Brasil lidera fuga de capital entre os países emergentes
Entre julho e setembro, o Brasil amargou proporcionalmente entre os
emergentes a maior redução no estoque de investimentos estrangeiros
desde a crise global de 2008. A perda atingiu cerca de 30% do total.
Desta vez, a saída de capitais ficou mais concentrada nas aplicações de
grandes fundos de pensão e de investidores institucionais. Eles
representaram aproximadamente 75% de um total de U$ 40 bilhões em perdas
entre os emergentes no terceiro trimestre.
Segundo relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla
em inglês), que reúne os maiores bancos do mundo, as perdas do Brasil
foram proporcionalmente maiores em um ranking de 31 países. As da China,
por exemplo, ficaram em torno de 25% (ver 1º quadro abaixo).
Com base nos valores altos das retiradas, os números do IIF sugerem a
predominância da saída de fundos institucionais e de investidores de
longo prazo de EUA, Europa e Japão.
O economista do IIF Emre Tiftik disse que o Brasil foi mais afetado por
um conjunto de fatores. Ele afirma que "os preços dos ativos no país
podem até ter ficado baratos agora", mas que "os investidores podem não
voltar tão cedo".
Os fundos institucionais são normalmente os últimos a sair (e a voltar)
em tempos de turbulência. A atuação deles no longo prazo geralmente
busca mais segurança em aplicações para lastrear pensões de aposentados
ou fundos de trabalhadores de grandes corporações.
Pelas regras de vários fundos, seu capital só pode permanecer em países
que detenham o selo de bom pagador (grau de investimento) de ao menos
duas agências de classificação de risco.
Esse é o caso do Brasil, por enquanto. Mas depois de perder essa
classificação da Standard & Poor´s, no início de setembro, o mercado
já dá como certo que a Moody´s ou a Fitch (ou ambas) devem ir pelo
mesmo caminho.
"Caso o Brasil venha a perder mais um selo de bom pagador, esses grandes fundos não têm como voltar", diz Tiftik.
O IIF também aponta o rápido crescimento do endividamento das empresas
brasileiras e a valorização do dólar como motivos para a redução dos
investimentos.
Entre 2010 e 2015, as dívidas de empresas não-financeiras no país
subiram do equivalente a 38% do PIB para 51%, segundo o IIF. O ritmo de
crescimento só é menor que o da China e da Turquia.
Apenas a variação do dólar do final de 2014 para cá representou um
aumento de mais de sete pontos percentuais no endividamento das
companhias brasileiras. Nos últimos cinco anos, as dívidas em dólar
dobraram, de 7% do PIB para 15%.
"A combinação de recessão, inflação e déficit fiscal torna muito pouco
atrativos os investimentos no país. As empresas aumentaram muito suas
dívidas e agora estão perdendo receita", afirma Tiftik.
O IIF diz em seu relatório que os investidores institucionais passaram a
"diferenciar claramente" os países que apresentam maiores riscos.
"Fundamentos econômicos frágeis, preços de commodities em baixa, dívidas
corporativas elevadas e tensões políticas reduziram muito o apetite de
investidores por esses mercados", diz o instituto.
O IIF também destaca que 2015 marcou uma inversão do comportamento dos
investidores internacionais. A busca por segurança nos mercados
avançados, em detrimento dos emergentes, se assemelha à tendência
observada no ápice da crise global em 2008-2010 (ver 2º quadro abaixo).
Nesse cenário, as dívidas corporativas dos emergentes ganham destaque
entre os motivos da saída dos investidores. Na média, o endividamento
privado desses países equivale hoje a quase 90% do PIB, ante 70% há
quatro anos.
A China é o país em que as empresas não-financeiras estão mais
endividadas atualmente, com débitos totais equivalentes a 161% do PIB.
Mas o Brasil preocupa também por conta da rápida valorização do dólar,
de cerca de 70% nos últimos 12 meses, e por seu impacto sobre o
endividamento empresarial.
Na média dos emergentes, a alta da moeda norte-americana não passou de 30% nos últimos três anos, segundo o IIF.
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