Crise política infla lucros de fabricantes de pixulecos
Empresas registram alta de até 20% nas vendas após uso de peças infláveis em protestos contra o governo
Sob encomenda. Fábrica de infláveis em Guarulhos produziu dois mil
pixulecos e patos de 12 metros de altura para protesto da Fiesp |
Maldita por dez entre dez empresários pelas suas consequências nocivas à
economia, a crise política provocou efeito improvável em um segmento de
negócios. Fabricantes de infláveis viram a demanda pelo produto
expandir desde que as peças viraram centro das atenções em atos públicos
contra o governo. Ainda que os responsáveis pelo precursor dos bonecos
ocultem quem fabricou o Pixuleco, galalau de 15 metros à semelhança do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vestido de presidiário,
indústrias de São Paulo e Rio se gabam dos clientes conquistados com a
visibilidade do produto.
Diretor da Big Format, localizada em Guarulhos, Denys Souza conta que a
empresa está voltada agora para a produção de cerca de dois mil
minipixulecos, encomendados por um cliente que pediu anonimato. Ela foi
responsável por fabricar um pato de 12 metros de altura usado na
campanha contra a alta de impostos “Não vou pagar o pato”, da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp):
— O pato já trouxe retorno. Uma ação como essa chega a fazer a procura
crescer em 10%. Esses atos foram muito positivos para a gente.
Divulgaram os infláveis a um público que não os conhece — diz Souza.
A fábrica, onde 75 funcionários confeccionam mensalmente 200 peças
gigantes e 30 mil pequenas, tem entre os principais clientes agências de
publicidade e departamentos de marketing de grandes empresas. Além de
patos e pixulecos, já saíram de lá pula-pula, réplica de latinha de
refrigerante, boto cor-de-rosa para ONG e astronauta para escola de
samba. O produto recorde em tamanho foi um Papai Noel de 33 metros de
altura encomendado por um shopping em Portugal. Um item de grande porte e
tridimensional pode custar R$ 70 mil, diz Souza.
MINIATURA
Um número reduzido de grandes empresas e uma multidão de firmas miúdas
compõem o mercado de infláveis no Brasil. Produzem de bastões
distribuídos em eventos a brinquedos. A maioria divide os negócios nas
categorias mini e big infláveis. Enquanto as pequenas peças podem ser
enchidas no sopro, as gigantes costumam ser acopladas a um motor que
mantém os bonecos de pé.
É o caso do Pixuleco — apelido em referência à expressão usada pelo
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para se referir à propina e à
etapa homônima da Operação Lava-Jato. Guardiã do boneco em turnê pelo
país, Celene Carvalho, do Movimento Brasil, explica a razão de o grupo
que se apresenta como a favor da democracia e contra o bolivarianismo
manter segredo sobre o fabricante.
— Não temos como revelar isso, por questão de segurança. A nossa
preocupação é não prejudicar a empresa que topou fazer. Nem todos têm
essa coragem — lamenta, dizendo que foi necessário adotar grades e
escolta para o boneco em atos públicos, depois de ele ter sofrido
“ataques” com facas.
Celene conta que o inflável chegou a ser orçado em R$ 96 mil, oito vezes
mais que o valor pago com ajuda de uma vaquinha, de R$ 12 mil. Um
conhecido sugeriu que o Lula inflado fosse encomendado na China,
barateando o custo. O conselho foi rejeitado de pronto.
— Queríamos que a nossa iniciativa ativasse o mercado brasileiro, em
razão da crise. Além disso, somos totalmente contra o regime chinês —
justifica. — O Pixuleco está servindo muito bem ao seu propósito
principal, que é provocar uma aceitação enorme aos nossos atos. A nossa
intenção não é lucrar com ele.
Tem quem queira. Em manifestações, as miniaturas do boneco estão sendo
vendidas a R$ 10, a pretexto de financiar os manifestantes. Diretor da
Promo Infláveis, em Diadema, Oswaldo Toyofuqu, contabiliza ao menos três
dúzias de pedidos para fabricar bonecos do ex-presidente. Embora a
empresa ainda avalie a possibilidade de atender às encomendas, já
fabricou cinco mil patos de 45 centímetros para a Fiesp:
— Nunca se falou tanto em inflável. Tivemos muitas consultas sobre o
Pixuleco. Relutamos em atendê-las por se tratarem de encomendas de
pessoas físicas. Não sabemos se vão vender ou distribuir e ficamos com
receio de usar a imagem por questões jurídicas.
No Rio, a Airshow, de infláveis e balonismo, informa ter registrado alta
de 80% na procura e de 20% nas vendas nas últimas três semanas. O
francês Bruno Schwartz, proprietário da empresa, afirma que clientes
descobriram ser possível fazer infláveis “em quase qualquer formato”. A
empresa tem produzido de balões a esculturas encomendadas por artistas
plásticos.
— Só não fizemos o Lulinha. Não quero me meter em encrenca política, mas está sendo uma maravilha.
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