A tempestade adiada
O adiamento do início do processo de
alta dos juros nos EUA é fato positivo para o Brasil, mas há uma outra
tempestade, exclusivamente nossa, por aqui
O Brasil trocou de tempestade, mas as consequências são mais ou menos as
mesmas. Pior, duas tempestades perfeitas podem cruzar o território e aí
é possível que falte cinto de segurança.
Há alguns meses, certos analistas econômicos pesos pesados advertiam que
era iminente o início do processo de alta dos juros nos Estados Unidos.
Seria um movimento que pegaria a economia brasileira no contrapé, o
dólar se valorizaria em todo o mundo, seria inevitável uma fuga de
capitais do País e os juros para a rolagem da dívida estrangeira também
subiriam. Além disso, a alta do dólar puxaria para baixo os preços das
commodities, produtos que alcançam quase 50% das exportações
brasileiras.
Evolução do despejo da moeda americana no mercado |
Isto posto, de todo mundo – e não só os do Brasil – os olhares
voltavam-se para o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) à cata
de sinais que pudessem apontar quando afinal começaria a retirada de
dólares da economia e, com ela, a alta dos juros.
Para quem chegou agora, esses dólares a serem drenados do mercado fazem
parte de um descomunal estoque de US$ 3,5 trilhões que o Fed despejou a
partir de 2008, por meio da compra de títulos, para enfrentar a escassez
de moeda produzida pela crise financeira. O despejo foi suspenso em
outubro de 2014 e, de lá para cá, o Fed procura o momento certo para
iniciar o enxugamento.
A Ata da última reunião do Fed avisa que a autoridade monetária dos
Estados Unidos só está à espera de um aumento da inflação, que persiste
excepcionalmente baixa, em torno do 0,5% ao ano. Explicando melhor: o
Fed opera o volume de moeda na economia procurando conjugar dois
objetivos: baixo nível de desemprego e inflação em torno dos 2% ao ano. O
desemprego caiu de acima de 7,0% para 5,1% (dado de agosto), mas a
inflação segue teimosamente perto do zero por cento. Retirar moeda da
economia tenderia a rebaixar ainda mais a inflação, o que poderia
resvalar para a deflação, que ninguém quer, porque leva o consumidor a
adiar as compras, aumenta o valor das dívidas e tende a reduzir a
arrecadação.
É verdade que o principal fator que derrubou a inflação nos Estados
Unidos e nos demais países avançados foi o mergulho dos preços do
petróleo. Daí não se espera mais pressões baixistas, mas alguma coisa
nova parece acentuar a tendência ao achatamento dos preços. Pode ser,
por exemplo, o uso ainda mais intensivo de Tecnologia de Informação ou a
redução generalizada dos estoques.
Se a justificativa do Fed tem toda essa importância, então pode-se
trabalhar com a hipótese de que a operação de enxugamento de dólares não
acontecerá neste resto de ano e pode não acontecer antes de meados de
2016 – a depender das surpresas e dos imponderáveis que sobrevierem na
economia mundial. Ainda assim, não basta saber quando o processo será
iniciado. É preciso, também, saber qual será sua intensidade.
O sucessivo adiamento do início dessa tempestade é fato positivo para o
Brasil. Mas a outra tempestade, a exclusivamente nossa, continua aí,
castigando a economia e a população. Se esta não for debelada logo, o
risco é o de que tenhamos de lidar com as duas juntas.
A evolução das safras agrícolas nos sete últimos anos, em milhões de toneladas. |
Mais em menos área
As safras serão recordes não só em volume de produção, mas também em
produtividade por área de plantio. Nas contas divulgadas pelo IBGE, a
produção crescerá 8,8% numa área plantada de 57,7 milhões de hectares,
apenas 2,0% maior do que a de 2014. Também, a Conab divulgou a sua
primeira projeção para a safra de 2016. O volume total deve variar de
210,3 milhões a 213,5 milhões de toneladas, um aumento de até 1,7% sobre
a safra estimada para 2015.
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