Agência de risco Fitch rebaixa
Brasil, mas país mantém selo de bom pagador — a agência cita o fraco
desempenho fiscal do País e a crise política
A Fitch foi a segunda agência de classificação de risco a recentemente rebaixar a nota do Brasil |
A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta quinta-feira
(15.out.2015) a nota de crédito do Brasil para 'BBB-' e colocou o rating
sob perspectiva negativa. Apesar do corte, o país manteve o grau de
investimento — espécie de selo de bom pagador.
A agência Fitch rebaixou o rating de longo prazo do Brasil em moeda
estrangeira e local de BBB para BBB-. Agora, o Brasil está no último
degrau antes do nível especulativo — o que encareceria os empréstimos
que o país toma no exterior. A perspectiva negativa significa que a nota
do país pode sofrer novo corte quando a agência revisar sua avaliação
sobre o Brasil.
Em nota, a Fitch afirma que o rebaixamento reflete o maior endividamento
do governo, além do aumento dos desafios para a consolidação fiscal e a
piora da perspectiva de crescimento econômico.
"O ambiente político difícil está prejudicando o progresso da agenda
legislativa do governo e criando um ciclo negativo de resposta para a
economia geral", afirma o comunicado.
De acordo com a Fitch, a perspectiva negativa reflete a visão da agência
de que os desempenhos econômico e fiscal ruins devem persistir enquanto
a incerteza política continuar a pesar sobre a confiança geral,
atrasando uma retomada do investimento e do crescimento e o risco maior
para a consolidação fiscal de médio prazo necessária para a
estabilização da dívida.
A Fitch diz que o impacto antecipado da recessão econômica sobre as
receitas do governo e a dificuldade para implementar medidas para
compensar o cenário político "complicado" minaram a estratégia de
consolidação fiscal do governo. "Consequentemente, em julho o governo
reduziu suas metas de superávit primário substancialmente para 2015 e
adiante", diz a agência. "Em outro revés para a credibilidade fiscal, o
governo entregou o orçamento de 2016 com uma meta fiscal ainda mais
fraca."
A agência aponta que, ainda que o governo esteja trabalhando em certas
propostas tributárias e de gastos para retomar o padrão fiscal contido
nas projeções de julho, permanece havendo "incerteza considerável" sobre
sua implementação, "especialmente no contexto do atual impasse
político". "Conter os gastos discricionários ganha importância", afirma a
agência, a luz de uma carga tributária já alta e da rigidez do
orçamento, de limites a mais cortes em gastos discricionários e uma
recuperação econômica fraca. "Essas medidas, porém, exigem um consenso e
apoio político mais amplos, o que pode ser difícil de obter", afirma a
Fitch.
A agência projeta atualmente que o déficit do governo geral do Brasil
piore para perto de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, devido
aos juros mais altos, em parte refletindo as perdas nos swaps cambiais
oferecidos pelo banco central. Os déficits fiscais médios durante o
período 2016-2017 devem permanecer elevados, em mais de 6% do PIB,
baseados na expectativa da Fitch de que o governo terá dificuldade de
atingir suas metas de superávit primário de 0,7% e de 1,3% do PIB em
2016 e 2017, respectivamente.
A Fitch prevê um equilíbrio fiscal em 2016 e um superávit de 0,5% do PIB
em 2017, ainda que os riscos de baixa persistam. Como resultado, a
agência prevê que o endividamento do governo brasileiro chegue perto de
70% do PIB em 2016, "significativamente acima da mediana BBB de 43%", e
diz que ele continuará a avançar em 2017.
A notícia fez o dólar intensificar sua alta em relação ao real. O dólar à
vista, referência no mercado financeiro e que operava em queda antes do
anúncio, inverteu a tendência e passou a subir.
O rebaixamento ocorre pouco mais de um mês após a agência Standard and
Poor's cortar a nota do país para grau especulativo. Na ocasião, a
S&P citou a "falta de habilidade" e "vontade" do governo Dilma
Rousseff ao submeter um orçamento deficitário ao Congresso.
Já a Moody´s rebaixou a nota do país em agosto. Na agência, a
classificação é "Baa3", a apenas um passo de perder o selo de bom
pagador.
A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o
Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo
mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s
(setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.
O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar
seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de
investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida
de governos. Normalmente, pedem que a aplicação seja considerada grau de
investimento por, pelo menos, duas das grandes agências.
Além disso, quanto melhor a classificação, menor o custo da dívida para o país.
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