Em 'Diários da Presidência', o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que nenhum
presidente governa sem o PMDB e que 'não dá para governar o
Brasil com um grupo de amigos', porque não se tem o
distanciamento para 'fazer o que deve ser feito' com eles.
Os relatos fazem parte do primeiro dos quatro volumes do livro "Diários da Presidência", série de quatro livros com os registros do cotidiano do poder nos primeiros dois anos do governo do tucano FHC, entre 1995 e 1996, a ser lançado neste mês (29.out.2015) pela Companhia das Letras.
Os relatos fazem parte do primeiro dos quatro volumes do livro "Diários da Presidência", série de quatro livros com os registros do cotidiano do poder nos primeiros dois anos do governo do tucano FHC, entre 1995 e 1996, a ser lançado neste mês (29.out.2015) pela Companhia das Letras.
O então presidente FHC recebe José Serra, na época, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, no Palácio do Planalto |
No primeiro biênio de sua passagem pelo Palácio do Planalto (1995 —
1996), o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
vaticinava o que ele próprio, além de seus sucessores petistas Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, viveriam: não se governa o
Brasil sem o PMDB na base de apoio legislativo. A avaliação faz
parte do primeiro volume de Diários da Presidência, série de quatro
livros com os registros do cotidiano do tucano na chefia do
Executivo federal, a ser lançada no dia 29 de outubro pela Companhia
das Letras.
"Essa base de apoio eu a estendi depois das eleições e peguei o PMDB, uma parte importante do PMDB, e vejo assim o futuro também. Seja eu o presidente ou outro que venha a me suceder , ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio", anotou FHC em registro de 25 de julho de 1996, ao relatar uma reunião com deputados do PMDB. O ex-presidente, embora reconhecesse o papel fundamental do PMDB para compor a base do governo, reclamava da dificuldade de negociar com o partido, por causa de suas divisões internas.
Participaram daquela reunião os hoje tucanos Aloysio Nunes Ferreira, atual senador por São Paulo, e Alberto Goldman, ex-governador paulista, além de Luís Carlos Santos, membro da coordenação política do governo, e o hoje vice-presidente Michel Temer, que no ano seguinte seria eleito presidente da Câmara, com apoio do Planalto.
Na mesma reunião, FHC fez um alerta aos interlocutores: "É melhor que o PMDB se fortaleça nas mãos de gente que não seja caudilho local, tipo (Orestes) Quércia, ou que não fique na base da corrupção. Eles concordaram".
Em outro trecho do livro, em 2 de agosto do ano seguinte, FHC fala sobre o quanto é "delicado" negociar o apoio dos peemedebistas. "À tarde recebi o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que veio falar da situação desesperadora de seu estado. Mas veio mesmo conversar um pouco mais sobre política e dizer que eu tenho que tomar uma decisão sobre a sucessão no Senado. Por quê? Porque o PMDB está um pouco dividido, eles desconfiam que o Sarney esteja apoiando o Antônio Carlos (Magalhães), o Jader (Barbalho) está um pouco preocupado com o Sarney". A disputa, no ano seguinte, foi vencida por ACM.
Fogo amigo. Ao longo das quase 900 páginas do primeiro volume, FHC também reclama do seu próprio partido, o PSDB. Para o ex-presidente, os integrantes da legenda reclamavam muito e não ajudavam como deveriam no Congresso. "O PSDB se queixa do de sempre, falta de atenção (...) O PSDB tem que assumir a bandeira do governo, e não tem assumido", disse o presidente depois de uma reunião com dirigentes tucanos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confessa em seus diários sobre o exercício da Presidência da República que é difícil governar "com os amigos", porque não se tem o distanciamento para "fazer o que deve ser feito" com eles. O tucano narra disputas internas em sua primeira gestão, avalia que elas minam sua autoridade e reclama da mesquinharia nas negociações políticas.
Em vários trechos da obra "Diários da Presidência", o ex-presidente tucano reclama das fofocas e rusgas internas e o consequente desgaste para o governo. No diário, FHC chega a se dizer "amargurado" pelo clima entre seus principais ministros, a maioria amigos pessoais, que engrenaram numa disputa por discordâncias ideológicas, políticas e de estilo.
"O que sempre atrapalha, no processo político, são as questões pessoais, as vaidades, às vezes as ambições, e os mais próximos são os que mais nos machucam e atrapalham, porque a gente não tem o distanciamento para poder fazer o que deve ser feito", confessa o ex-presidente.
FHC demonstra dificuldades em encaixar em seu governo o amigo José Serra, na época chefe do Planejamento, especialmente no Ministério da Fazenda.
O ex-presidente diz ter sido sincero em uma conversa com o atual senador: "Disse, com toda franqueza, que só via duas maneiras de ele entrar no Ministério da Fazenda: ou provocando uma crise, porque a sua entrada provocaria a crise, ou depois de uma crise, para solucionar um impasse. Portanto, se algum ministro fracassasse, ele seria chamado".
Mesmo assim, FHC queria o amigo no governo e disse que não havia "sentido algum, em um governo meu, você longe, dado o tipo de relacionamento que temos e a enorme capacidade que você tem".
Pelos planos do ex-presidente, Serra deveria ir para um ministério com visibilidade, como Educação ou Saúde. "Meu raciocínio era o seguinte: Serra tem grande potencial político eleitoral, diferentemente dos outros da equipe econômica".
Ele também narra em detalhes uma série de desentendimentos entre seus ministros. Serra tinha uma série de discordâncias com Pedro Malan (Fazenda), por exemplo. Num desses episódios, FHC chega a dizer que os dois travavam um "braço de ferro inútil".
Outro personagem recorrente nas discussões é o ex-ministro Sério Motta (Comunicações). "Nesses últimos dias fiquei atazanado, e mesmo amargurado, com a relação tão difícil entre mim, Serra e o Sérgio [Motta]", narra FHC.
Para o ex-presidente, "os inimigos dão menos trabalho do que os amigos próximos." "Todo mundo sabe disso, mas é duro sentir na pele". Em tom de desabafo, diz que não "não dá para governar o Brasil com um grupo de amigos" e narra um pito que deu nos ministros mais próximos durante uma reunião.
"Vocês têm ministérios excelentes, são excelentes ministros (...) dediquem-se a isso, meu Deus do céu. (...) Aqui entre nós, todas as coisas recaem sobre a minha cabeça, vão minando minha autoridade".
"Essa base de apoio eu a estendi depois das eleições e peguei o PMDB, uma parte importante do PMDB, e vejo assim o futuro também. Seja eu o presidente ou outro que venha a me suceder , ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio", anotou FHC em registro de 25 de julho de 1996, ao relatar uma reunião com deputados do PMDB. O ex-presidente, embora reconhecesse o papel fundamental do PMDB para compor a base do governo, reclamava da dificuldade de negociar com o partido, por causa de suas divisões internas.
Participaram daquela reunião os hoje tucanos Aloysio Nunes Ferreira, atual senador por São Paulo, e Alberto Goldman, ex-governador paulista, além de Luís Carlos Santos, membro da coordenação política do governo, e o hoje vice-presidente Michel Temer, que no ano seguinte seria eleito presidente da Câmara, com apoio do Planalto.
Na mesma reunião, FHC fez um alerta aos interlocutores: "É melhor que o PMDB se fortaleça nas mãos de gente que não seja caudilho local, tipo (Orestes) Quércia, ou que não fique na base da corrupção. Eles concordaram".
Em outro trecho do livro, em 2 de agosto do ano seguinte, FHC fala sobre o quanto é "delicado" negociar o apoio dos peemedebistas. "À tarde recebi o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que veio falar da situação desesperadora de seu estado. Mas veio mesmo conversar um pouco mais sobre política e dizer que eu tenho que tomar uma decisão sobre a sucessão no Senado. Por quê? Porque o PMDB está um pouco dividido, eles desconfiam que o Sarney esteja apoiando o Antônio Carlos (Magalhães), o Jader (Barbalho) está um pouco preocupado com o Sarney". A disputa, no ano seguinte, foi vencida por ACM.
Fogo amigo. Ao longo das quase 900 páginas do primeiro volume, FHC também reclama do seu próprio partido, o PSDB. Para o ex-presidente, os integrantes da legenda reclamavam muito e não ajudavam como deveriam no Congresso. "O PSDB se queixa do de sempre, falta de atenção (...) O PSDB tem que assumir a bandeira do governo, e não tem assumido", disse o presidente depois de uma reunião com dirigentes tucanos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confessa em seus diários sobre o exercício da Presidência da República que é difícil governar "com os amigos", porque não se tem o distanciamento para "fazer o que deve ser feito" com eles. O tucano narra disputas internas em sua primeira gestão, avalia que elas minam sua autoridade e reclama da mesquinharia nas negociações políticas.
Em vários trechos da obra "Diários da Presidência", o ex-presidente tucano reclama das fofocas e rusgas internas e o consequente desgaste para o governo. No diário, FHC chega a se dizer "amargurado" pelo clima entre seus principais ministros, a maioria amigos pessoais, que engrenaram numa disputa por discordâncias ideológicas, políticas e de estilo.
"O que sempre atrapalha, no processo político, são as questões pessoais, as vaidades, às vezes as ambições, e os mais próximos são os que mais nos machucam e atrapalham, porque a gente não tem o distanciamento para poder fazer o que deve ser feito", confessa o ex-presidente.
FHC demonstra dificuldades em encaixar em seu governo o amigo José Serra, na época chefe do Planejamento, especialmente no Ministério da Fazenda.
O ex-presidente diz ter sido sincero em uma conversa com o atual senador: "Disse, com toda franqueza, que só via duas maneiras de ele entrar no Ministério da Fazenda: ou provocando uma crise, porque a sua entrada provocaria a crise, ou depois de uma crise, para solucionar um impasse. Portanto, se algum ministro fracassasse, ele seria chamado".
Mesmo assim, FHC queria o amigo no governo e disse que não havia "sentido algum, em um governo meu, você longe, dado o tipo de relacionamento que temos e a enorme capacidade que você tem".
Pelos planos do ex-presidente, Serra deveria ir para um ministério com visibilidade, como Educação ou Saúde. "Meu raciocínio era o seguinte: Serra tem grande potencial político eleitoral, diferentemente dos outros da equipe econômica".
Ele também narra em detalhes uma série de desentendimentos entre seus ministros. Serra tinha uma série de discordâncias com Pedro Malan (Fazenda), por exemplo. Num desses episódios, FHC chega a dizer que os dois travavam um "braço de ferro inútil".
Outro personagem recorrente nas discussões é o ex-ministro Sério Motta (Comunicações). "Nesses últimos dias fiquei atazanado, e mesmo amargurado, com a relação tão difícil entre mim, Serra e o Sérgio [Motta]", narra FHC.
Para o ex-presidente, "os inimigos dão menos trabalho do que os amigos próximos." "Todo mundo sabe disso, mas é duro sentir na pele". Em tom de desabafo, diz que não "não dá para governar o Brasil com um grupo de amigos" e narra um pito que deu nos ministros mais próximos durante uma reunião.
"Vocês têm ministérios excelentes, são excelentes ministros (...) dediquem-se a isso, meu Deus do céu. (...) Aqui entre nós, todas as coisas recaem sobre a minha cabeça, vão minando minha autoridade".
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