sexta-feira, 16 de outubro de 2015


'PIB do BC' tem nova queda e economistas já preveem recuo superior a 1% no 3º trimestre
IBC-Br teve retração de 0,76% em agosto, a terceira seguida; para especialistas, indicador confirma a trajetória de recuo intenso da atividade e aponta para queda entre 1% e 1,2% no terceiro trimestre

A economia do Brasil voltou a se contrair em agosto. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, apontou para uma queda de 0,76%, na série com ajuste sazonal. No ano, a baixa acumulada é de 2,99% e, em 12 meses, de 2,16%. Já na comparação entre os meses de agosto de 2015 e de 2014, houve queda de 4,47%. Para economistas, o indicador confirma a trajetória de recuo intenso da atividade econômica e aponta para uma queda ainda maior que a prevista do PIB no terceiro trimestre - que pode superar 1%.
As Regiões Norte e Centro-Oeste é que levaram IBC-Br a registrar queda de julho para agosto. Sudeste, Nordeste e Sul registraram crescimento na margem em agosto na comparação com o mês anterior.

Indústria é um dos setores mais afetados pela crise

O recuo foi o terceiro seguido do IBC-Br - que serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. Em julho, a retração havia sido de 0,01% e em junho, de 0,85%. O resultado veio um pouco pior do que a mediana de -0,60% das estimativas apuradas com 26 instituições financeiras. O intervalo dessa amostragem ia de -1,23% a -0,21%.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, aponta que o IBC-Br caiu em 14 dos últimos 17 meses, indicando que esta será uma recessão prolongada, diferentemente dos outros períodos de contração econômica nos últimos anos. Além disso, ele destaca que a recessão começou no ano passado, por isso não é possível culpar o ajuste econômico capitaneado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela atual situação.
Para o economista-sênior do Haitong, Flávio Serrano, o IBC-Br de agosto reflete a piora da atividade econômica que já vinha sendo delineada por outros indicadores. "Não só estamos há algum tempo contraindo, como no ponto em que estamos hoje não temos perspectiva de reversão deste quadro. A situação é bem ruim."
Segundo ele, a falta de capacidade do governo para "destravar" medidas necessárias e a turbulência do cenário político apontam para uma extensão do processo de deterioração da economia. "A gente não observa mudança significativa em confiança e continuamos com a ameaça de rebaixamento de rating", lembrou. "Talvez, no cenário otimista, a economia possa reagir no segundo semestre do ano que vem."


No Relatório Trimestral de Inflação de setembro, o BC revisou sua previsão de queda para o PIB de 2015 de -1,1% para -2,70%. Já no Relatório de Mercado Focus da última segunda-feira (12.out.2015), a mediana das expectativas para o PIB estava negativa em 2,97% para este ano. O resultado do PIB do 3º trimestre será divulgado pelo IBGE em 1º de dezembro.
Para Serrano, a desaceleração do mercado de trabalho é outro agravante da situação econômica, pois impacta diretamente o poder de compra do consumidor e, consequentemente, o desempenho do varejo. "Estamos temporalmente num período desfavorável em que o comércio está sendo fortemente afetado e o setor industrial ainda não reagiu ao câmbio mais valorizado", disse. Ele avaliou que, com os dados disponíveis até agora, é possível prever um terceiro trimestre bastante ruim, pior do que se esperava inicialmente. A Haitong estima uma queda de 1% do PIB no período.
O economista-chefe da Sulamérica de Investimentos, Newton Camargo Rosa, também afirma que o indicador não só confirma a trajetória de queda intensa da atividade econômica, como se alinha com as expectativas que apontam para um recuo entre 1% e 1,2% da economia no terceiro trimestre e de 3% do PIB no fim deste ano.
Copom. O indicador pior que o esperado, no entanto, não deve mudar no curto prazo a cabeça dos diretores do BC no Comitê de Política Monetária (Copom) em relação ao que o alto comando da instituição vem dizendo - prevê Rosa.
Contudo, na visão dele, a intensificação da perda de dinâmica da economia, agora já começando a bater de forma mais contundente no mercado de trabalho, deve acalorar as discussões dentro do BC sobre o quanto de sacrifício adicional a autoridade monetária precisaria fazer já que a própria queda da atividade deverá contribuir com o esforço da instituição para tentar levar a inflação para perto do centro da meta em 2016.
Neste sentido, Newton Rosa diz ser favorável a que o BC alivie o peso de sua mão na condução da política monetária e comece a pensar na possibilidade de transferir de 2016 para 2017 o seu objetivo de buscar a convergência da inflação ao centro da meta em 2017. 
Segundo ele, é bem possível que internamente a cúpula do BC já esteja discutindo essa possibilidade. "Não quero dizer que não possa haver ajustes da taxa de juros uma vez que já temos aumento de energia elétrica contratado para o ano que vem, a possibilidade de ocorrência de aumento da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) da gasolina e a incerteza em relação ao quanto da desvalorização cambial recente veio para ficar", disse o chefe do Departamento Econômico da Sulamérica. Para Newton Rosa, estas devem ser também dúvidas que povoam as cabeças dos membros do board do BC.


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