Joaquim Levy tornou-se um ministro ornamental
Josias de Souza |
Joaquim Levy tomou posse, em janeiro, como o ministro que dominaria o
governo com suas medidas de austeridade e responsabilidade fiscal.
Passados nove meses e meio, o titular da Fazenda tornou-se um ministro
ornamental. A situação de Levy vai ficando dramática, como admitiu um de
seus auxiliares, em conversa com um executivo do sistema financeiro na
quinta-feira (15.out.2015).
O executivo tocara o telefone para o membro da equipe de Levy, seu amigo
de duas décadas, para tomar-lhe o pulso depois que a agência de
classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito do Brasil. Ouviu
um desabafo que dá ideia da insatisfação que vigora no Ministério da
Fazenda. Avalia-se no ministério que o esforço para barrar o impeachment
leva o governo a negligenciar a crise econômica, agravando-a.
Quando o Brasil perdeu o selo de bom pagador da agência Standard &
Poor’s, a ficha do governo parecia ter caído, disse o auxiliar da
Fazenda. Mas os projetos da agenda econômica não saem do lugar no
Congresso. O personagem citou como exemplo o projeto de lei que cria
regras para a regularização de dinheiro enviado por brasileiros
ilegalmente para o exterior.
A proposta foi remetida à Câmara no início de setembro. Deveria tramitar
em regime de urgência. Mas encontra-se parada numa comissão especial.
Com essa iniciativa, o governo esperava arrecadar algo como R$ 11
bilhões ainda em 2015. Não vai rolar. Foi para o beleléu a perspectiva
da Fazenda de entregar um superávit primário de 0,15% do PIB neste ano.
Dá-se de barato que haverá déficit.
Nas palavras do auxiliar de Levy, a economia brasileira está em marcha a
ré e o governo, politicamente enfraquecido, não consegue engatar a
primeira marcha. Vigora na Fazenda, disse ele, uma sensação de ‘saco
cheio’ que vai do ministro ao porteiro. De dominante, Levy passou à
condição de ministro figurativo. Como se fosse pouco, virou alvo
preferencial de Lula, do PT e de suas ramificações nos movimentos
sindical e social.
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