Os inconfiáveis
José Roberto de Toledo |
Como faz todo ano desde 2009, o Ibope divulgará em breve o termômetro de
quanto o Brasil confia em suas instituições. Ou melhor, desconfia. O
Índice de Confiança Social de 2015 mostrará queda abrupta do prestígio
de tudo relacionado à política. Houve mais quebras de recordes do que
nos Jogos Pan-Americanos – todos negativos. Ruim para Dilma Rousseff, a
pesquisa mostra o rival e presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mal no
pódio também.
Congresso Nacional e Presidência da República desmancharam aos olhos do
público. Numa escala em que 0 é desconfiança total e 100 implica
confiança absoluta, ambos empataram em míseros 22 pontos. A confiança na
instituição Presidência, comandada por Dilma, caiu pela metade desde
2014. Tinha 44 e perdeu 22 pontos. Já a nos congressistas chefiados por
Cunha e Renan Calheiros perdeu 13 dos 35 pontos que tinha. Uma votação
de impeachment da presidente será o roto decidindo o destino do
esfarrapado.
É a primeira vez, em sete anos de pesquisa, que a Presidência não é mais
confiável para a população do que o Congresso. O auge de ambas as
instituições foi em 2010, ainda sob Luiz Inácio Lula da Silva, quando a
primeira marcou 69 pontos, e o Legislativo, 38. Em 2013, no pico dos
protestos de rua, ambos perderam muita confiança do público e chegaram
ao seu patamar mais baixo até então: 42 e 29 pontos, respectivamente.
Recuperaram-se levemente em 2014 (foram a 44 e a 35), apenas para cair
mais baixo agora.
Dilma quebrou outro recorde. Pela primeira vez, a instituição que
representa, a Presidência da República, é menos confiável do que o
governo que dirige. De 2009 a 2012, a Presidência ficou de 7 a 13 pontos
acima do governo federal. O presidente tinha mais prestígio do que sua
equipe. Após a avalanche das ruas solapar a popularidade presidencial em
2013, essa diferença caiu a um ponto, e permaneceu assim em 2014. Este
ano, a confiança no governo está 8 pontos maior do que na presidente: 22
a 30.
A crise de confiança não se limitou a Brasília. Os governos municipais
também sofreram desgaste, e não foi pequeno. O aumento da desconfiança
fez os poderes executivos locais perderem 9 dos 42 pontos que tinham no
índice. Apesar de terem sido reduzidos a 33 pontos, estão menos mal
colocados do que quase todas as outras instituições. Mesmo assim, a
marca projeta dificuldades para os atuais prefeitos se reelegerem em
2016.
“Houve uma diminuição da confiança nas instituições políticas como um
todo”, avalia a CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari. Na sua
opinião, a causa mais provável é a recente sucessão de escândalos
envolvendo políticos. Isso explicaria por que a recuperação parcial da
confiança em 2014 não se sustentou.
A corroborar essa hipótese, uma instituição manteve-se como a recordista
da desconfiança entre os brasileiros. Mais indigente do que a confiança
na Presidência e no Congresso, só a nos partidos políticos. Seu
prestígio esfarelou: de 30 para 17 pontos, em um ano. Para cair abaixo
disso, só se uma caravana de políticos brasileiros fizer um safári
ilegal na África para – como o dentista de Minnesota (EUA) – caçar,
matar e esfolar Cecil, o leão-símbolo do Zimbábue. Amantes da bala não
faltam.
Em tempos de Operação Lava Jato, o Judiciário é a única instituição,
entre os Poderes da República, que conseguiu, a duras penas, manter o
mesmo patamar de confiança de anos anteriores: foi de 46 pontos em 2013,
para 48 no ano passado, e voltou agora a 46. No seu auge, em 2010,
chegou a 53, mas era apenas a 3.ª instituição política que mais
inspirava confiança. Agora, apesar da piora do índice, ganhou medalha de
ouro. É o que se pode chamar de vitória por W.O. – não tem oponente.
A pesquisa do Índice de Confiança Social foi feita pelo Ibope entre 16 e 22 de julho, em 142 municípios de todo o Brasil.
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