A recessão nos estados brasileiros — retração chegará perto de 3% no país
Pará será o único estado sem recessão, aponta estudo
A recessão próxima de 3% prevista para este ano vai se espalhar pelas
regiões do país. Com a disseminação da crise econômica, nenhum estado
brasileiro conseguirá crescer em 2015, segundo projeções do banco
Santander. A instituição prevê que, entre as 27 unidades da federação,
só o Pará escapará por pouco da recessão: deve fechar o ano com PIB
estagnado, melhor número do levantamento. No Rio, a contração prevista é
de 2,5%. Se a estimativa se confirmar, será a primeira vez desde 1996 —
início da série histórica do IBGE — que a economia de todos os estados
terá desempenho negativo ou nulo.
No estudo, o banco projeta que o PIB do país encolherá 2,8% em 2015. A
previsão é semelhante à dos economistas do mercado financeiro, que
esperam contração de 2,97%, de acordo com o mais recente boletim Focus,
pesquisa do Banco Central com mais de cem instituições financeiras. A
economia brasileira não enfrenta uma recessão desde 2009, quando, na
esteira da crise global, recuou 0,2%. Nem naquele ano o tombo foi tão
disseminado: em 2009, o PIB de 17 das 27 unidades da federação avançou.
MAIS DIFÍCIL
Esse ano será diferente, dizem analistas. Parte disso é atribuído à
magnitude da crise. Os economistas responsáveis pelo estudo do Santander
alertam que o desempenho da atividade econômica entre 2014 e 2016 deve
ser o pior desde 1900, inclusive dos triênios da crise de 1929 e da
dívida, nos anos 1980, a chamada década perdida.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o ritmo lento da
economia faz a disseminação ser inevitável. Nem as regiões que se
beneficiaram da fase áurea de commodities na última década, como o
Centro-Oeste, devem escapar. De acordo com os dados mais recentes do
IBGE, a região registrou o segundo maior crescimento médio entre 1995 e
2010, de 4,3%, perdendo só para o Norte (4,7%). No mesmo período, o
Brasil cresceu, em média, 3,1%. O instituto excluiu do levantamento os
números mais recentes, pois prepara para o mês que vem a divulgação de
dados recalculados, considerando a nova metodologia do PIB, introduzida
nos números nacionais no início do ano.
— A ideia é de que praticamente todos os estados terão queda do PIB este
ano. Recessão de 3% acaba afetando toda a economia. Mesmo regiões antes
ganhadoras, como o Centro-Oeste, não conseguirão escapar — afirma Vale.
O analista lembra ainda que o pé no freio deve dificultar o reequilíbrio
das contas públicas estaduais, o que pode levar a mais aumento de
imposto.
— O grande problema é que, com a queda de receita e as restrições da Lei
de Responsabilidade Fiscal, é provável que os estados tenham que
continuar subindo impostos como o ICMS. Mais ainda, 2016 será outro ano
de recessão nos estados — avalia o economista.
PERNAMBUCO TERÁ CONTRAÇÃO DE 4%
Além da recessão nacional, pesam sobre as projeções fatores regionais. É
o caso de Pernambuco, pior estado no ranking do Santander, com previsão
de contração de 4%. Na série histórica do IBGE, a região só registrou
queda no PIB em dois anos: 1998 (-0,4%) e 2003 (-0,6%). Parte do
resultado esperado para 2015 é influenciado pela paralisação de obras da
refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, que deve levar a construção civil
no estado a uma queda de 14,1%.
Na avaliação de Tatiane Menezes, professora de economia da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), o estado também sofre com a saída de
empresas que, no passado, receberam incentivos fiscais para se instalar
na região e, com a crise, começam a fechar filiais.
— Essa projeção (de queda de 4%) é bem realista. O tipo de política de
incentivo fiscal que foi feito em Pernambuco perde força. Quando você
entra numa situação de recessão forte, as filiais daqui são as primeiras
a fecharem as portas, porque os custos ficam muito altos. Pernambuco
está longe do principal centro consumidor do Brasil, que é São Paulo —
analisa Tatiane.
Os efeitos do ambiente de recessão são amenizados em estados sustentados
por dois setores que, na contramão do PIB, registram resultados
positivos: indústria extrativa e agropecuária. Segundo o IBGE, os
segmentos cresceram no primeiro semestre 10,4% e 3%, respectivamente.
EXPORTAÇÃO AJUDA O PARÁ
Melhor para o Pará, onde a extração de minério responde por 30% da
economia. Em ano de crise, o crescimento zero previsto para o estado
lidera o ranking do Santander. Já no Mato Grosso, onde a agropecuária
representa 29% do PIB, a previsão de alta de 4,1% do setor ajudará o
estado a fechar o ano com queda abaixo da média nacional: 1,4%.
Segundo a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará
(Fapespa), o setor de minérios responderá por 28,58% dos investimentos
previstos para o estado. A entidade, ligada ao governo estadual, prevê
alta de 2,48% do PIB em 2015.
— Mesmo com a queda do preço dos minérios no mercado internacional, e
apesar da diminuição da receita com vendas por tonelada exportada, o
estado do Pará vem apresentando contínuos superávits comerciais
explicados em grande parte pelo aumento do volume exportado — afirmou o
presidente da Fapespa, Eduardo Costa, por e-mail.
No Rio, o recuo previsto, de 2,5%, é influenciado pela queda projetada
de 6,6% na construção civil e de 1,2% no setor de serviços, que tem peso
de 58% sobre o PIB do estado. Embora negativos, os números indicam uma
queda menos intensa que a média nacional — a expectativa é que, em todo o
país, a construção civil registre queda de 8% e os serviços, de 1,4%. O
economista Mauro Osório, professor da UFRJ e especialista em economia
fluminense, destaca que a região é afetada pela crise política e do
setor de óleo e gás.
— O Rio de Janeiro tem um desafio importante de adensar sua estrutura
produtiva. Acho positivo a Petrobras estar no Rio. Por mais que a
empresa desacelere, vai ter um investimento de mais de R$ 100 bilhões.
Acho que isso é uma janela de oportunidade para o Rio, desde que a gente
consiga ter uma estratégia de atrair atividade em torno do complexo de
petróleo e gás. Além disso, é importante investir em infraestrutura —
afirma Osório.
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