Em delação, Fernando Baiano diz que pagou despesas pessoais de filho de Lula
Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula |
Preso desde o ano passado em Curitiba (PR), Fernando Soares, também
conhecido como Baiano e acusado de ser um dos “operadores” do esquema de
desvios na Petrobrás, afirmou ao Ministério Público Federal ter feito
pagamentos ao empresário Fábio Luís Lula da Silva, filho do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Está destinada a causar um estrondoso tumulto a delação premiada de
Fernando Baiano, cuja homologação foi feita pelo ministro Teori Zavascki
na sexta-feira (09.out.2015). O operador (de parte) do PMDB na
Petrobras pôs no olho do furacão nada menos do que Fábio Luís Lula da
Silva, o Lulinha.
Baiano contou que pagou despesas pessoais do primogênito de Lula no
valor de cerca de R$ 2 milhões. Ao contrário dos demais delatores, que
foram soltos logo após a homologação das delações, Baiano ainda fica
preso até 18 de novembro, quando completa um ano encarcerado. Voltará a
morar em sua cobertura de 800 metros quadrados na Barra da Tijuca.
O advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o filho do
ex-presidente Lula, negou as afirmações de Baiano. “O sr. Fabio Luís
Lula da Silva jamais recebeu qualquer valor do delator mencionado”,
afirmou. O Instituto Lula, mantido pelo ex-presidente, não comentou.
As afirmações de Fernando Baiano incluem também campanhas presidenciais
do PT em 2006, quando Lula disputou a reeleição, e em 2010, ano da
primeira candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto.
Quem teve acesso ao conteúdo da delação conta que Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) é, sim, citado por Baiano, que reconhece suas relações com o
presidente da Câmara. Mas não faz qualquer revelação mais comprometedora
a respeito de Eduardo Cunha.
Fernando Baiano é apontado como lobista do PMDB no esquema de desvios da
Petrobrás e alvo da investigação da Polícia Federal no âmbito da
Operação Lava Jato. Baiano foi preso em novembro de 2014, na Operação
Juízo Final, etapa da Lava Jato que alcançou o braço empresarial do
esquema de corrupção na Petrobrás. Em uma primeira ação, Fernando Soares
foi condenado a uma pena de 16 anos e um mês de prisão. Ele ainda
responde a outros processos no âmbito da Lava Jato.
Os dois filhos de Lula
Em dez anos de governo do PT, os dois filhos do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o biólogo Fábio Luís, o Lulinha, e o estudante de
educação física Luís Cláudio da Silva se transformaram em grande
empresários. O aumento patrimonial considerado atípico e o estilo de
vida luxuoso têm gerado todo tipo de especulação sobre a possibilidade
enriquecimento ilícito e tráfico de influência. Com faturamento anual
milionário , os dois irmãos são sócios em duas holdings que administram
seis empresas nas áreas de entretenimento e eventos, a LLCS
Participações e a LLF Participações.
O primogênito de Lula foi catapultado para o mundo dos grandes negócios
dois anos depois da posse do pai no Planalto, em 2005, quando a antiga
Telemar — hoje Oi — pagou R$ 5,2 milhões para se associar com à
Gamecorp, uma microempresa de jogos na internet criada por Fábio e
amigos anos antes. O negócio gerou grande polêmica e até um inquérito
para apurar possíveis ilegalidades, arquivado por falta de provas pelo
Ministério Público Federal. Na época, questionado sobre o sucesso do
negócio, o então presidente Lula fez piada: “Que culpa tenho eu se meu
filho é o Ronaldinho dos negócios?”
Em entrevista à “Revista Piauí”, o ex-ministro José Dirceu contou que um
dos raros momentos que se indispôs com o amigo Lula foi quando estourou
na imprensa o negócio de Lulinha com a Telemar . No perfil traçado por
Dirceu para a jornalista Daniela Pinheiro, Lulinha é descrito como
alguém que tinha desprezo pela verdade . “É assim: estamos aqui tomando
cerveja, neste hotel simples, à tarde. Quando o Lulinha conta essa
história, ele conta assim: ‘Estavam os dois, à noite, tomando champanhe
Cristal no Hotel Ritz, em Paris’. Ele quer melhorar a história, ele
fabula. O Lulinha pegava pesado.”
Segundo a reportagem da “Piauí”, na ocasião, Dirceu disse ter procurado
Lula, que respondeu: “Você vai ficar enchendo meu saco por causa do
Lulinha, Zé Dirceu?”
Além da investigação sobre a transação da Gamecorp com a Telemar,
Lulinha foi investigado em uma ação da Polícia Federal por causa de suas
andanças na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná. Produzido pelo Núcleo
de Inteligência da PF, o documento afirma que Lulinha manteve encontros
em janeiro de 2008 com diretores de Itaipu, a empresa binacional de
energia. O relatório ganhou selo de confidencial e foi classificado pela
PF como um caso de “enriquecimento ilícito”, apesar de não haver menção
explícita ao crime no texto. O caso também foi arquivado.
Oposição tenta cobrar explicações de filhos de Lula
Desde 2006, quando estourou o caso da Gamecorp, parlamentares da
Oposição vem apresentando requerimentos de convocação de Lula e Lulinha
em várias CPIs para investigar tráfico de influência. Mas com a
blindagem da base governista, nenhum requerimento foi aprovado até hoje.
A oposição, agora, tenta mais uma vez levar Fábio Luís Lula da Silva, o
Lulinha, filho mais velho do ex-presidente Lula, ao Congresso Nacional
para explicar a acusação de que teve despesas pessoais pagas pelo
lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) vai apresentar um requerimento
pedindo a convocação na CPI da Petrobras. Para ele, os pagamentos de
Baiano, apontado como operador, ao filho do ex-presidente mostram que o
PT participou da divisão de propina mesmo nas diretorias que não
comandava na Petrobras.
Para os líderes da oposição, a revelação pode levar o ex-presidente para
o centro das investigações da operação Lava-Jato. Em sua página no
Twitter, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que a
notícia é um fato novo e grave que merece uma investigação profunda e
aberta.
Na avaliação de alguns peemedebistas, a denúncia de envolvimento de
Lulinha no escândalo da Lava-Jato irá dar uma “trégua” ao presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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