sexta-feira, 30 de outubro de 2015


O Banco Central prevê alta de 51,7% da energia e de 15% da gasolina em 2015 — Ata do Comitê de Política Monetária destaca que a inflação persiste no setor de serviços e nos preços administrados




A ata do Copom divulgada na manhã da quinta-feira, 29.out.2015, aponta que o Banco Central (BC) considera uma alta de 51,7% da tarifa de energia elétrica este ano — na edição anterior, a previsão era de 49,2%. A diretoria também leva em conta a hipótese de elevação de 15% do preço da gasolina (antes estava em 8,9%) e de alta de 19,9% do preço do botijão de gás, substituindo a taxa de 15%.
No caso de telefonia fixa, a autoridade monetária suprimiu a apresentação de sua previsão na ata. No documento passado, a estimativa para este segmento era de uma baixa de 3,5%.
Com isso, a autoridade monetária voltou a revisar para cima sua projeção para os preços administrados de 2015 e 2016. Para o BC, esse conjunto de itens apresentará este ano elevação maior até do que a prevista pelo mercado financeiro. Pelos cálculos do colegiado, o avanço será de 16,9% este ano, e não mais de 15,2% como constava na edição anterior.
O BC também voltou a dizer que os dados conhecidos até o momento indicam que os preços continuarão altos na economia brasileira, em especial no setor de serviços, entre os administrados e por causa de choques de oferta.
A análise do comitê no trecho "Evolução recente da economia" do documento foi feita depois que o colegiado listou o comportamento dos diferentes índices de inflação conhecidos até o dia da reunião que manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano.
"Em síntese, as informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que reflete, em parte, a dinâmica dos preços no segmento de serviços e, no curto prazo, o processo de realinhamento dos preços administrados e choques temporários de oferta no segmento de alimentação e bebidas", escreveram os diretores.
Eles observaram que a inflação medida pela variação do IPCA foi de 0,54% em setembro, 0,32 ponto porcentual acima da registrada no mês anterior. Dessa forma, a inflação acumulada em doze meses atingiu 9,49% em setembro (6,75% em setembro de 2014), com os preços livres aumentando 7,48% (7,17% em setembro de 2014), e os administrados, 16,35% (5,32% em setembro de 2014).
Especificamente sobre preços livres, a ata trouxe que os de itens comercializáveis aumentaram 6,41% em doze meses até setembro (6,86% em setembro de 2014), e os de não comercializáveis, 8,38% (7,46% em setembro de 2014).
Os diretores ressaltaram ainda que os preços no segmento de alimentação e bebidas aumentaram 10,04% em doze meses até setembro (8,21% em setembro de 2014), e os dos serviços, 8,13% (8,59% em setembro de 2014).
Estratégia. O BC retirou da ata do Copom trecho em que afirmava que os avanços alcançados no combate à inflação indicavam que a estratégia de política monetária estava na direção correta. Na ata divulgada na manhã da quinta-feira (29.out.2015), essa avaliação foi suprimida como também a análise de que havia sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo.
Como o esperado, o Copom retirou a hipótese de convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% em 2016. Nesse contexto, não fala mais no documento dos riscos de desvios significativos para a convergência da meta.
O documento também não traz mais o trecho em que afirmava que certos riscos remanescentes para que as projeções de inflação do Copom atinjam com segurança o objetivo de 4,5% no final de 2016 são condizentes com o efeito defasado e cumulativo da ação de política monetária.
O BC afirma a necessidade de se manter vigilante para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas e a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante. Esse prazo para efeitos de política monetária é de 24 meses. Ou seja, o centro da meta só deve ser atingido ao final de 2017.







O Ministério da Defesa exonerou do Comando Militar do Sul o general Antônio Mourão — O motivo: críticas que fez ao governo Dilma Rousseff e pelo fato de que uma homenagem póstuma a um chefe da repressão na ditadura ocorreu em um quartel sob sua jurisdição — Mourão é um dos mais respeitados comandantes militares do Exército





O general Antonio Hamilton Martins Mourão

O Comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, decidiu demitir o general Antonio Hamilton Martins Mourão, do comando Militar do Sul, e transferi-lo para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília. O general Mourão, assim, perde o comando de uma tropa e passa a exercer um cargo mais burocrático. Mourão é um dos mais respeitados comandantes militares do Exército. A mudanças foi incluída num pacote amplo de remanejamentos de postos militares, mas foi a única motivada por evento político. A reportagem não conseguiu contato com Mourão.
A decisão de afastar Mourão do comando foi tomada em virtude das declarações dadas a oficiais da reserva na qual fez duras críticas à classe política, ao governo e convocou os presentes para "o despertar de uma luta patriótica". Em uma palestra na capital gaúcha, Porto Alegre, há pouco mais de um mês, o comandante militar do Sul fez críticas indiretas à presidente Dilma Rousseff e, ao comentar a possibilidade de impeachment de Dilma, disse que "a mera substituição da PR( presidente da República) não trará mudança significativa no 'status quo'" e que "a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção".
O general Mourão afirmou ainda que "a maioria dos políticos de hoje parecem privados de atributos intelectuais próprios e de ideologias, enquanto dominam a técnica de apresentar grandes ilusões". A gota d'água para o afastamento do general Mourão veio no início da semana, quando um general sob seu comando promoveu uma homenagem póstuma ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar presos durante o regime militar.
O Comandante da 3ª Divisão de Exército, general José Carlos Cardoso, subordinado a Mourão chegou a expedir convites para a cerimônia realizada em Santa Maria, cidade natal de Ustra, que morreu dia 15 de outubro — Ustra foi chefe do DOI-Codi, um dos principais centros de tortura e repressão aos adversários do regime militar (1964-85). A presidente Dilma Rousseff foi presa e torturada nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do 2º Exército) em São Paulo.
O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, já havia conversado com a presidente Dilma Rousseff sobre as declarações do general há pelo menos dez dias. Na ocasião, Aldo relatou as conversas que vinha mantendo com o comandante do Exército sobre o caso de Mourão e de outras declarações de militares que estavam pipocando pelo País. A ideia era transferir o general Mourão de cargo — mostrando que ele perdeu o posto — para dar uma demonstração de que este tipo de postura não é aceitável por parte de um general de Exército da ativa. Para o ministro da Defesa, Mourão perdeu a condição de comando com a sequência de fatos. A proposta obteve a plena concordância da presidente.
A exoneração será um teste político para Aldo, que é do PC do B, partido que notabilizou-se durante a ditadura por promover uma guerrilha contra o governo militar.
Na quinta-feira (29.out.2015), após reunião do Alto Comando do Exército, a transferência do general Mourão foi efetivada, e para o seu lugar foi designado o general Édson Leal Pujol, que já foi comandante das tropas no Haiti e atualmente estava na Secretaria de Economia e Finanças do Exército, para onde vai Mourão. Na reunião do Alto Comando, o assunto foi tratado e houve recomendação do general Villas Bôas para que este tipo de comportamento seja evitado por todos.
Questionamento. O senador Aloysio Nunes, presidente da Comissão de Relações Exteriores, enviou ofício ao ministro Aldo Rebelo, questionando se o general Mourão estaria incitando os militares. O senador Aloysio Nunes se referia à fala do general na qual ele diz que "ainda tínhamos muitos inimigos internos, mas que eles se enganavam achando que os militares estavam desprevenidos". E emendou, provocando: "eles que venham!'".
O requerimento aprovado na quinta-feira (29.out.2015), pelo senador Aloysio Nunes pedindo esclarecimentos ao ministro da Defesa sobre o caso, fez com que o processo fosse ainda mais rapidamente deflagrado e o desfecho do caso, com o afastamento do general Mourão tivesse sido imediato. A rapidez da solução do problema agradou o Planalto, que não quer mais marola nesta onda de más notícias políticas que toma conta de Brasília.
Aldo Rebelo respondeu ao senador informando que "determinou ao comandante do Exército que tome providências com brevidade e rigor que o caso requer". Determinou ao general Villas Bôas ainda que "adote medidas necessárias visando assegurar que o Exército Brasileiro continue a se pautar no estrito cumprimento de sua missão constitucional e a transitar no seio da Nação com elevada credibilidade que a sociedade confere ás Forças Armadas". A resposta foi imediatamente encaminhada ao presidente da Comissão.
No Senado, Aloysio Nunes se disse "chocado" com as declarações atribuídas ao general Mourão. Para o senador, o militar deve ter sido motivado por indignação com eventos recentes relacionados à corrupção no governo. Mas condenou a atitude. "É claro que isso gera uma revolta geral com todos, não apenas os militares. Mas não é razão para um militar expor, especialmente em uma cerimônia pública, um ponto de vista como esse."
Os militares sabem que haverá solidariedade dos militares da reserva por causa do afastamento de Mourão, mas não esperam que haja repercussão entre o pessoal da ativa.





quinta-feira, 29 de outubro de 2015


Corrupção da Lava Jato supera orçamento de 
dois anos do Ministério Público Federal





Rodrigo Janot defende a Lava Jato

Durante o 32º Encontro Nacional de Procuradores de República, Rodrigo Janot afirmou que a corrupção revelada pela Operação Lava Jato já é superior ao orçamento de 2014 e 2015 do Ministério Público Federal. O valor desviado da Petrobras soma US$ 1,5 bilhão.
Desse dinheiro, cerca de US$ 847 milhões já foram recuperados e US$ 248 milhões estão bloqueados em contas no exterior. Janot criticou aqueles que acham que a Lava Jato está prejudicando a economia brasileira, e disse que o dinheiro desviado reflete “muito mais negativamente na queda do PIB do que a Operação”.
“Pela primeira vez na história estamos investigando corruptos e corruptores, embora as pessoas com direito a foro privilegiado continuem no exercício de seus respectivos mandatos, incluindo o presidente da Câmara”, disse Janot, em referência a Eduardo Cunha, acusado de manter contas na Suíça com dinheiro de propina da Petrobras.
Operação Lava Jato em números — Janot citou alguns números que dão ideia da dimensão da corrupção na Lava Jato:
259 acusações.
184 investigações.
78 pedidos de assessoria jurídica internacional, em 28 países (como a China, Inglaterra, Suíça, Coreia do Sul e Dinamarca).
49 parlamentares investigados, entre eles Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Claheiros.
40 condenações.
35 acordos de delação premiada, entre essas 27 com pessoas soltas e oito com presos.
34 ações criminais.






Cúpula do PT busca unificar partido sobre não afastamento de Cunha — em reunião do Diretório Nacional, será solicitado aos deputados que não "prejulguem" Eduardo Cunha





Um grupo de oito manifestantes da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos
se algemou a uma pilastra no Salão Verde da Câmara em um protesto pelo impeachment

No momento em que a ameaça de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff volta a ganhar força, a cúpula do PT recomendará que os deputados do partido no Conselho de Ética não façam "prejulgamento" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de manter contas secretas na Suíça com dinheiro de propina da Petrobras. A informação aponta que a posição do partido deverá ser referendada, pelo Diretório Nacional do PT, em reunião.
O presidente do PT, Rui Falcão, questionou: "Como vamos julgar quem ainda nem é réu no Supremo? Está certo que não dão esse tratamento para nós, que somos sempre culpados até prova em contrário, mas não faremos isso".
O PT está rachado quanto à posição sobre Eduardo Cunha. Uma linha do partido, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cobra a cassação do presidente da Câmara, em representação comandada pelo PSOL e pela Rede. Chegou na quarta-feira (28.out.2015) ao Conselho de Ética da Câmara o processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Casa, acusado de mentir em depoimento na Comissão de Constituição e Justiça sobre contas no exterior.
O partido petista tenta ganhar tempo e não se posicionar favorável ao afastamento de Cunha, na tentativa de impedir a abertura de um processo de impeachment contra Dilma. O presidente da Câmara já anunciou que decidirá em novembro sobre a representação apresentada pelos líderes da oposição no último dia 21out.2015. Elaborado pelos juristas Helio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, o pedido é justificado nas pedaladas fiscais de 2015.
Segundo informações, há uma recomendação técnica favorável ao impeachment que será entregue ao presidente da Câmara nesta semana. Cunha afirmou que "a palavra final é a do presidente", depois de negar boatos de que teria dito a colegas de partido que um fator externo influenciaria sua decisão sobre a abertura do processo: o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando seu afastamento do comando da Câmara.
Na quarta-feira (28.out.2015), um grupo de oito manifestantes da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos se algemou a uma pilastra no Salão Verde da Câmara em um protesto pelo impeachment — que tem apoio de partidos de oposição como DEM e PSDB, e de 45 movimentos, entre eles Brasil Livre e Vem Pra Rua.
Cunha já indeferiu 11 pedidos que estavam aguardando sua análise. De acordo com a Mesa Diretora da Casa, desde o início de 2015 foram apresentadas 27 pedidos de afastamento da presidente Dilma. Desse total, 20 já foram arquivados.






Petrobras é acusada nos Estados Unidos de enganar investidores — em documento enviado à corte de Nova York, advogados dos investidores estrangeiros afirmam que a estatal continuou apresentando dados falsos até julho deste ano — também, segundo os advogados, a Petrobras quer encurtar o prazo coberto pela a ação coletiva, com a intenção de reduzir o valor de uma eventual indenização que a companhia teria de pagar






Advogados que representam investidores estrangeiros em ação coletiva contra a Petrobras na Corte de Nova York acusam a empresa de produzir documentos "falsos e enganosos" mesmo após o início dos litígios na Justiça dos Estados Unidos. Em documento enviado ao juiz que cuida do caso, Jed Rakoff, eles afirmam que, mesmo após março de 2015, a petroleira continuou enganando os investidores.
A Petrobras quer encurtar o prazo coberto pela a ação coletiva que corre em Nova York, o que, segundo advogados, reduziria o valor de uma eventual indenização que a companhia teria de pagar. Já os investidores querem aumentar o período. Originalmente, o processo aberto em dezembro de 2014 inclui investidores que aplicaram em papéis da empresa nos Estados Unidos entre janeiro de 2010 e 19 de março de 2015. Mas os fundos querem que seja estendido até 28 de julho. Já a Petrobras diz que não faz sentido incluir investidor que adquiriu papéis após as repercussões da Operação Lava Jato.
'Documentos falsos' — No documento desta semana, os advogados dos investidores argumentam que mesmo após março, quando foi apresentado o processo consolidado da ação coletiva, a petroleira seguiu divulgando comunicados enganosos sobre o montante pago em propinas nos "contratos ilícitos".
O texto cita como exemplo que a companhia informou em abril, ao anunciar seus resultados auditados de 2014, que a perda contábil com pagamento de propinas seria de 2,57 bilhões de dólares, bem abaixo de relatos publicados na mídia, que falavam da expectativa de perdas de 30 bilhões de dólares. Em maio, a companhia voltou a falar do mesmo número, ressalta o documento.
Os advogados argumentam que a "falsidade" dos números da Petrobras sobre a estimativa de perdas com as propinas começou a vir à tona em julho, quando a Polícia Federal declarou que o montante de perdas era "significativamente maior" que os 2,57 bilhões de dólares. Os desdobramentos do caso desde então seguiram provocando queda nas ações, afirma o texto.
Executivos sob suspeita — Outra acusação dos advogados é que a Petrobras inicialmente informou que o esquema de corrupção teria sido conduzido por apenas três executivos, Paulo Roberto Costa, Renato de Souza Duque e Pedro Barusco. O texto ressalta que investigações da PF na Odebrecht e na petroleira divulgadas em julho mostraram que "100 executivos" com influência na elaboração de contratos recebiam "presentes", incluindo a ex-presidente Graça Foster.
"Os acusados querem evitar as responsabilidades com respeito a informações falsas e enganosas sobre a quantidade de pagamentos ilícitos que a Petrobras capitalizou de forma inapropriada", afirma o documento apresentado esta semana ao juiz e assinado pelos escritórios dos investidores, Pomerantz, Motley Rice e Labaton Sucharow. "Informações corretivas devem ser divulgadas ao público com um grau de intensidade e credibilidade suficiente para contrabalançar qualquer informação enganosa produzida antes pelos comunicados enganosos. Esse dificilmente é o caso aqui", afirma o documento.
Mercado doméstico — Além da discussão sobre o prazo coberto pela ação coletiva, a Petrobras questiona que alguns investidores não conseguiram comprovar que compraram papéis no mercado doméstico dos Estados Unidos e em ofertas primárias. Os advogados dos investidores refutam este argumento e dizem já ter apresentado as comprovações.
O documento menciona que fundos do Havaí e da Carolina do Norte e a gestora Union Asset Management comprovaram a compra dos títulos em ofertas primárias, baseados nas "informações falsas e enganosas" que constavam dos prospectos, que escondiam o esquema de corrupção. Por isso, tiveram prejuízos quando as denúncias de corrupção vieram a público.
Procurada, a Petrobras não se pronunciou sobre o caso.






O aquecimento global coloca em risco a agricultura brasileira — Estudo da Embrapa mostra como que as mudanças climáticas ameaçam as produções de arroz, milho e soja





Plantação de soja em Cascavel, no Paraná

A agricultura já é normalmente vulnerável a eventos climáticos — basta ver os impactos das fortes chuvas no Sul ou da seca em São Paulo, por exemplo. Em um cenário de forte aumento da temperatura do planeta, a situação fica extrema. Uma análise feita pela Embrapa mostra, em mapas, o risco que nossas lavouras correm por conta do aquecimento global.
Os mapas foram preparados pelo pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa. Eles mostram como que um planeta mais quente afetará três importantes culturas brasileiras: arroz, milho e soja. Os mapas comparam as áreas de risco de perda de lavoura dessas culturas registradas em 1990 com as previsões de perda de lavoura no futuro de um dos cenários do IPCC, o que prevê o aumento de 3,7ºC na média de temperatura em 2085.
O material faz parte de um estudo mais amplo, liderado pelo presidente da Capes, Carlos Nobre, para avaliar os riscos de um aquecimento global extremo no Brasil. A agricultura é uma parte importante do relatório, já que o Brasil é grande produtor de grãos. Segundo Assad, o país tem tecnologia para adaptar lavouras, e já faz isso com o café ou o feijão. Mas essa adaptação é limitada. "É possível adaptar lavouras para um aquecimento de 2ºC. Passou disso, o risco é muito grande".

Confira nos mapas abaixo – clicando nas figuras – a comparação dos riscos de perda das lavouras de soja, milho e arroz, no país, entre 1990 e 2085:






O ESTUDOOs riscos do aquecimento global no Brasil
Estudo avalia quais podem ser impactos mais catastróficos das mudanças climáticas: quebra de lavouras, ondas de calor e apagões
Uma equipe de prestigiados pesquisadores brasileiros decidiu avaliar o risco do cenário mais pessimista de mudanças climáticas. A conclusão é que vale a pena agir para impedir mesmo as catástrofes mais improváveis.
O estudo foi liderado pelo climatologista do IPCC e presidente da Capes, Carlos Nobre, e conta com pesquisadores de órgãos como a Embrapa, Fiocruz e Coppe-UFRJ. O trabalho segue a metodologia criada pelo cientista do governo do Reino Unido, sir David King, já aplicada em países como Reino Unido, Índia e China.
King explica que a ideia é fazer com o tema das mudanças climáticas uma análise similar a que foi feita com o risco de um surto de gripe aviária.
O Reino Unido calculou o risco do vírus H5N1 sofrer uma mutação e infectar humanos em 1% nos próximos dez anos — um risco pequeno. Porém, os danos caso esse risco se concretize seriam enormes, podendo gerar milhões de vítimas. Ao fazer esse balanço, o país decidiu investir em uma vacina em vez de ficar esperando para saber se o vírus sofreria mutação. Seguindo essa lógica, um dos efeitos do aquecimento global, o aumento de mais de 10 metros do nível do mar, tem poucas chances de acontecer neste século, mas o mero fato de essa possibilidade existir seria o suficiente para os governos se mobilizarem e impedir o derretimento do gelo no Ártico.
No caso específico brasileiro, os pesquisadores analisaram quatro áreas. Descobriram que, escondido no cenário mais pessimista, há perdas enormes de lavoura, apagões, mortes por ondas de calor e desaparecimento da rica fauna brasileira. Os dados ainda são preliminares. O estudo ainda está em andamento, e será divulgado oficialmente no ano que vem, mas já temos alguns resultados.
Agricultura – O Brasil tem tecnologia, ou está aprimorando, para conseguir adaptar suas principais lavouras para um clima mais quente. Já há formas de produzir soja ou café, por exemplo, com sementes resistentes ao calor. Mas isso tem um limite. "É possível adaptar lavouras para um aquecimento de 2C. Passou disso, o risco é muito grande", diz Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e um os autores do estudo. Caso o mundo fique 4C mais quente, a probabilidade de danos às culturas de arroz, milho e soja é muito alta. No cenário mais pessismista, a produção agrícola brasileira entra em colapso.

Energia – O Brasil é muito dependente de usinas hidrelétricas para a geração de eletricidade. Essas usinas dependem da quantidade e distribuição das chuvas. Os modelos climáticos mostram que, em um cenário de 4°C de aquecimento, o Brasil poderá perder um quarto de seu potencial de geração de energia hídrica. Secas e apagões poderão se tornar frequentes.

Saúde humana – Ondas de calor como a que recentemente matou milhares de pessoas na Índia podem se tornar comum no Brasil. O ser humano tem um limite fisiológico do quanto ele aguenta de calor. Pessoas devem evitar ficar expostas por muito tempo a temperaturas acima de 35°C com muita umidade. No cenário mais grave, qualquer um que não tiver ar condicionado estará em risco.

Biodiversidade – Para o país com uma das maiores biodiversidades do mundo, o Brasil tem muito a perder. A Amazônia pode sofrer um processo de savanização, e o semiárido pode virar um semideserto. O resultado é que calcula-se que 16% das espécies brasileiras seriam extintas.
Como evitar os cenários mais extremos? Há estratégias de adaptação e reflorestamento. Mas para Nobre, só é possível resolver o problema controlando a emissão de gases de efeito estufa. "Se não queremos correr esses riscos, precisamos pagar o seguro, e o seguro é manter a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera abaixo de 350 partes por milhão (ppm)." Tarefa difícil. A concentração atual está em 400 ppm, e as propostas apresentadas pelos governos mundiais mostram que essa trajetória dificilmente será mudada.






Deputados têm 'upgrade' e ganham televisor de 92 polegadas no cafezinho — aparelho foi instalado em espaço que tem ligação direta com o Plenário e que é usado para refeições e reuniões





Os deputados ganharam na quarta-feira (28.out.2015) um presente de Natal antecipado. Foi instalado no cafezinho da Câmara, espaço com ligação direta ao Plenário onde muitos parlamentares se reúnem, almoçam e fazem refeições durante as votações, um televisor de 92 de polegadas. O aparelho substituiu uma televisão de 60 polegadas.
A programação é livre. Por exemplo: enquanto ocorria sessão deliberativa no Plenário, um grupo de deputados e servidores assistia à vitória de 1 a 0 do Brasil sobre a Nova Zelândia, no mundial sub-17 de futebol.
A nova TV à disposição dos deputados é composto por quatro telas de tecnologia LED. O equipamento faz parte de um lote comprado inicialmente para a instalação de monitores eletrônicos nas comissões da Câmara. Segundo a área de tecnologia da Casa, foi usado um aparelho de reserva, que não estava sendo usado para esse fim.

Deputados assistem jogo em televisão nova de 92 polegadas






Com contratos milionários,
filho de Lula mora de favor em imóvel





Luís Cláudio Lula da Silva

Empresário de marketing esportivo com contratos milionários, Luís Cláudio Lula da Silva mora, sem pagar aluguel, em um apartamento nos Jardins, em São Paulo, que pertence a amigos de seu pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Luis Cláudio é dono das empresas LFT Marketing Esportivo e Touchdown — alvos de busca e apreensão da Polícia Federal na segunda-feira (26.out.2015).
Ele e a mulher, Fatima Cassaro, vivem há três anos em um apartamento de 158 m², na alameda Jaú, nos Jardins, que pertence à Mito Participações Ltda, empresa que tem como cotistas a esposa e as filhas do advogado Roberto Teixeira — amigo do ex-presidente e padrinho de batismo de Luis Cláudio.
Construído nos anos 1970, o edifício Cristal não tem salão de festas, piscina ou academia e cada morador conta com uma vaga na garagem.
O apartamento do 6º andar tem três quartos e uma sala ampla (45 m²). Por causa da localização privilegiada, imóveis idênticos no mesmo prédio foram vendidos recentemente por R$ 1,2 milhão.
Segundo moradores, o aluguel gira em torno de R$ 5 mil mensais. Cristiano Martins, advogado de Luis Cláudio e genro de Teixeira, disse que o filho de Lula tem um "acordo verbal" com as donas do local para que não pague aluguel e apenas se encarregue das despesas do imóvel.
Ex-preparador físico de times como Palmeiras e Corinthians, hoje Luis Cláudio investe em uma liga de futebol americano no Brasil. Essa é uma das justificativas para não pagar o aluguel. "Hoje ele investe bastante na modalidade. Tem o patrocínio mas tem o investimento dele", explica o advogado Martins.
A LFT Marketing Esportivo recebeu R$ 2,4 milhões de uma firma de lobistas suspeita de pagar propina para aprovar Medida Provisória que beneficiou montadoras.
O pagamento levou o MPF pedir a busca no escritório de Luis Cláudio, ação que Martins classificou de "despropósito" e busca anular.
AÇÃO ENTRE AMIGOS — Pelos registros de cartório, a Mito Participações comprou o apartamento que empresta ao filho de Lula, em dezembro de 2011, por R$ 500 mil.
O dono anterior era a Peabody Trade, offshore sediada nas Bahamas, paraíso fiscal no Caribe. Procurador da Peabody no país, o empresário uruguaio André Neumann disse que vendeu o imóvel a preços de mercado. Afirmou que o apartamento foi adquirido por uma empresa e disse que não conhecia os futuros donos do imóvel.
Já Martins diz que o empresário é "conhecido" da família de Teixeira, mas fala que a aquisição do imóvel de Neumann foi "coincidência". Segundo ele, quem intermediou a transação foi uma corretora de imóveis.
Neumann é marido de Maria Beatriz Braga, empresária chamada de "rainha da catraca", dona de empresas de ônibus em São Bernardo do Campo.
Além do transporte público, a família dela detém contratos com a prefeitura de Luiz Marinho (PT) por meio de uma construtora.
NOS ANOS 90 — O compadre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve envolvido em histórias controversas. O advogado Roberto Teixeira era o dono da casa em São Bernardo do Campo (SP) na qual o ex-presidente Lula morou sem pagar aluguel de 1989 a 1997 — Teixeira esteve no centro de uma polêmica envolvendo a cúpula do PT nos anos 90. O advogado foi acusado de fazer caixa dois para o PT.
Em 1997, Teixeira foi citado em um esquema de desvio de recursos de prefeituras do PT — foi acusado, na época, de ajudar uma empresa a obter contratos com prefeituras administradas pelo PT.
A Cpem, consultoria especializada na arrecadação de tributos, teria desviado parte dos valores recebidos pelos serviços prestados para financiar atividades do partido e de petistas, com a conivência de seus dirigentes — uma delas teria sido a Caravana da Cidadania, largada da campanha de Lula à Presidência em 1994.
As acusações partiram do economista e fundador do PT Paulo de Tarso Venceslau, que acabou rompendo com a legenda em 1998.
Teixeira sempre negou ter sido dono ou representante da empresa, mas admitiu ter dado auxílio eventual à consultoria — um irmão dele advogava para a Cpem —. Já Lula disse à época que Venceslau "fala asneiras".
O caso foi investigado por uma comissão interna do PT, que tinha entre seus membros o hoje ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).
O relatório final considerou Teixeira culpado, mas ele recorreu ao diretório nacional do PT e foi absolvido. O documento que o isentou foi assinado pelo ex-ministro José Dirceu, então presidente nacional da sigla, condenado no mensalão e atualmente preso por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Em 2006, quando era advogado da VarigLog, Teixeira foi suspeito de usar a amizade com o então presidente Lula para intermediar a venda da Varig à Gol — um negócio que precisava do aval do governo. Teixeira nega as acusações.





quarta-feira, 28 de outubro de 2015


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), publicou decreto que zera as alíquotas de ICMS do arroz e do feijão, que compõem a cesta básica  — enviou à Assembleia Legislativa uma proposta para reduzir o imposto cobrado da areia, de 12% para 8%, e a alíquota incidente sobre medicamentos genéricos de 18% para 12% — Alckmin também enviou à Assembleia Legislativa o projeto de lei que eleva de 18% para 23% o ICMS da cerveja e de 25% para 30% o do cigarro. Fora isso, propõe adicional de 2% na bebida alcoólica e no derivado do tabaco para financiar um Fundo de Pobreza — os decretos que zeram as alíquotas não precisam ser apreciados em plenário, entram em vigor no início de 2016, mas a modificação na alíquota dos outros itens depende da aprovação dos deputados estaduais 





O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)

São Paulo — O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer aumentar o imposto cobrado de cerveja e cigarro, ao mesmo tempo que isentou dois produtos da dieta básica do brasileiro: o arroz e o feijão. A redução do ICMS dos dois alimentos já está publicada e entrará em vigor em 2016, mas a elevação do tributo sobre a bebida alcoólica e o derivado do tabaco depende de aprovação dos deputados estaduais.
Alckmin enviou nesta quarta-feira, 28.out.2015, à Assembleia Legislativa projeto de lei que eleva de 18% para 23% o ICMS da cerveja e de 25% para 30% o do cigarro. Fora isso, os dois produtos terão cobrança adicional de 2%, para financiar um Fundo de Pobreza, também a ser criado pelos deputados estaduais, segundo o líder do governo, Cauê Macris (PSDB). "Este fundo será destinado a áreas sujeitas a vulnerabilidade e a expectativa é que a arrecadação anual seja da ordem de R$ 1 bilhão", afirmou o deputado tucano.
Além do projeto que eleva o ICMS da cerveja e do cigarro e do que cria o Fundo de Pobreza, Alckmin enviou uma proposta para reduzir o imposto cobrado da areia, muito utilizada na construção civil, de 12% para 8%, e reduzindo a alíquota incidente sobre medicamentos genéricos de 18% para 12%. Além dos projetos de lei, Alckmin publicou o decreto que zera as alíquotas de ICMS do arroz e do feijão, que compõem a cesta básica — antes, o governo paulista cobrava 7% de imposto sobre esses dois alimentos.
Como os decretos que zeram essas alíquotas não precisam ser apreciados em plenário, eles entram em vigor no início do ano que vem. Com relação aos projetos de lei, a expectativa do líder do governo é que eles sejam votados até dezembro, para entrar em vigor já no ano fiscal de 2016. A gestão Alckmin tem ampla maioria na Assembleia e a avaliação é que as alterações nas alíquotas de ICMS e a criação do Fundo de Pobreza sejam aprovadas.
Outro projeto encaminhado nesta quarta-feira, 28.out.2015, pelo governo paulista é o que permite o parcelamento ou a isenção dos juros das pessoas que possuem dívidas com o Estado. Para Cauê Macris, as medidas fazem parte de um ajuste fiscal do governo paulista que procura poupar a população de menor poder aquisitivo, ao zerar as alíquotas do feijão e do arroz e destinar parte da arrecadação do imposto incidente sobre cerveja e cigarro para um fundo com foco em áreas de vulnerabilidade e projetos sociais. "Além disso, a inflação tenderá a cair (com o menor ICMS dos produtos básicos da cesta básica)", disse o tucano.






Receita Federal recomenda quebra dos sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo de Luís Cláudio Lula da Silva — auditores sugerem que as mesmas medidas sejam adotadas em relação ao restaurante Sanfelice Comércio de Massa Artesanal, que está em nome de Myriam Carvalho, filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro e ex-chefe de gabinete de Lula





A Receita Federal recomendou ao Ministério Público Federal que peça a quebra dos sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo, que tem como sócio Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os auditores que trabalham nas investigações da Operação Zelotes também sugerem que as mesmas medidas sejam adotadas em relação ao restaurante Sanfelice Comércio de Massa Artesanal, que está em nome de Myriam Carvalho, filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro e ex-chefe de gabinete de Lula.
Nos dois casos, a recomendação é que as quebras sejam feitas entre 2008 e 2015, abarcando todo o período de funcionamento das empresas. Ambas foram abertas em 2011.
As solicitações, da área de Inteligência da Receita, foram encaminhados aos procuradores da República que atuam na força-tarefa da Zelotes. Cabe a eles enviar os pedidos à Justiça Federal. A reportagem apurou que a autorização seria solicitada em pedido apartado dos que resultaram na nova fase da operação deflagrada. Procurado, o Ministério Público Federal não se pronunciou a respeito.
A empresa do filho de Lula entrou no foco das investigações após a descoberta de que recebeu repasses da Marcondes & Mautoni Empreendimentos, empresa de lobby contratada por montadoras de veículos para, supostamente, "comprar" medidas provisórias nos governos de Lula e da presidente Dilma Rousseff. A quebra de sigilo da Marcondes revelou a transferência de ao menos R$ 1,5 milhão para a LFT em 2014.
Os investigadores querem levantar outras eventuais fontes de receita da empresa de Luís Claudio, além do destino do dinheiro recebido da Marcondes & Mautoni. A suspeita é de que os repasses para a LFT tenham relação com a MP 627/2013, uma das três normas que teriam sido encomendadas pelo setor automotivo. Por causa dos indícios de irregularidade, a Justiça autorizou busca e apreensão na sede da empresa, em São Paulo. No escritório, também funcionam outras duas firmas de Luís Cláudio (Touchdown e Cassaro).
A defesa de Luís Cláudio nega irregularidades nos contratos.
Transferência. Foi a equipe da Receita que descobriu a transferência de dinheiro da Marcondes & Mautoni para a LFT. Segundo relatório da investigação, a empresa não tem funcionários, não fez pagamento de salários ou recolheu contribuição previdenciária de empregados.
Questionado pela reportagem no início do mês, o filho de Lula confirmou ter recebido R$ 2,4 milhões da Mautoni por serviços prestados em sua área de atuação. Os recursos seriam referentes ao período de 2014 e 2015.
Em 2014, 97% do que a Mautoni faturou veio de contratos com montadoras. O dinheiro que saiu da empresa em 2014, segundo relatórios da Receita, foi para os sócios e o filho de Lula. Os advogados da LFT informaram que, "infelizmente", não poderiam comentar a recomendação de quebra de sigilos, pois se trata de algo que desconhecem.
Os pedidos sobre o restaurante Sanfelice, em nome da filha do ex-ministro Gilberto Carvalho, seguem a mesma lógica. Os investigadores querem saber se o petista usou a empresa em nome da filha para receber dinheiro da Marcondes & Mautoni.
Documentos apreendidos em fases anteriores da Zelotes mostram o nome do ex-chefe de gabinete de Lula associado a inscrições sobre a MP 471, de 2009, editada pelo então presidente. Para os investigadores, havia um "conluio" entre ele e a consultoria na defesa de "interesses do setor automobilístico".
Segundo dados públicos da Receita, o restaurante foi aberto em 25 de maio de 2011, em Brasília, com capital de R$ 20 mil, e tem como sócios Myriam e Gabriel de Albuquerque Carvalho. A cantina vende massas congeladas para preparo em casa e chegou a ter uma filial, funcionando como restaurante, fechada recentemente.
A reportagem não conseguiu contato com Carvalho ou com os sócios do restaurante. O ex-ministro nega conluio com os investigados e sustenta nunca ter feito gestões a respeito no governo ou recebido valores do grupo.






Lobistas suspeitos de “comprar” medidas provisórias (MPs) tinham elos no Planalto e em dois ministérios — Relatório da Polícia Federal lista 'contatos' de alvos da Operação Zelotes, entre eles o número 2 do Planejamento e Erenice Guerra, e aponta 'canal do lobby' de montadoras para aprovação de medidas provisórias benéficas ao setor automotivo





Relatório da Polícia Federal (PF) diz que lobistas investigados por “comprar” medidas provisórias (MPs), entre elas a MP 471/2009, tinham contatos no Palácio do Planalto e ao menos dois ministérios para, supostamente, negociar benefícios fiscais de interesse de montadoras de veículos. A análise da MP 471 passou pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na época comandado pelo ministro Miguel Jorge; Fazenda (Guido Mantega), Ciência e Tecnologia (Sérgio Machado Rezende), além da Casa Civil da Presidência (Dilma Rousseff).
O relatório cita como possíveis contatos dos lobistas Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil entre 2005 e abril de 2010; e Dyogo Henrique de Oliveira, então secretário-adjunto da Secretaria de Política Econômica, ligada ao Ministério da Fazenda, e hoje secretário-executivo do Planejamento.

Erenice Guerra foi citada em relatório da PF

Além deles, os investigadores mencionam o ex-ministro Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do ex-presidente Lula entre 2003 e 2010 e titular da Secretaria-Geral da Presidência entre 2011 e 2014, na gestão Dilma; Nelson Machado, ex-secretário-executivo da Fazenda; e Lytha Battiston Spíndola, ex-secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Desenvolvimento. Também é citado no relatório Helder Chaves, outro servidor que chefiou a Camex.
Na Casa Civil, de acordo com a investigação, “é certo” que os lobistas Alexandre Paes dos Santos, o APS, e José Ricardo da Silva tinham “acesso direto” a Erenice Guerra. “Erenice era frequentadora do escritório de José Ricardo, nas palavras de Hugo Rodrigues Borges (ex-funcionário de José Ricardo), o que nos parece ser verdade, tendo em vista que os mesmos, inclusive, possuem parceria de trabalho na defesa de interesse da empresa Huawei do Brasil Telecomunicações junto ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais)”, registra a PF.


Para a PF, outra pessoa que “possivelmente” manteve contato com os lobistas foi “Dyogo Henrique de Oliveira”, que na época estava no Ministério da Fazenda. Ele é citado numa agenda na qual APS registrava dados sobre a negociação das MPs. Num dos trechos, o lobista anotou “Diogo/José Ricardo”, seguido de “Secretaria de Política Econômica” e “SPE”.
No Ministério do Desenvolvimento, o relatório da PF indica ainda a participação de Lytha Spíndola nas prorrogações dos incentivos de 2010 a 2015 e de 2015 a 2020 como “o canal de lobby naquele órgão”. Auditora fiscal aposentada em 2012, ela é mãe de Vladimir Spíndola Silva, descrito como “parceiro de empreitada” de um dos sócios da SGR Consultoria, Edison Pereira Rodrigues.
Mãe e filho são suspeitos de receber dinheiro do esquema. Eles foram conduzidos pela PF a prestar depoimento na última segunda-feira (26.out.2015). Também houve buscas nas residências e escritórios de ambos. “Importa ressaltar a existência de pagamentos pela Marcondes e Mautoni (empresa investigada) para as contas do escritório dos filhos de Lytha, Vladimir e Camilo, que recebeu R$ 506.790 mil líquidos em 2010, e da empresa de consultoria deles, a Green Century Consultoria Empresarial e Participações, que recebeu R$ 913.301,85 entre 2011 e 2012″, sustenta o documento.


Chope. A PF aponta ainda “outra pessoa que pode ter sido usada para influenciar o processo de elaboração da medida provisória”: Helder Chaves, servidor que chefiou a Camex em 2010. Em e-mails daquele ano, José Ricardo diz ter colaborado para que Helder fosse nomeado para o cargo. Num deles, os dois combinam um chope.
Ele chega a trocar mensagem com o servidor em maio daquele ano, consultando-o sobre a possível ampliação, por meio de “emendas parlamentares”, dos benefícios previstos na 471. “As emendas permitiriam que novos empreendimentos pudessem, também, se beneficiar dos incentivos. (…) Qual sua opinião técnica sobre isso?”, questiona o lobista. Novos incentivos foram concedidos em novembro pela MP 512, após passar pelo Desenvolvimento. A norma também está sob suspeita de ter sido encomendada.


“Amigo”. O ex-ministro Gilberto Carvalho prestou depoimento na segunda-feira (26.out.2015) sobre sua ligação com o empresário Mauro Marcondes Machado, da Marcondes e Mautoni. A PF vê suposto “conluio” do ex-ministro com o lobista na defesa de interesses do setor automobilístico. O relatório diz que os dois têm relação de intimidade.
Em 2007, ao pedir que o então chefe de gabinete entregasse um documento de grandes empresas ao então presidente Lula, o lobista escreveu: “Estou recorrendo mais uma vez ao amigo para cumprir mais uma vez esta incumbência daquela forma informal e low profile que só você consegue fazer, sem as formalidades e no momento oportuno”.
Na agenda de APS, além de citação a Gilberto Carvalho, é mencionado “Nelson Machado”. “Tudo indica ser o número 2 do Ministério da Fazenda”, registra a PF.
O outro lado. Erenice Guerra informou que não falaria a respeito. Dyogo não atendeu a telefonema da reportagem. Ele foi procurado por meio da assessoria de imprensa do Ministério do Planejamento, mas não respondeu. O ex-ministro Gilberto Carvalho nega conluio ou participação em qualquer negociata com os lobistas.
Em nota, Lytha Spíndola afirmou ter sido surpreendida com a divulgação de graves acusações contra si. Ela sustentou que sempre exerceu cargos públicos com “empenho e retidão” e adiantou que prestará os devidos esclarecimentos à Justiça. “Não recebi pagamentos diretos ou indiretos e não tive qualquer participação na edição de medidas provisórias para o setor automotivo”, disse. Procurado, o filho de Lytha não ligou de volta.
A reportagem não localizou Nelson Machado e Helder Chaves.










terça-feira, 27 de outubro de 2015


A terceira fase da Operação Zelotes investiga um esquema de compra de medidas provisórias para favorecer montadoras de veículos





Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula

A decisão da juíza federal Célia Regina Ody Bernardes, que aceitou os argumentos do Ministério Público Federal, permitiu busca e apreensão nas empresas do filho do ex-presidente Lula, Luís Claudio Lula da Silva. As empresas são: LFT Marketing esportivo; Touchdown Promoção de Eventos Esportivos e Silva Cassaro Corretora de Seguros.
Além da busca e apreensão realizada pela Polícia Federal nas empresas do filho de Lula, a juíza federal decretou prisões de lobistas e condução coercitiva de alvos da Operação Zelotes.
A ação integra a terceira fase da Operação Zelotes, que investiga um esquema de compra de medidas provisórias para favorecer montadoras de veículos.
Uma das empresas de Luiz Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, recebeu pagamentos de Mauro Marcondes, um dos lobistas investigados por negociar a edição e aprovação da MP 471 durante o governo Lula. A norma prorrogou incentivos fiscais para o setor automotivo. Luis Cláudio, que também é dono da empresa Touchdown, confirma o recebimento de R$ 2,4 milhões. O filho de Lula sustenta que os valores se referem a projetos desenvolvidos para uma empresa de Mauro Marcondes, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, em sua “área de atuação”, o esporte. Mas nunca deu detalhes dos serviços prestados.
A Zelotes investiga fraudes em julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado ao Ministério da Fazenda. Segundo a PF, esta nova etapa investiga incentivos fiscais a favor de empresas do setor de automóveis.
A defesa de Luís Cláudio viu a ação da Operação Zelotes como ‘despropositada’.
A assessoria do advogado Cristiano Zanin Martins, que integra o escritório responsável pela defesa da família de Lula, informa que:
"A busca e apreensão realizada pela Polícia Federal na data de 26.10.2015, dirigida à Touchdown Promoção de Eventos Esportivos Ltda., revela-se despropositada na medida em que essa empresa não tem qualquer relação com o objeto da investigação da chamada “Operação Zelotes”. A Touchdown organiza o campeonato brasileiro de futebol americano — torneio que reúne 16 times, incluindo Corinthians, Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo, Santos e Portuguesa —, atividade lícita e fora do âmbito da referida Operação.
No caso da LFT Marketing Esportivo, que se viu indevidamente associada à edição da MP 471 — alvo da Operação Zelotes —, a simples observação da data da constituição da empresa é o que basta afastá-la de qualquer envolvimento com as suspeitas levantadas. A citada MP foi editada em 2009 e a LFT constituída em 2011 — 2 anos depois. A prestação de serviços da LFT para a Marcondes & Maltone ocorreu entre 2014 e 2015 — mais de 5 anos depois da referida MP e está restrita à atuação no âmbito de marketing esportivo. Dessa prestação resultaram 4 projetos e relatórios que estão de acordo com o objeto da contratação e foram devidamente entregues à contratante. O valor recebido está contabilizado e todos os impostos recolhidos e à disposição das autoridades.
A Touchdown e a LFT jamais tiveram qualquer relação, direta ou indireta, com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF).
Assim que tomaram conhecimento da busca e apreensão os advogados da Touchdown e da LFT pediram à Justiça e à Polícia Federal acesso a todo o material usado para justificar a medida, não tendo sido atendidos até o momento. Tal situação impede que a defesa possa exercer o contraditório e tomar outras medidas cabíveis."
A Lava Jato não é mais exceção. O juiz Sergio Moro disse, em palestra, que a investigação da Operação Lava Jato não é mais uma exceção e cita as investigações nas empresas do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Esses casos (investigações da Lava Jato) influenciam, positivamente, tem a decisão de uma colega juíza que pareceu importante", afirmou Sérgio Moro.
Segundo Moro, os remédios amargos foram necessários para conter a sangria que ocorreu nos cofres da Petrobrás — esquema investigado na Operação Lava Jato. No seu entender, a opinião pública tem desempenhado um papel importante em todo este processo; disse que ela tem se posicionado mais a favor e tem sido fundamental — “o que é essencial em uma democracia”. E sobre os críticos das delações premiadas, que a comparam a uma pesca, Sérgio Moro disse que “tem vindo bastante peixe”.






Na linguagem de lobistas, “abanar o rabo” era pagar propina — Relatório da Polícia Federal diz que investigados na Operação Zelotes condicionaram a aprovação de emendas de parlamentares, a serem incluídas no texto original de medidas provisórias (MPs), ao pagamento de suborno por montadoras de veículos






No jargão dos envolvidos, pagar propina era “abanar o rabo”.
A suposta menção a acertos financeiros aparece em e-mails trocados por Alexandre Paes dos Santos, o APS, um dos lobistas presos por suspeita de envolvimento na “compra” de MPs, e representantes da indústria automotiva.
Numa das mensagens, de 16 de dezembro de 2009, o então gerente de Relações Institucionais da Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Alberto Alves, parabeniza APS pela aprovação, na Câmara, da MP 471, que prorrogava incentivos fiscais de montadoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A medida havia sido editada no mês anterior pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alves pergunta a APS se seria possível escalar algum senador para incluir no texto em tramitação mais regras de interesse das empresas: “Como ela (a MP) foi aprovada (na Câmara) sem emendas, vai dar para ‘intrujar’ aquela que vocês fizeram?” O lobista responde: “Para aquela emenda ter entrado era necessário que alguém ‘abanasse o rabo’, e ninguém de mexeu, portanto é muito difícil uma emenda no Senado”.
No relatório em que justifica os pedidos de prisão, a PF sustenta que “abanar o rabo” era o mesmo que fazer pagamentos ao grupo de lobistas escalados pelas montadoras. A regra a ser incluída na MP 471 era de interesse da CAOA, que monta veículos da Hyundai em Goiás. “Como esta não sinalizou que queria ou iria pagar, isto é, como a CAOA não ‘abanou o rabo’, eles (os lobistas), não se movimentaram para consegui-la”, interpretam os investigadores.
O relatório diz que a montadora não vinha pagando os valores acertados, o que levou os lobistas, inclusive, a alertarem seus executivos da “má vontade” e da quebra de confiança” que surgiria nas “pessoas de Brasília” por conta do descumprimento de acordos.
O então senador Gim Argello (PTB-DF) chegou a apresentar emenda ampliando os benefícios da CAOA, como mostra o relatório. Contudo, o Congresso aprovou o texto original, sem alterações. Outras mudanças de interesse de empresas do setor foram incluídas na MP 512, editada pelo governo em 2010, também sob suspeita de ter sido encomendada.
Um dos escalados para cuidar dos interesses das montadoras no Congresso era o assessor Fernando César de Moreira Mesquita, porta-voz do ex-presidente José Sarney. Ligado a APS, ele é acusado de receber propina de R$ 78 mil para “auxiliar nas demandas dos lobistas” no Senado.
Acertos. Para os investigadores, um dos indicativos mais forte do envolvimento de parlamentares no esquema é outro e-mail, de 29 de dezembro, no qual os investigados mencionam “prestação de contas com os devidos acertos” a serem feitos com parlamentares.
Na mensagem, o advogado José Ricardo da Silva, sócio de APS, orienta um de seus parceiros, Eduardo Valadão, a pedir “paciência” aos congressistas. Os dois também foram presos na segunda-feira (26.out.2015).
“É importante que eles entendam que não é conveniente que os acertos sejam feitos sempre de imediato. As receitas e as retiradas devem obedecer a um fluxo normal, pertinente com as atividades do escritório. Se não for assim, as prestações de serviços serão de difícil justificativa, entende? Veja se você consegue explicar essa situação para eles”, escreveu José Ricardo.
Para a PF, a “mensagem é reveladora e dá testemunho do modo furtivo e sórdido de operar que estava sendo implementado” pelos lobistas.

A DEFESA
A defesa de APS, o ex-senador Gim Argello e Fernando Mesquita não atenderam aos contatos da reportagem. A Anfavea informou, em nota, desconhecer as tratativas do então gerente de Relações Institucionais. “Alberto Alves foi funcionário da entidade, mas há muito tempo não faz mais parte do nosso quadro de colaboradores”, acrescentou.
A CAOA nega envolvimento em esquema de lobby e corrupção para aprovar medidas provisórias. Segundo a montadora, a MP 471 beneficiou várias indústrias instaladas no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste, não sendo direcionada.
A palavra do criminalista que representa CAOA — O criminalista José Roberto Batochio declarou que seu cliente, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o CAOA, ‘foi ouvido como testemunha e esclareceu todos os pontos abordados pela Polícia Federal’.
“Havia sim um mandado de condução coercitiva para CAOA, mas nem precisou ser executado. Meu cliente compareceu espontaneamente até porque tem o máximo interesse em que tudo isso seja esclarecido”, anotou Batochio.
Segundo o advogado, a PF indagou de CAOA se ele teve casos submetidos ao CARF. “Sim”, respondeu o empresário. Como foram resolvidos esses processos?, insistiu a PF. “Perdi os dois recursos.”
A PF indagou de CAOA se ele conhece as empresas do filho do ex-presidente Lula, Luís Cláudio Lula da Silva. “CAOA conhece sim, já patrocinou futebol americano com uma pequena verba, coisa de R$ 200 mil ou R$ 300 mil”, disse José Roberto Batochio.
Segundo o criminalista, a Operação Zelotes identificou ‘e-mails trocados entre lobistas que dizem que o CAOA é um unha-de-fome que não quer gastar de jeito algum’.
Sobre a Medida Provisória 471, o empresário foi taxativo. “Ela favorece indústrias automobilísticas e todas as outras que se estabeleceram no Nordeste e no Centro Oeste. Essas MPs não são direcionadas a empresa A, B ou C, mas a todas as indústrias.”






Estados Unidos têm ao menos 125 padres casados; são ex-anglicanos que se converteram ao catolicismo e não precisaram largar a família — no Brasil, o Bispo do Xingu, D. Erwin Krautler, pediu ao papa que abrisse uma exceção e permitisse a ordenação de padres casados para atender os fiéis de sua diocese, pois a região enfrenta escassez de padres; o Pontífice solicitou ao bispo que apresentasse propostas concretas





Padre Paul Sullins e a mulher, Mary Patricia, têm um filho biológico e dois adotivos

Todos os domingos, o padre Paul Sullins celebra a missa das 9 horas na igreja São Marcos, nos arredores de Washington. A poucos metros do altar, os músicos que participam da cerimônia são comandados por sua mulher, Mary Patricia. Ambos levam na mão esquerda a aliança que simboliza o casamento que os uniu há quase 30 anos, período no qual tiveram três filhos (um filho biológico e dois adotivos) e dois netos.
Apesar de não ter feito o voto de celibato, Sullins desempenha as mesmas atribuições que qualquer um dos cerca de 40 mil padres católicos dos Estados Unidos. Além dele, existem ao menos outros 124 religiosos casados no grupo, quase todos ex-anglicanos que se converteram ao Catolicismo graças a uma decisão adotada pelo papa João Paulo II em 1980.
Com a mudança, eles puderam entrar na Igreja sem precisar abandonar suas famílias. Até então, os que faziam esse caminho tinham de se separar de suas mulheres. Sullins começou seus estudos no seminário episcopal em 1980 e se tornou pastor em 1984, um ano antes de se casar com Mary Patricia.
Na década seguinte, ele começou a duvidar de sua fé anglicana e a se sentir desconfortável em uma igreja de posições cada vez mais liberais em relação ao aborto e ao casamento gay. “Meu problema dizia respeito à autoridade. Quem deveria decidir essas questões?”, disse a reportagem no domingo (25.out.2015), depois de rezar a missa na São Marcos.
Apesar de parecer um rebelde por sua conversão e condição minoritária entre os católicos, Sullins está longe de ser um liberal: ele é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e vê o divórcio e o aborto como pecado.
Outro fator determinante para a conversão foi sua identificação com a visão católica de que Cristo está presente na Eucaristia. “Quando percebi isso, não tinha escolha a não ser me tornar católico.”
Apesar de ser casado, Sullins é cauteloso em relação ao fim do celibato e acredita que a Igreja Católica ainda tem de digerir muitas das transformações implementadas nos últimos 50 anos — em sua avaliação, elas superaram todas as realizadas no período histórico precedente. “Como sou casado, não creio que tenha isenção para dizer se a Igreja deveria mudar a questão do celibato. De qualquer maneira, não escolheria fazer isso neste momento”, disse.
Livro. Sullins dedicou grande parte dos últimos sete anos a entrevistar 70 padres casados convertidos da Igreja Episcopal (como a Igreja Anglicana é chamada nos EUA) ao Catolicismo. Também conversou com muitas de suas mulheres e fiéis que pertencem a paróquias comandadas por padres casados.
O resultado é o livro Keeping the Vow: the Untold Story of Married Catholic Priests (Mantendo o Voto: a História Não Contada de Padres Católicos, em tradução livre). A obra acaba de ser lançada pela Oxford University Press e traz na capa um homem com colarinho clerical, uma Bíblia nas mãos e aliança no dedo anular esquerdo. Formado em Filosofia e Estudos Religiosos e com doutorado em Sociologia, Sullins é professor da Universidade Católica em Washington desde 1998. Foi lá que ele garantiu o sustento de sua família nos quatro anos em que se preparou para sua ordenação como padre, em 2002.
Conclusão. Uma das mais importantes conclusões do livro é a de que a justificativa do celibato pela necessidade de dedicação exclusiva à Igreja não se sustenta no mundo real. “Os padres casados tendem a ser mais dedicados ao cuidado da paróquia. E a principal razão para isso são suas mulheres.” Elas costumam lembrá-los de rezar o breviário e os estimulam a atender demandas dos fiéis.
Mas, apesar de desempenharem um papel relevante no trabalho de seus maridos, elas são as que mais sofrem no processo de conversão, ressaltou Sullins. Segundo o padre, a mudança de igreja é resultado de uma reflexão interior dos religiosos, que provoca nas mulheres um sentimento de que estão à margem e isoladas. “Na Igreja Episcopal há muitas mulheres de pastores, que formam grupos e desempenham atividades. Mas na Igreja Católica não há mulheres de padres e elas têm dificuldade em definir sua identidade.”
‘Eles entendem os desafios do casamento’. Quando Paul Sullins se tornou padre na Igreja que frequenta há 20 anos, Marylove Moy reagiu com desconfiança. Educada em uma família católica tradicional, ela só havia conhecido religiosos celibatários. Mas as homilias “realistas” do ex-anglicano, sua compreensão dos problemas cotidianos enfrentados pelos fiéis e a dedicação de sua mulher, Mary Patricia, acabaram conquistando Marylove.
“Eu recorro ao padre Paul quando preciso de compaixão. O fato de ele ser casado ajuda, porque lhe dá uma compreensão dos desafios do dia a dia apresentados pelos filhos e o casamento”, disse a católica ao Estado. Ainda assim, foram necessários cinco anos para que Marylove superasse a resistência.
Divórcio. Wilbur Turner e sua mulher, Donna Chacko, frequentam a igreja São Marcos há cinco anos e nunca tiveram problema com o fato de Sullins ser casado. “A igreja tem uma visão idealista do matrimônio e a realidade que nós vivemos é diferente”, observou Turner, que se divorciou em 2002, anulou seu casamento religioso em 2005 e se casou com Donna em 2006.
O que a perturba não é o fato de Sullins ser casado, mas a convicção do religioso de que o divórcio é pecado. “Realmente não entendo isso.”
As entrevistas que Sullins fez para escrever seu livro revelaram ampla aceitação de padres casados pelos fiéis. “A maioria diz ‘eu acho que todos os padres deveriam ser casados’.”
Perguntada se era a favor do fim do celibato, Marylove deu um suspiro profundo, revelador de um debate interior sobre o assunto. “Por que não?”, respondeu, depois de alguns segundos. Turner vê com simpatia o fim do celibato, mas ressalta que é uma decisão que deve ser tomada pelos religiosos.
Na avaliação de Sullins, a existência de 17 mil diáconos nos Estados Unidos, a maioria dos quais casados, familiarizou a comunidade católica do país com clérigos que não professam o celibato. Os diáconos podem desempenhar muitas das atribuições dos padres, como fazer batismos e casamentos, mas são proibidos de ouvir confissões, celebrar a Eucaristia e administrar a extrema-unção.
Brasil. Bispo do Xingu quer que papa abra exceção sobre padres casados. Responsável por uma região que enfrenta escassez de padres, o bispo da Prelazia do Xingu, D. Erwin Krautler, pediu no ano passado ao papa que abrisse uma exceção e permitisse a ordenação de padres casados para atender os fiéis de sua diocese. Em vez de rejeitar a proposta, o pontífice pediu que Krautler apresentasse propostas concretas.
O padre Thomas Reese, analista sênior do jornal National Catholic Reporter, acredita que Francisco analisará os pedidos com simpatia, mas não tomará a iniciativa. “Ele não anunciará na Praça São Pedro que a Igreja começará a ordenar homens casados. Os pedidos terão de vir da base, dos bispos”, disse.
“O papa quer mudar algo”, concordou Massimo Faggioli, professor de Teologia da Universidade St. Thomas, em Minnesota. “Ele pode estar aberto a isso.”

D. Erwin Krautler pediu ao papa que abrisse uma exceção
e permitisse a ordenação de padres casados para atender os fiéis de sua diocese