Florianópolis estuda cobrar pedágio "ambiental" para que turistas tenham acesso às praias
Cobrança seria realizada no pedágio desativado da SC-401, em direção ao norte da ilha |
A polêmica é antiga na cidade, mas pela primeira vez a Prefeitura de
Florianópolis admite discutir para valer a ideia de implantar o chamado
pedágio ambiental para turistas durante a temporada. Quem está à frente
da proposta é o presidente da Companhia Melhoramentos da Capital
(Comcap), Marius Bagnati, após receber sinal verde do prefeito Cesar
Souza Junior (PSD).
O conceito seria o mesmo praticado em Bombinhas no Verão passado. A
intenção é adotar a cobrança eletrônica de R$ 23 por veículo de
visitante vindo de fora da Grande Florianópolis.
O sistema seria instalado no pedágio desativado da SC-401 (em direção ao
Norte da Ilha), na subida do Morro da Lagoa e no Rio Tavares e
organizado de forma a cobrar uma única vez por temporada. Com a
fotografia da placa do veículo, a fatura será encaminhada ao endereço do
visitante.
— Essa taxa seria paga por quem vem usufruir do patrimônio natural da
Ilha de Santa Catarina e não teria nenhum impacto sobre os residentes
nos municípios da Grande Florianópolis — explica Bagnati. Ao contrário,
diz ele, o pedágio custearia serviços extras de limpeza urbana e
segurança, que hoje são rateados apenas pelos contribuintes residentes.
Os moradores seriam, portanto, compensados de alguma forma pelas
dificuldades de locomoção, aumento de preços e sobrecarga de serviços
públicos durante a temporada. Num cálculo rápido, Bagnatti estima que
seria possível arrecadar algo em torno de R$ 9 milhões, considerando o
ingresso de 400 mil veículos no auge da temporada, entre os dias 23 de
dezembro e 10 de janeiro.
— É o preço de uma refeição em um restaurante a quilo da cidade. É um
valor muito baixo para quem quer vir passar uma temporada inteira aqui —
comenta.
O recurso seria carimbado exclusivamente para coleta de lixo — neste
período chega a 800 toneladas dias, diante das 600 toneladas no restante
do ano —, investimento em melhorias nas praias como banheiros e
chuveiros e repasse ao Estado para suplemento no pagamento das diárias
de guarda-vidas e Policiais Militares.
No início do ano, quando o vereador Roberto Katumi (PSB) levantou o
debate, foi bombardeado por críticas. A diferença, neste caso, é que
partindo do legislativo o projeto seria inconstitucional, porque
qualquer lei envolvendo mudança na arrecadação precisa ser de autoria do
Executivo. Os principais empecilhos para a proposta sair do papel são o
pouco tempo restante até a temporada de verão, além de depender da
aprovação da Câmara de Vereadores e da parceria do governo do Estado.
O prefeito de Florianópolis, César Souza Júnior (PSD), disse que a
proposta ainda é incipiente e será muito debatida, inclusive com os
moradores da cidade, antes da adoção. O valor não seria cobrado de
moradores da Grande Florianópolis.
Segundo ele, a medida não será aplicada no próximo verão.
— É uma decisão que não pode ser tomada em um canetaço, nem
individualmente. Ela precisa ser muito amadurecida. A prefeitura não
está determinada em fazer (esse pedágio), mas queremos abrir o debate.
Não se tem uma decisão tomada ainda — analisa César Souza Júnior.
Pedágio em Bombinhas já é realidade |
Pedágio de Bombinhas — poucos avanços e muitos questionamentos
Prestes a reiniciar a cobrança, no dia 15 de novembro, o pedágio
ambiental de Bombinhas permanece cercado por questionamentos. E o
primeiro deles está nas mãos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina
(TJSC), que, mais de um ano após ter recebido do Ministério Público
Estadual (MPSC) uma ação direta de inconstitucionalidade contra a lei
que instituiu a taxa, ainda não definiu se ela deveria ou não valer.
O MPSC argumenta, entre outros apontamentos, que falta isonomia na
cobrança devido à longa lista de exceções no pagamento e detalhes sobre a
aplicação dos valores recolhidos — situação que foi levada, inclusive, à
Câmara de Vereadores da cidade, que cobrou uma audiência pública para
apresentação dos números. Recentemente, o TJSC pediu à prefeitura que
apresente sua defesa. Mas o prazo para julgamento deve ultrapassar a
data prevista para reinício da cobrança.
O montante a ser arrecadado é vultoso, coisa de R$ 7 milhões. Mas quase
metade desse valor ainda não foi pago. Um dos problemas é a demora na
viabilização de um convênio para envio da cobrança pelos Correios,
através dos dados da placa do veículo. Até agora, o necessário acordo
com o Detran não foi viabilizado.
Com menos arrecadação do que o previsto, o resultado prático para o meio
ambiente, por enquanto, está restrito à temporada de verão. O dinheiro
arrecadado com a taxa é usado para limpeza de praias, instalação de
banheiros ecológicos e lixeiras. Enquanto isso, os cobiçados morros
cobertos de mata atlântica que cercam a cidade permanecem sem
monitoramento mais intenso e há esgoto sendo despejado no mar — denúncia
feita, também, na Câmara de Vereadores em setembro.
A próxima temporada poderá determinar se o volume de turistas foi ou não
afetado pela cobrança da taxa. O que se sabe é que, para a preservação
ambiental de Bombinhas, os avanços foram poucos.
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