Nova regra do INSS alivia contas de Dilma, mas apenas no curto prazo
Em um momento de derrotas do governo no Congresso, que cria bombas
fiscais como o aumento de R$ 25,7 bilhões para servidores do Judiciário
nos próximos quatro anos, a nova fórmula para cálculo das aposentadorias
pode ser vista como um refresco para as contas públicas.
Mas no curto prazo.
A regra 85/95 garantirá uma economia de R$ 12,2 bilhões até o final do
segundo mandato de Dilma, segundo dados obtidos pela reportagem.
Pela proposta, quando a soma entre o tempo de contribuição e a idade for
85, para mulheres, e 95, para homens, é possível pedir aposentadoria
pelo valor mais alto (média dos 80% maiores salários de contribuição
desde julho/94).
A MP enviada pelo governo alterou a fórmula fixa aprovada pelo Congresso
e estabeleceu que a soma subirá progressivamente até atingir 90/100.
O sucessor da petista será ainda mais beneficiado, com reduções de
gastos de R$ 26 bilhões. Projeções do Ministério da Previdência mostram
que a economia se mantém nos dois quadriênios seguintes (veja gráfico).
O alarme começa a soar depois de 2030.
Entre 2031 e 2034, a nova fórmula passa a gerar gastos extras de R$ 10,2
bilhões. Isso já fez o governo avisar que a proposta, enviada ao
Congresso como medida provisória, terá de ser revisada.
A elevação de gastos nos anos seguintes torna-se, segundo o ministro
Carlos Gabas (Previdência), "insustentável" e vira uma "ameaça" à
sustentabilidade da Previdência.
CORRIDA
A mudança da forma de cálculo, segundo Gabas, levou a uma corrida aos
postos da Previdência: cresceram 100% as consultas sobre se vale a pena
se aposentar agora. Em sua opinião, a tendência é que as consultas não
se transformem em pedidos de aposentadorias.
Se depender das centrais sindicais, porém, o governo terá novas batalhas
no Congresso. CUT e Força Sindical vão tentar derrubar a
progressividade e voltar ao modelo fixo vetado por Dilma.
"A progressividade pode se transformar em algo pior do que o fator
previdenciário (mecanismo atual que procura retardar o pedido de
aposentadoria)", afirma o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
Carmen Foro, presidente interina da CUT, concorda. Torres defende uma
revisão da regra 85/95 dentro de cinco a seis anos.
Gabas afirma que o governo vai tentar convencer o Congresso a aprovar a MP da forma como está.
"Além de possíveis mudanças no Congresso, a nova regra pode ser alvo de
judicialização. Quem já está aposentado pode reivindicar a aplicação da
regra, mais favorável que a atual. É difícil ganhar, mas isso é igual um
jogo entre o Barcelona e um time pequeno. A gente sabe quem vai ganhar,
mas precisa entrar em campo e jogar", avalia o especialista em
previdência Marcelo Caetano.
ENTENDA O NOVO CÁLCULO DA APOSENTADORIA
A presidente Dilma Rousseff editou a medida provisória 676, que cria uma
alternativa à chamada fórmula 85/95 aprovada pelo Congresso e vetada
por ela; com as alterações, o valor dessa soma vai subir um ponto em
2017, outro ponto em 2019 e, a partir de então, um ponto a cada ano até
chegar a 90/100 em 2022.
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