quinta-feira, 29 de outubro de 2015


Com contratos milionários,
filho de Lula mora de favor em imóvel





Luís Cláudio Lula da Silva

Empresário de marketing esportivo com contratos milionários, Luís Cláudio Lula da Silva mora, sem pagar aluguel, em um apartamento nos Jardins, em São Paulo, que pertence a amigos de seu pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Luis Cláudio é dono das empresas LFT Marketing Esportivo e Touchdown — alvos de busca e apreensão da Polícia Federal na segunda-feira (26.out.2015).
Ele e a mulher, Fatima Cassaro, vivem há três anos em um apartamento de 158 m², na alameda Jaú, nos Jardins, que pertence à Mito Participações Ltda, empresa que tem como cotistas a esposa e as filhas do advogado Roberto Teixeira — amigo do ex-presidente e padrinho de batismo de Luis Cláudio.
Construído nos anos 1970, o edifício Cristal não tem salão de festas, piscina ou academia e cada morador conta com uma vaga na garagem.
O apartamento do 6º andar tem três quartos e uma sala ampla (45 m²). Por causa da localização privilegiada, imóveis idênticos no mesmo prédio foram vendidos recentemente por R$ 1,2 milhão.
Segundo moradores, o aluguel gira em torno de R$ 5 mil mensais. Cristiano Martins, advogado de Luis Cláudio e genro de Teixeira, disse que o filho de Lula tem um "acordo verbal" com as donas do local para que não pague aluguel e apenas se encarregue das despesas do imóvel.
Ex-preparador físico de times como Palmeiras e Corinthians, hoje Luis Cláudio investe em uma liga de futebol americano no Brasil. Essa é uma das justificativas para não pagar o aluguel. "Hoje ele investe bastante na modalidade. Tem o patrocínio mas tem o investimento dele", explica o advogado Martins.
A LFT Marketing Esportivo recebeu R$ 2,4 milhões de uma firma de lobistas suspeita de pagar propina para aprovar Medida Provisória que beneficiou montadoras.
O pagamento levou o MPF pedir a busca no escritório de Luis Cláudio, ação que Martins classificou de "despropósito" e busca anular.
AÇÃO ENTRE AMIGOS — Pelos registros de cartório, a Mito Participações comprou o apartamento que empresta ao filho de Lula, em dezembro de 2011, por R$ 500 mil.
O dono anterior era a Peabody Trade, offshore sediada nas Bahamas, paraíso fiscal no Caribe. Procurador da Peabody no país, o empresário uruguaio André Neumann disse que vendeu o imóvel a preços de mercado. Afirmou que o apartamento foi adquirido por uma empresa e disse que não conhecia os futuros donos do imóvel.
Já Martins diz que o empresário é "conhecido" da família de Teixeira, mas fala que a aquisição do imóvel de Neumann foi "coincidência". Segundo ele, quem intermediou a transação foi uma corretora de imóveis.
Neumann é marido de Maria Beatriz Braga, empresária chamada de "rainha da catraca", dona de empresas de ônibus em São Bernardo do Campo.
Além do transporte público, a família dela detém contratos com a prefeitura de Luiz Marinho (PT) por meio de uma construtora.
NOS ANOS 90 — O compadre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve envolvido em histórias controversas. O advogado Roberto Teixeira era o dono da casa em São Bernardo do Campo (SP) na qual o ex-presidente Lula morou sem pagar aluguel de 1989 a 1997 — Teixeira esteve no centro de uma polêmica envolvendo a cúpula do PT nos anos 90. O advogado foi acusado de fazer caixa dois para o PT.
Em 1997, Teixeira foi citado em um esquema de desvio de recursos de prefeituras do PT — foi acusado, na época, de ajudar uma empresa a obter contratos com prefeituras administradas pelo PT.
A Cpem, consultoria especializada na arrecadação de tributos, teria desviado parte dos valores recebidos pelos serviços prestados para financiar atividades do partido e de petistas, com a conivência de seus dirigentes — uma delas teria sido a Caravana da Cidadania, largada da campanha de Lula à Presidência em 1994.
As acusações partiram do economista e fundador do PT Paulo de Tarso Venceslau, que acabou rompendo com a legenda em 1998.
Teixeira sempre negou ter sido dono ou representante da empresa, mas admitiu ter dado auxílio eventual à consultoria — um irmão dele advogava para a Cpem —. Já Lula disse à época que Venceslau "fala asneiras".
O caso foi investigado por uma comissão interna do PT, que tinha entre seus membros o hoje ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).
O relatório final considerou Teixeira culpado, mas ele recorreu ao diretório nacional do PT e foi absolvido. O documento que o isentou foi assinado pelo ex-ministro José Dirceu, então presidente nacional da sigla, condenado no mensalão e atualmente preso por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Em 2006, quando era advogado da VarigLog, Teixeira foi suspeito de usar a amizade com o então presidente Lula para intermediar a venda da Varig à Gol — um negócio que precisava do aval do governo. Teixeira nega as acusações.





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