Lula e o amigo lobista Bumlai tratam de contrato da Petrobrás —
Fernando Baiano diz que Lula reuniu-se com Bumlai e presidente da
Sete Brasil por contratos de navios-sonda — Baiano revelou que o
ex-presidente recebeu o amigo lobista pelo menos duas vezes no
Instituto Lula, em 2011, para discutir contratos que teriam
resultado em pagamentos de cerca de R$ 2 milhões para sua nora —
Fernando Baiano se comprometeu a apresentar documentos sobre a
operação bancária referente ao pagamento a nora de Lula
José Carlos Bumlai , o pecuarista amigão de Lula, para quem Lula
entregou em seu segundo mandato um crachá de trânsito livre no Palácio do Planalto. |
O operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o
Fernando Baiano, afirmou em sua delação premiada que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2010) se reuniu pelo menos duas
vezes com seu amigo, o pecuarista José Carlos Bumlai, e com João
Carlos Ferraz, então presidente da Sete Brasil — companhia criada
pela Petrobrás para construção de um pacote de 28 navios-sondas com
conteúdo nacional —, para tratar de negócios intermediados por ele,
em nome do grupo OSX — do empresário Eike Batista.
Segundo Fernando Baiano, os encontros ocorreram na sede Instituto
Lula, em São Paulo, no primeiro semestre de 2011, e antecederam a
cobrança de R$ 3 milhões por Bumlai para supostamente pagar uma
dívida de imóvel de uma nora do ex-presidente. Segundo Baiano,
Bumlai o pressionou para receber esse valor e alegou que precisava
saldar uma dívida imobiliária de uma nora de Lula, mas não revelou o
nome dela.
“Essa reunião [entre Lula, Bumlai e Ferraz] foi efetivamente
realizada em São Paulo no final do primeiro semestre de 2011”,
afirmou Fernando Baiano, em seu termo de delação premiada fechado
com a força-tarefa da Lava Jato. Ferraz queria tratar de negócios
intermediados por ele, em nome do grupo OSX, do empresário Eike
Batista. “Antes dessa reunião, o depoente [Baiano] encontrou João
Carlos Ferraz e Bumlai. Esse encontro ocorreu em um restaurante
italiano embaixo de um flat, onde almoçaram”, registra o termo de
deleção.
Segundo o delator, o local do encontro foi o Restaurante Tatini, no
Jardim Paulista, em São Paulo. “Bumlai orientou José Carlos Ferraz
sobre o que falar a Lula”, revelou baiano. “Depois José Carlos
Ferraz e Bumlai foram para a reunião com Lula; que essa reunião
ocorreu no Instituto Lula”, afirmou Fernando Baiano.
Ferraz era ex-funcionário da Petrobrás. Foi o primeiro presidente da
Sete Brasil, empresa criada pela Petrobrás com bancos e fundos de
pensão, para contratação de 28 navios-sonda pelo valor de US$ 22
bilhões.
Ferraz e outro ex-executivo da Sete Brasil, Eduardo Musa,
confessaram em delação premiada que que esses contratos envolveram
propina de 1%. Parte abasteceu os cofres do PT, contou o ex-gerente
de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco.
‘Mais velocidade’. “Ferraz disse que a reunião com Bumlai e Lula
tinha sido muito boa, que Ferraz teria feito uma boa exposição ao
ex-presidente sobre a Sete Brasil, sobre a importância da empresa
para a indústria naval brasileira e sobre as dificuldades
enfrentadas para colocar os projetos para frente”
Fernando Baiano contou que segundo relatos do ex-presidente da Sete
Brasil, Lula teria falado em “dar mais velocidade” nos assuntos da
empresa. “Ferraz disse que Lula foi bastante amável com ele e teria
assumido o compromisso de ajudar a dar mais velocidade nos assuntos
da Sete Brasil, para viabilizar uma consolidação mais rápida da
indústria naval brasileira”, registra a delação.
Segundo o delator [Baiano], Ferraz disse que, inclusive, em
decorrência da reunião com Lula, teria sido agendada e realizada uma
outra reunião, no Instituto Lula, com a participação do presidente
“do Sindicato da Indústria Naval, do Sindicato dos Trabalhadores da
Indústria Naval ou algo do tipo”.
‘Peso maior’. Fernando Baiano relatou em seu termo de delação que as
negociações começaram em 2011, depois dele procurar Bumlai para
ajudar a OSX a participar do pacote de contratos da Sete Brasil que
estava sendo fechado no início da primeira gestão Dilma Rousseff.
Fernando Baiano afirmou que em determinado momento, ainda em 2011,
comentou com Bumlai “que achava que estavam existindo empecilhos ao
fechamento do negócio” da OSX e que “achava que era necessária uma
Providência mais incisiva para concretização da negociação”.
“O depoente considerava indispensável ‘um peso maior’ para que o
negócio fosse ultimado”, registrou a força-tarefa da Lava Jato.
Teria sido ai então que Bumlai “ficou de acertar uma reunião entre
João Carlos Ferraz e o ex-presidente Lula.”
Fernando Baiano afirma que Bumlai receberia metade da propina paga
pela OSX. “Que todo o desenrolar das negociações era repassado pelo
depoente para Bumlai”, explicou Fernando Baiano. “Havia um acerto”
com Bumlai “no sentido da divisão da ‘comissão’ devida em razão do
negócio”, disse o delator. “(Fernando Baiano) ficaria com metade e
Bumlai com a outra metade da ‘comissão’.”
‘Nora’. Fernando Baiano afirmou que foi no decorrer dessas
negociações da OSX com a Sete Brasil, intermediadas por Bumlai em
contatos diretos com Lula, que, “em uma das visitas” do pecuarista
ele teria indagado “sobre a possibilidade de ser obtido um
adiantamento da parte de Bumlai na comissão que seria paga pela
OSX".
“Nessa reunião Bumlai afirmou que precisava do dinheiro porque
estava sendo pressionado para resolver um problema”, contou Fernando
Baiano, que disse ter questionado o pecuarista sobre detalhes da
situação, “para ver se poderia ajudar”.
“Bumlai disse que estava sendo cobrado por uma nora do ex-presidente
Lula para pagar uma dívida ou uma parcela de um imóvel”, revelou
Fernando Baiano. Bumlai teria dito que “tinha ficado de resolver
esse problema” e falou em uma dívida de R$ 3 milhões.
O delator afirmou que disse pessoalmente a Bumlai que “não poderia
ajudar com R$ 3 milhões, mas que poderia contribuir com R$ 2 milhões
para resolver o problema”. O valor, segundo ele, foi repassado para
o pecuarista, por meio de uma empresa de locação de equipamentos, de
nome São Fernando, por meio da emissão de uma nota fiscal por
serviços não prestados. “O valor pago não foi o valor exato de R$ 2
milhões, tendo sido provavelmente uma quantia um pouco menor”,
revelou Baiano.
Operação bancária. Baiano disse que vai apresentar documentos sobre pagamentos a nora de Lula. Apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como um dos
operadores de propinas no esquema de irregularidades na Petrobrás, Fernando Baiano, se comprometeu, em seu termo de
delação premiada, a apresentar documentos bancários que comprovem a
suposta transferência de valores para uma das noras do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
“O depoente se compromete a tentar identificar a operação bancária referente aos fatos”, registra a força-tarefa da Lava Jato no termo de delação.
“O depoente se compromete a tentar identificar a operação bancária referente aos fatos”, registra a força-tarefa da Lava Jato no termo de delação.
Fernando Baiano em Curitiba, na época de sua prisão, novembro de 2014 |
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA
“O ex-presidente não comenta supostos trechos de documentos que
estão sob sigilo judicial. Reiteramos que o ex-presidente Lula nunca
atuou como intermediário de empresas em contratos, antes, durante ou
depois de seu governo. Jamais autorizou que o sr. José Carlos Bumlai
ou qualquer pessoa utilizasse seu nome em qualquer espécie de lobby.
Não existe a dívida de 2 milhões supostamente mencionada na
delação.”
COM A PALAVRA, O PECUARISTA JOSÉ CARLOS BUMLAI
“A respeito das questões encaminhadas, insistimos que o empresário
JCB nunca atuou em nome de OSX ou de Fernando Baiano em quaisquer
demandas, nem pediu dinheiro usando o nome do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ou seus familiares, para beneficiar quem quer
que fosse. Mais uma vez, informações já contestadas por nós são
misturadas irresponsavelmente, na tentativa de criar novos fatos
que, na prática, não existem.”
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