Ninguém mais contrata Lula para dar
palestras — a Operação Lava Jato freou a contratação de Lula para
palestras; antes, era contratado para um evento pago a cada 18 dias.
Agora, a média caiu para um a cada 75 dias — nos primeiros cinco meses
do ano, só a cervejaria Petrópolis contribuiu para o pé-de-meia lulista.
Os efeitos da Operação Lava Jato atingiram os negócios do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, fazendo despencar suas palestras remuneradas.
Num intervalo de 15 meses, de março de 2014, quando a investigação foi
deflagrada, a junho de 2015, Lula foi contratado para apenas seis
palestras — uma média de um evento pago a cada 75 dias.
Ao longo dos cinco primeiros meses de 2015, Lula foi remunerado por
apenas uma palestra, bancada por uma cervejaria de Petrópolis (RJ).
Contratado por R$ 300 mil pelo Grupo Petrópolis, Lula saiu da toca e
baixou em Itapissuma em 17 de abril de 2015 para o que o patrocinador
batizou de “palestra motivacional para força de vendas da Cerveja
Itaipava”. Lula improvisou um comício de uma hora, embolsou a bolada,
decolou de volta para São Paulo e dispensou-se de registrar no site do
Instituto Lula a incursão por Pernambuco.
O Grupo Petrópolis é o mesmo que em 2014 ganhou um favor milionário do
governo, o empresário Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava,
conseguiu renegociar em 24 horas empréstimo camarada com o Banco do
Nordeste. Cinco dias depois, depositou R$ 5 milhões na conta do comitê
de campanha da então candidata petista Dilma Rousseff — a campanha
recebeu outros R$ 12,5 milhões, no total, Faria doou R$ 17,5 milhões;
tornou-se, assim, o quarto maior doador da campanha da presidente.
O quadro era muito diferente antes de 20 de março de 2014, quando foi
preso pela Polícia Federal o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
Costa, dias após a deflagração da Lava Jato. De 2011 até aquela data, o
ex-presidente havia proferido 64 palestras pagas, uma média de um evento
remunerado a cada 18 dias.
Os dados constam de um dossiê entregue pelo Instituto Lula ao Ministério
Público Federal no Distrito Federal, que investiga supostas
irregularidades na relação de Lula com empreiteiras brasileiras e
governos estrangeiros.
As empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras praticamente
desapareceram da carteira de clientes de Lula, que recebe por meio de
uma microempresa, a LILS Palestras, Eventos e Publicações.
O último evento pago pelas empresas de construção civil — em uma viagem
para Angola e Nigéria bancada pela construtora Norberto Odebrecht —
ocorreu há mais de um ano, em maio de 2014. Até então, empreiteiros,
incluindo Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, UTC Engenharia e Andrade
Gutierrez, haviam assumido os custos de 26 palestras e viagens do
ex-presidente.
Desde que os primeiros empreiteiros foram presos em decorrência da Lava
Jato, em novembro de 2014, até junho passado, Lula não recebeu mais
nenhuma palestra nem participou de nenhuma viagem paga por essas
empresas. No mesmo período, de cinco palestras realizadas, o
ex-presidente não foi remunerado em três ocasiões.
Antes da Lava Jato, as empreiteiras bancaram 38,6% das palestras remuneradas do ex-presidente.
Na investigação, o Ministério Público não indagou ao Instituto Lula os
valores recebidos por cada palestra. Reportagem da revista "Veja" de
agosto, que citou documento do Coaf, órgão de inteligência financeira
vinculado ao Ministério da Fazenda, indicou que a empresa de palestras
de Lula obteve R$ 27 milhões nos últimos quatro anos — a cifra não foi
contestada pelo Instituto Lula.
Segundo a documentação enviada pelo Instituto Lula aos procuradores da
República, nas viagens patrocinadas por empresas e também por alguns
governos, Lula reuniu-se com líderes políticos como o ex-presidente
norte-americano Bill Clinton e o ex-primeiro ministro francês François
Hollande. Em 2013 e 2014, Lula esteve duas vezes com o ex-ditador cubano
Fidel Castro e seu irmão, Raúl.
Telegramas sigilosos produzidos pelo Itamaraty e também enviados ao
Ministério Público registram parte da movimentação de Lula no exterior.
Um deles, classificado como secreto, traz uma descrição de Lula sobre
Fidel após o encontro de 2013.
O embaixador brasileiro em Havana, José Eduardo Felicio, disse que Lula
lhe contou que "o comandante lhe pareceu muito debilitado". Segundo
Lula, Fidel tinha dificuldades de locomoção e "intelectualmente não
demonstra incoerência, mas está repetitivo". "Em tom de lamento, o
ex-presidente [Lula] expressou: 'Fidel já é história'", escreveu o
embaixador.
A assessoria do Instituto Lula disse que o ex-presidente Lula se dedicou
mais, em 2014, "às atividades políticas" por se tratar de um ano
eleitoral e, em 2015, ao instituto e "a discutir o Plano Nacional de
Educação".
O instituto afirmou que o foco do ex-presidente "não é o lucro,
diferente de uma empresa privada", mas sim "trabalhar pelo Brasil,
sempre dentro da lei".
"Fazer palestras é apenas o exercício legal e legítimo que ele tem de ter um trabalho e uma fonte de renda".
Segundo o Instituto, Lula "fez um número maior de palestras em 2011,
depois reduziu suas atividades para se tratar de um câncer e para
participar das eleições municipais de 2012. Em 2013 fez mais palestras
novamente. Em 2014, ano eleitoral, o ex-presidente se dedicou mais às
atividades políticas".
O Instituto criticou o acesso que a reportagem teve aos documentos enviados pela entidade ao Ministério Público.
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