Receita Federal recomenda quebra dos
sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo de Luís Cláudio
Lula da Silva — auditores sugerem que as mesmas medidas sejam adotadas
em relação ao restaurante Sanfelice Comércio de Massa Artesanal, que
está em nome de Myriam Carvalho, filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro
e ex-chefe de gabinete de Lula
A Receita Federal recomendou ao Ministério Público Federal que peça a
quebra dos sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo, que tem
como sócio Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Os auditores que trabalham nas investigações da
Operação Zelotes também sugerem que as mesmas medidas sejam adotadas em
relação ao restaurante Sanfelice Comércio de Massa Artesanal, que está
em nome de Myriam Carvalho, filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro e
ex-chefe de gabinete de Lula.
Nos dois casos, a recomendação é que as quebras sejam feitas entre 2008 e
2015, abarcando todo o período de funcionamento das empresas. Ambas
foram abertas em 2011.
As solicitações, da área de Inteligência da Receita, foram encaminhados
aos procuradores da República que atuam na força-tarefa da Zelotes. Cabe
a eles enviar os pedidos à Justiça Federal. A reportagem apurou que a
autorização seria solicitada em pedido apartado dos que resultaram na
nova fase da operação deflagrada. Procurado, o Ministério Público
Federal não se pronunciou a respeito.
A empresa do filho de Lula entrou no foco das investigações após a
descoberta de que recebeu repasses da Marcondes & Mautoni
Empreendimentos, empresa de lobby contratada por montadoras de veículos
para, supostamente, "comprar" medidas provisórias nos governos de Lula e
da presidente Dilma Rousseff. A quebra de sigilo da Marcondes revelou a
transferência de ao menos R$ 1,5 milhão para a LFT em 2014.
Os investigadores querem levantar outras eventuais fontes de receita da
empresa de Luís Claudio, além do destino do dinheiro recebido da
Marcondes & Mautoni. A suspeita é de que os repasses para a LFT
tenham relação com a MP 627/2013, uma das três normas que teriam sido
encomendadas pelo setor automotivo. Por causa dos indícios de
irregularidade, a Justiça autorizou busca e apreensão na sede da
empresa, em São Paulo. No escritório, também funcionam outras duas
firmas de Luís Cláudio (Touchdown e Cassaro).
A defesa de Luís Cláudio nega irregularidades nos contratos.
Transferência. Foi a equipe da Receita que descobriu a transferência de
dinheiro da Marcondes & Mautoni para a LFT. Segundo relatório da
investigação, a empresa não tem funcionários, não fez pagamento de
salários ou recolheu contribuição previdenciária de empregados.
Questionado pela reportagem no início do mês, o filho de Lula confirmou
ter recebido R$ 2,4 milhões da Mautoni por serviços prestados em sua
área de atuação. Os recursos seriam referentes ao período de 2014 e
2015.
Em 2014, 97% do que a Mautoni faturou veio de contratos com montadoras. O
dinheiro que saiu da empresa em 2014, segundo relatórios da Receita,
foi para os sócios e o filho de Lula. Os advogados da LFT informaram
que, "infelizmente", não poderiam comentar a recomendação de quebra de
sigilos, pois se trata de algo que desconhecem.
Os pedidos sobre o restaurante Sanfelice, em nome da filha do
ex-ministro Gilberto Carvalho, seguem a mesma lógica. Os investigadores
querem saber se o petista usou a empresa em nome da filha para receber
dinheiro da Marcondes & Mautoni.
Documentos apreendidos em fases anteriores da Zelotes mostram o nome do
ex-chefe de gabinete de Lula associado a inscrições sobre a MP 471, de
2009, editada pelo então presidente. Para os investigadores, havia um
"conluio" entre ele e a consultoria na defesa de "interesses do setor
automobilístico".
Segundo dados públicos da Receita, o restaurante foi aberto em 25 de
maio de 2011, em Brasília, com capital de R$ 20 mil, e tem como sócios
Myriam e Gabriel de Albuquerque Carvalho. A cantina vende massas
congeladas para preparo em casa e chegou a ter uma filial, funcionando
como restaurante, fechada recentemente.
A reportagem não conseguiu contato com Carvalho ou com os sócios do
restaurante. O ex-ministro nega conluio com os investigados e sustenta
nunca ter feito gestões a respeito no governo ou recebido valores do
grupo.
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