Governo Dilma vai liberar R$ 700 milhões em emendas parlamentares para reaglutinar apoio e sair da agenda negativa do impeachment
O governo sinalizou ao Congresso que vai liberar R$ 700 milhões em
emendas parlamentares. O objetivo é reaglutinar apoios e tentar sair da
chamada agenda negativa do impeachment, estabelecida nos últimos meses.
Além de abrir o cofre, o Palácio do Planalto deu aos partidos aliados a
garantia de fazer indicações em "porteira fechada" nos ministérios —
preenchimento de cargos em todos os escalões.
As medidas negociadas têm sido conduzidas pelo ministro Ricardo
Berzoini, da Secretaria-Geral da Presidência, e pelo secretário especial
da Presidência da República, Giles Azevedo. O empenho de integrantes do
governo para entregar o que foi prometido aos aliados tem mudado o
discurso dos mais descontentes, principalmente na Câmara, comandada pelo
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompido com o governo desde julho
deste ano.
As negociações em torno da liberação das emendas ganharam celeridade
logo após o Palácio do Planalto ter sido derrotado ao não conseguir
colocar maioria na sessão do Congresso Nacional realizada no início do
mês. A votação foi o primeiro teste da nova equipe de articulação
política também integrada pelo ministro Jaques Wagner (Casa Civil).
Logo após o revés no plenário, Berzoini chamou para uma conversa no
Palácio do Planalto os líderes do maior bloco da Câmara, composto pelo
PP, PTB, PSC e PHS, responsáveis por conduzir o esvaziamento da sessão. O
objetivo da reunião foi o de "entender" o motivo da revolta, ocorrida
apenas quatro dias depois de concretizada a reforma ministerial. Dias
depois das conversas, líderes ouviram de Berzoini que o "governo estava
fazendo um esforço" para atender aos parlamentares.
'Voz ativa'. O recurso das emendas é aplicado em obras realizadas
nos redutos eleitorais dos parlamentares. "Mudou tudo, não desmerecendo
os antecessores, mas parece que agora o ministro Ricardo Berzoini
realmente tem voz ativa. Tem atuado para atender aos deputados. Algumas
obras começaram a sair, a serem pagas", ressaltou o líder do PTB,
deputado Jovair Arantes (GO). "O clima mudou e já até informamos ao
Palácio que pode ter sessão do Congresso semana que vem, se eles
quiseram", disse o líder do PR, deputado Maurício Quintella (AL).
Outra mudança de tratamento com integrantes da base aliada, que também
tem sido posta em prática para tentar assegurar a governabilidade, é
garantir a autonomia dos novos ministros para nomear para os principais
cargos das respectivas pastas. Uma das principais críticas de
integrantes da base antes da reforma ministerial era o fato de que,
mesmo indicando o ministro, o partido não conseguia ocupar espaços
estratégicos, que normalmente permaneciam nas mãos de integrantes do PT.
"Há tomadas de decisões sobre os pleitos das bancadas que estavam
represados. Há uma melhora no ambiente, mas tem que ser um exercício
diário, porque liberação de cargos e emendas uma hora acaba", considerou
o líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ).
Entre os possíveis efeitos esperados pelo governo com a liberação dos
recursos e cargos está a mudança da pauta no Congresso, que ultimamente
tem se concentrado nas discussões em torno de um possível processo de
impeachment de Dilma.
Uma das apostas de integrantes da cúpula do Palácio é um avanço nas
discussões em torno da proposta que renova a Desvinculação de Receitas
da União (DRU) e estabelece em 30% o porcentual do arrecadado com
tributos federais que pode ser usado livremente pelo governo. O projeto
tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Esse mecanismo
de realocação de receitas federais expira no fim deste ano.
Além do comprometimento com os acordos firmados, parlamentares também
têm ressaltado mudança na atitude dos ministros do núcleo duro do
Palácio considerados "mais abertos ao diálogo". Entre os exemplos
lembrados estão as discussões em torno da proposta da CPMF. Berzoini tem
dito aos parlamentares da base que o texto, ao contrário do
posicionamento inicial do governo, poderá receber "contribuições" e ser
alterado.
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