'PIB do BC' tem nova queda e economistas já preveem recuo superior a 1% no 3º trimestre
IBC-Br teve retração de 0,76% em agosto,
a terceira seguida; para especialistas, indicador confirma a trajetória
de recuo intenso da atividade e aponta para queda entre 1% e 1,2% no
terceiro trimestre
A economia do Brasil voltou a se contrair em agosto. O Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do
PIB, apontou para uma queda de 0,76%, na série com ajuste sazonal. No
ano, a baixa acumulada é de 2,99% e, em 12 meses, de 2,16%. Já na
comparação entre os meses de agosto de 2015 e de 2014, houve queda de
4,47%. Para economistas, o indicador confirma a trajetória de recuo
intenso da atividade econômica e aponta para uma queda ainda maior que a
prevista do PIB no terceiro trimestre - que pode superar 1%.
As Regiões Norte e Centro-Oeste é que levaram IBC-Br a registrar queda
de julho para agosto. Sudeste, Nordeste e Sul registraram crescimento na
margem em agosto na comparação com o mês anterior.
Indústria é um dos setores mais afetados pela crise |
O recuo foi o terceiro seguido do IBC-Br - que serve como parâmetro para
avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Em julho, a
retração havia sido de 0,01% e em junho, de 0,85%. O resultado veio um
pouco pior do que a mediana de -0,60% das estimativas apuradas com 26
instituições financeiras. O intervalo dessa amostragem ia de -1,23% a
-0,21%.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e sócio da
Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, aponta que o IBC-Br
caiu em 14 dos últimos 17 meses, indicando que esta será uma recessão
prolongada, diferentemente dos outros períodos de contração econômica
nos últimos anos. Além disso, ele destaca que a recessão começou no ano
passado, por isso não é possível culpar o ajuste econômico capitaneado
pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela atual situação.
Para o economista-sênior do Haitong, Flávio Serrano, o IBC-Br de agosto
reflete a piora da atividade econômica que já vinha sendo delineada por
outros indicadores. "Não só estamos há algum tempo contraindo, como no
ponto em que estamos hoje não temos perspectiva de reversão deste
quadro. A situação é bem ruim."
Segundo ele, a falta de capacidade do governo para "destravar" medidas
necessárias e a turbulência do cenário político apontam para uma
extensão do processo de deterioração da economia. "A gente não observa
mudança significativa em confiança e continuamos com a ameaça de
rebaixamento de rating", lembrou. "Talvez, no cenário otimista, a
economia possa reagir no segundo semestre do ano que vem."
No Relatório Trimestral de Inflação de setembro, o BC revisou sua
previsão de queda para o PIB de 2015 de -1,1% para -2,70%. Já no
Relatório de Mercado Focus da última segunda-feira (12.out.2015), a
mediana das expectativas para o PIB estava negativa em 2,97% para este
ano. O resultado do PIB do 3º trimestre será divulgado pelo IBGE em 1º
de dezembro.
Para Serrano, a desaceleração do mercado de trabalho é outro agravante
da situação econômica, pois impacta diretamente o poder de compra do
consumidor e, consequentemente, o desempenho do varejo. "Estamos
temporalmente num período desfavorável em que o comércio está sendo
fortemente afetado e o setor industrial ainda não reagiu ao câmbio mais
valorizado", disse. Ele avaliou que, com os dados disponíveis até agora,
é possível prever um terceiro trimestre bastante ruim, pior do que se
esperava inicialmente. A Haitong estima uma queda de 1% do PIB no
período.
O economista-chefe da Sulamérica de Investimentos, Newton Camargo Rosa,
também afirma que o indicador não só confirma a trajetória de queda
intensa da atividade econômica, como se alinha com as expectativas que
apontam para um recuo entre 1% e 1,2% da economia no terceiro trimestre e
de 3% do PIB no fim deste ano.
Copom. O indicador pior que o esperado, no entanto, não deve
mudar no curto prazo a cabeça dos diretores do BC no Comitê de Política
Monetária (Copom) em relação ao que o alto comando da instituição vem
dizendo - prevê Rosa.
Contudo, na visão dele, a intensificação da perda de dinâmica da
economia, agora já começando a bater de forma mais contundente no
mercado de trabalho, deve acalorar as discussões dentro do BC sobre o
quanto de sacrifício adicional a autoridade monetária precisaria fazer
já que a própria queda da atividade deverá contribuir com o esforço da
instituição para tentar levar a inflação para perto do centro da meta em
2016.
Neste sentido, Newton Rosa diz ser favorável a que o BC alivie o peso de
sua mão na condução da política monetária e comece a pensar na
possibilidade de transferir de 2016 para 2017 o seu objetivo de buscar a
convergência da inflação ao centro da meta em 2017.
Segundo ele, é bem possível que internamente a cúpula do BC já esteja
discutindo essa possibilidade. "Não quero dizer que não possa haver
ajustes da taxa de juros uma vez que já temos aumento de energia
elétrica contratado para o ano que vem, a possibilidade de ocorrência de
aumento da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) da
gasolina e a incerteza em relação ao quanto da desvalorização cambial
recente veio para ficar", disse o chefe do Departamento Econômico da
Sulamérica. Para Newton Rosa, estas devem ser também dúvidas que povoam
as cabeças dos membros do board do BC.
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