segunda-feira, 7 de março de 2016


'Pimenta' nos outros, pode. Em Lula, não.



Ex-presidente Lula, alvo da 24ª fase da Lava Jato


Condução coercitiva quer dizer condução obrigatória. Agentes federais amanheceram no apartamento do ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo e o lavaram para depor em uma delegacia da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas. Ele ficou ali por três horas.
Intimado a depor várias vezes, o ex-presidente atendeu a algumas intimações. E conseguiu driblar outras.
Quando o escândalo do mensalão ameaçou encurtar o mandato de Lula, o PT falou em golpe. O pedido de impeachment de Dilma foi e é tratado como golpe. A "humilhação" de Lula foi mais um capítulo do golpe que está em marcha. Tudo é golpe para o PT.
Por que nenhuma das vozes que se revelaram inconformadas com a condução coercitiva de Lula se fez ouvir quando outros envolvidos com a Lava-Jato foram conduzidos coercitivamente para depor? Não repararam? Não se tocaram?
Só vale para os outros a condução coercitiva, para Lula, não? É capaz de valer para importantes empresários, alguns deles presos, para políticos e para gente comum; aliás, para esse tipo de gente sempre valeu, quem se incomoda com gente comum? Mas para Lula, não? Por quê?
Ex-presidente da República não tem direito a fórum privilegiado. Está sujeito à Justiça de primeira instância. Como os demais cidadãos, pode apelar de decisões da primeira instância às instâncias superiores da Justiça. E é só. Não tem direito a nenhum tratamento especial.
O mais espantoso é que Lula não foi o primeiro, nem o segundo, nem será o último suspeito da roubalheira na Petrobras a ser conduzido para depor “sob vara”, como prefere o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, a primeira voz de respeito a censurar a decisão do juiz Sérgio Moro favorável ao emprego da condução coercitiva para que Lula fosse depor aos procuradores da Lava-Jato.
Antes do ex-presidente Lula, 116 suspeitos foram alvo de condução coercitiva. Lula foi o 117º.
É como observa com razão a nota oficial distribuída pela força-tarefa do Ministério Público encarregada da Lava-Jato:
"Houve no âmbito da Lava Jato 117 mandados de condução coercitiva. Apenas em relação à do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva houve manifestação de opiniões contrárias. Conclui-se que esses críticos insurgem-se não contra o instituto da condução coercitiva em si, mas sim pela condução coercitiva de um ex-presidente da República".
Os procuradores reconhecem que Lula merece respeito, mas apenas "na exata medida do respeito que se deve a qualquer outro cidadão brasileiro".
Estão certos.
Lula, somente ele, é o responsável pela situação em que se encontra. Não foram seus adversários que o levaram a prevaricar. Não foram as elites que o forçaram a se corromper. Ninguém o obrigou a jogar na lama sua fama de homem decente.
Lula é vítima de Lula, da sua ambição desmedida pelo poder, do seu encantamento por um mundo ao qual sempre quis pertencer, da falta de solidez dos seus compromissos com valores e princípios que dizia cultivar. É triste que termine assim.




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