo de vez a verdade dos fatos e a inocência da empresa e de
seus executivos”.
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