Fernando Baiano diz ter pago: R$ 2 milhões para nora de Lula quitar dívida — e mais de R$ 1 milhão para Eduardo Cunha
Delator da Lava Jato e atualmente preso, o lobista Fernando Soares disse
ter feito um pagamento de R$ 2 milhões a um amigo do ex-presidente
Lula, montante que seria destinado a uma nora do petista.
Baiano disse que o pagamento que beneficiaria a nora de Lula foi feito
ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente petista, e se
referia a uma negociação envolvendo a OSX, empresa de construção naval
de Eike Batista, hoje em recuperação judicial.
O delator contou que trabalhava para que a OSX participasse de contratos
da Sete Brasil, firma formada por sócios privados e pela Petrobras e
que administra o aluguel de sondas para o pré-sal.
Baiano disse que pediu ajuda a Bumlai e que, adiante, o próprio Lula
"participou de reuniões com o presidente da Sete Brasil para que a OSX
fosse chamada para o negócio".
A negociação não avançou, mas mesmo assim Bumlai cobrou comissão de R$ 3
milhões, disse Baiano. O dinheiro seria para uma nora de Lula, cujo
nome não foi mencionado, pagar uma parcela de um imóvel. Baiano contou
que repassou então R$ 2 milhões a Bumlai através de contratos falsos de
aluguel de equipamentos de uma empresa do amigo de Lula. Ele não soube
dizer se o valor foi entregue a algum parente de Lula.
José Carlos Bumlai - o pecuarista a quem Lula
entregou em seu segundo mandato um crachá de trânsito livre no Palácio do Planalto. |
Bumlai se aproximou de Lula na campanha de 2002. Foram apresentados pelo
então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT. Ganhou intimidade
para viajar na cabine do avião presidencial.
Bumlai tornou-se um dos alvos preferenciais da Lava Jato. Um segundo
delator, Luiz Carlos Martins, ex-diretor da empreiteira Camargo Corrêa,
também relatou episódios o envolvendo com propinas.
Martins contou que as empreiteiras que fizeram a usina de Belo Monte
pagaram 1% de propina a políticos e lobistas. O suborno chegou a R$ 145
milhões. O plano era que o PMDB o PT dividissem o valor.
Havia um problema, porém. As grandes empreiteiras Odebrecht, Andrade
Gutierrez e Camargo, que tinham conhecimento para fazer a obra complexa,
haviam sido deixadas de lado pelo governo.
Como as menores não conseguiriam tocar o projeto, era necessário fazer
uma composição com as grandes. Bumlai e um outro lobista foram chamados
para aparar as arestas.
Com a entrada da dupla no projeto, mudou a divisão do suborno. PT e PMDB
ficaram com 0,45% cada (R$ 65,2 milhões); Bumlai e o outro lobista
dividiram o 0,1% restante (R$ 14,5 milhões para cada).
Fernando Baiano disse que entregou dinheiro vivo para Eduardo Cunha
O delator Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como
operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobrás, revelou à
Procuradoria-Geral da República que entregou em dinheiro vivo ‘entre R$ 1
milhão e R$ 1,5 milhão’ ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha
(PMDB/RJ). O valor, segundo Baiano, foi levado ao escritório do
peemedebista no Rio, em outubro de 2011. O dinheiro, afirmou o delator,
foi entregue a um certo ‘Altair’. Ele disse que o montante era relativo a
uma parcela da propina total de US$ 5 milhões que teria sido destinada a
Cunha na contratação de navios sonda pela estatal petrolífera.
As informações sobre os detalhes da delação de Fernando Baiano foram
divulgadas na quinta-feira (15.out.2015). O delator disse, ainda, que
tinha um celular exclusivo para falar ‘com determinadas pessoas’ sobre
valores ilícitos, entre elas Eduardo Cunha. Segundo ele, o presidente da
Câmara ‘mandou até e-mail com tabela do que foi pago e do que ainda
tinha que ser pago’. Baiano disse que vai apresentar provas à Polícia
Federal e à Procuradoria-Geral da República.
O outro lado
O Instituto Lula divulgou nota afirmando que o petista nunca autorizou o
pecuarista José Carlos Bumlai a pedir dinheiro em nome dele.
Também negou que alguma nora do ex-presidente tenha recebido, direta ou
indiretamente, qualquer pagamento ou favor de Fernando Baiano, delator
da Lava Jato.
O instituto afirmou ainda que Lula "nunca atuou como intermediário de
empresas em contratos, antes, durante ou depois de seu governo" e
criticou a divulgação do depoimento de Baiano.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Bumlai negou ter relação com o que chamou de "mentiras".
João Carlos Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil, não quis se manifestar.
Por meio de sua assessoria, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), refutou "com veemência" as declarações de Baiano e criticou o
que chamou de "vazamentos seletivos" de depoimentos de delatores.
Lula depõe sobre tráfico de influência
Lula prestou depoimento “voluntário”, segundo o Instituto Lula, na manhã
de quinta-feira (15.out.2015), no inquérito aberto pelo Ministério
Público do Distrito Federal para investigar suposto tráfico de
influência em favor de empreiteiras no exterior. Um dos advogados do
ex-presidente fez contato com o procurador do caso e pediu para marcar o
interrogatório. O depoimento começou às 11 horas e terminou às 13 horas
e 30 minutos.
O ex-presidente prestou depoimento fora das dependências da Procuradoria
da República. Um dos advogados de Lula pediu que ele fosse ouvido num
local "neutro" para não chamar atenção da imprensa. O procurador Cláudio
Marx poderia recusar o pedido, mas preferiu concordar com a sugestão do
advogado para agilizar a investigação. Ele entende que, se não houvesse
um acordo prévio sobre o melhor local para ouvir o ex-presidente, o
depoimento poderia ser adiado em prejuízo do andamento da apuração.
A data e o local do depoimento foram acertados recentemente numa
conversa entre advogado e o procurador. Quando soube que Lula seria
intimado para dar explicações, o advogado se prontificou a apresentar o
ex-presidente, mas com a ressalva que houvesse discrição, ou seja, sem
cobertura da imprensa. Como o caso está em sigilo, o procurador
concordou.
“Lula respondeu às perguntas do procurador e argumentou que os
presidentes e ex-presidentes do mundo inteiro defendem as empresas de
seus países no exterior. Afirmou também que para ele isso é motivo de
orgulho”, diz nota divulgada pelo Instituto Lula.
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do ex-presidente, Lula
disse que todas as palestras dadas por ele estão declaradas e
contabilizadas e que “jamais” interferiu na autonomia do BNDES e nas
decisões do banco sobre concessões de empréstimos.
Ainda de acordo com a nota divulgada pelo Instituto Lula, ele afirmou no
depoimento que "quem desconfia do BNDES não tem noção da seriedade da
instituição".
A Procuradoria da República do Distrito Federal investiga suposto
envolvimento em tráfico de influência no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para induzir a instituição a
financiar obras da Odebrecht no exterior.
Em abril, se revelou que o ex-diretor de Relações Institucionais da
Odebrecht Alexandrino Alencar levou Lula em um périplo por Cuba,
República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013. A viagem foi
paga pela construtora e, oficialmente, não tinha relação com atividades
da empresa nesses países.
Está sendo apurado se Lula pode ser responsabilizado por tráfico de
influência internacional junto a agentes políticos estrangeiros, com o
objetivo de beneficiar a construtora Odebrecht. Além da abertura de uma
investigação, foi solicitado o compartilhamento de informações da
Operação Lava-Jato.
Lula também deve ser ouvido na condição de informante, e não como
investigado no âmbito da operação Lava-Jato. O ministro Teori Zavascki,
do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que o ex-presidente
prestasse depoimento. O pedido para ouvir Lula foi feito pela Polícia
Federal — que, em relatório enviado ao tribunal, diz que Lula pode ter
sido pessoalmente beneficiado pelo esquema de corrupção na Petrobras. O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, emitiu parecer favorável
ao depoimento.
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