quinta-feira, 30 de julho de 2015


Os inconfiáveis

José Roberto de Toledo
Como faz todo ano desde 2009, o Ibope divulgará em breve o termômetro de quanto o Brasil confia em suas instituições. Ou melhor, desconfia. O Índice de Confiança Social de 2015 mostrará queda abrupta do prestígio de tudo relacionado à política. Houve mais quebras de recordes do que nos Jogos Pan-Americanos – todos negativos. Ruim para Dilma Rousseff, a pesquisa mostra o rival e presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mal no pódio também.
Congresso Nacional e Presidência da República desmancharam aos olhos do público. Numa escala em que 0 é desconfiança total e 100 implica confiança absoluta, ambos empataram em míseros 22 pontos. A confiança na instituição Presidência, comandada por Dilma, caiu pela metade desde 2014. Tinha 44 e perdeu 22 pontos. Já a nos congressistas chefiados por Cunha e Renan Calheiros perdeu 13 dos 35 pontos que tinha. Uma votação de impeachment da presidente será o roto decidindo o destino do esfarrapado.
É a primeira vez, em sete anos de pesquisa, que a Presidência não é mais confiável para a população do que o Congresso. O auge de ambas as instituições foi em 2010, ainda sob Luiz Inácio Lula da Silva, quando a primeira marcou 69 pontos, e o Legislativo, 38. Em 2013, no pico dos protestos de rua, ambos perderam muita confiança do público e chegaram ao seu patamar mais baixo até então: 42 e 29 pontos, respectivamente. Recuperaram-se levemente em 2014 (foram a 44 e a 35), apenas para cair mais baixo agora.
Dilma quebrou outro recorde. Pela primeira vez, a instituição que representa, a Presidência da República, é menos confiável do que o governo que dirige. De 2009 a 2012, a Presidência ficou de 7 a 13 pontos acima do governo federal. O presidente tinha mais prestígio do que sua equipe. Após a avalanche das ruas solapar a popularidade presidencial em 2013, essa diferença caiu a um ponto, e permaneceu assim em 2014. Este ano, a confiança no governo está 8 pontos maior do que na presidente: 22 a 30.
A crise de confiança não se limitou a Brasília. Os governos municipais também sofreram desgaste, e não foi pequeno. O aumento da desconfiança fez os poderes executivos locais perderem 9 dos 42 pontos que tinham no índice. Apesar de terem sido reduzidos a 33 pontos, estão menos mal colocados do que quase todas as outras instituições. Mesmo assim, a marca projeta dificuldades para os atuais prefeitos se reelegerem em 2016.
“Houve uma diminuição da confiança nas instituições políticas como um todo”, avalia a CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari. Na sua opinião, a causa mais provável é a recente sucessão de escândalos envolvendo políticos. Isso explicaria por que a recuperação parcial da confiança em 2014 não se sustentou.
A corroborar essa hipótese, uma instituição manteve-se como a recordista da desconfiança entre os brasileiros. Mais indigente do que a confiança na Presidência e no Congresso, só a nos partidos políticos. Seu prestígio esfarelou: de 30 para 17 pontos, em um ano. Para cair abaixo disso, só se uma caravana de políticos brasileiros fizer um safári ilegal na África para – como o dentista de Minnesota (EUA) – caçar, matar e esfolar Cecil, o leão-símbolo do Zimbábue. Amantes da bala não faltam.
Em tempos de Operação Lava Jato, o Judiciário é a única instituição, entre os Poderes da República, que conseguiu, a duras penas, manter o mesmo patamar de confiança de anos anteriores: foi de 46 pontos em 2013, para 48 no ano passado, e voltou agora a 46. No seu auge, em 2010, chegou a 53, mas era apenas a 3.ª instituição política que mais inspirava confiança. Agora, apesar da piora do índice, ganhou medalha de ouro. É o que se pode chamar de vitória por W.O. – não tem oponente.
A pesquisa do Índice de Confiança Social foi feita pelo Ibope entre 16 e 22 de julho, em 142 municípios de todo o Brasil.


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