Chute na imagem da padroeira do Brasil choca país e é reprovado por religiosos
Em 1995, agressão de Sérgio Von Helde à
Nossa Senhora Aparecida foi condenada até pelo ‘bispo’ Edir Macedo.
Pastor rompeu com Igreja Universal e aderiu a outra denominação
No dia 12 de outubro de 1995, dia consagrado à Nossa Senhora Aparecida, o
pastor Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, chocou o
país ao chutar uma imagem da padroeira do Brasil no programa “Despertar
da fé”, na TV Record. Von Helde dizia que “era um erro o povo
brasileiro depositar suas esperanças em santos, ídolos ou imagens,
porque, segundo a Bíblia, tais ídolos não têm poder algum”. Em seguida,
passou a dar chutes na imagem afirmando que se tratava de um “pedaço de
gesso”.
Agressão. Pastor evangélico Sérgio Von Helde chuta imagem de Nossa Senhora Aparecida em programa de TV |
A repercussão foi imensa. A cena foi retransmitida por outras emissoras,
e líderes de várias religiões condenaram a atitude de Von Helde. Na
época, o presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o ato. “O Brasil é
um país democrático, conhecido pela tolerância religiosa, e sua força
está exatamente na capacidade de convivência com a diversidade. Qualquer
manifestação de intolerância fere esse espírito de convivência e,
também, o espírito cristão”, afirmou.
Inicialmente, Von Helde teve o apoio da Igreja Universal, mas as
manifestações contrárias, os ataques da população a templos da igreja e a
abertura de um processo criminal por desrespeito a objeto de culto
religioso levaram Edir Macedo, líder da Universal, a se desculpar com os
católicos. Em pronunciamento de cinco minutos na Rede Record, falando
do exterior por telefone e com uma fotografia exibida na tela, Macedo
pediu desculpas aos católicos e censurou duramente a atitude de Von
Helde.
A repercussão negativa fez com que Sérgio Von Helde deixasse o país,
levando-o a viver na África do Sul, no México, na Colômbia, na Venezuela
e nos Estados Unidos. O pastor foi condenado em 1997 a dois anos e dois
meses de prisão, por discriminação e vilipêndio à imagem. Foi a
primeira condenação no Brasil por discriminação religiosa. Na época, ele
morava nos Estados Unidos e recorreu da sentença, afirmando que não
havia chutado a santa, apenas teria colocado o pé na imagem para provar
que era de gesso.. Em 1999, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou
a sentença e condenou Von Helde a dois anos de prisão por incitação à
discriminação e ao preconceito religioso. No entanto, concordou em
suspender por dois anos a aplicação da pena e anulou a condenação por
vilipêndio de imagem religiosa. Segundo os juízes, o prazo para a
condenação por vilipêndio tinha acabado.
Durante o período no exterior, o pastor rompeu com a Igreja Universal e
tornou-se membro da Igreja da Restauração, fundada nos EUA. Von Helde
retornou em 2014, com a missão de ser o líder da nova igreja no Brasil.
No mesmo ano lançou o livro “Um chute na idolatria”, no qual faz duras
críticas à Igreja Católica e contesta dogmas como a existência do
purgatório, a ideia de que todos são filhos de Deus, o descanso após a
morte e a salvação dos hereges.
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