segunda-feira, 14 de março de 2016


As entrelinhas da nota oficial


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Diante dos mais eloquentes protestos de rua contra o seu governo, Dilma Rousseff mandou soltar uma nota. O texto reage ao ronco do asfalto. Rendeu-se ao óbvio. Insinuando, nas entrelinhas, que não enxerga razões legais que justifiquem uma troca de comando na instituição presidencial.
A nota do Planalto revela que o governo, sem ter o que dizer, preferiu ganhar tempo.
O principal movimento político do país é extraparlamentar. Usa as ruas como tribuna. Nesse ambiente a unanimidade positiva é Sérgio Moro, um juiz de primeiro grau que virou popstar por colocar atrás das grades a oligarquia corrupta e corruptora do país.
Os brasileiros querem se livrar do governo que levou ao caldeirão os ingredientes que dissolvem a paciência nacional — paralisia política, asfixia econômica e degradação moral.
A onda de protestos do domingo — 13.mar.2016 — expôs dois extremos que ajudam a entender os meandros da crise que destrói o mandato de Dilma. Numa ponta, o juiz que escancara, a partir de uma vara periférica de Curitiba, as vigarices do poder federal. Noutra extremidade, a política petista vista como um conto do vigário em que o país já não admite cair.
A margem de manobra do governo Dilma, que já era mínima, estreitou-se muito no domingo — 13.mar.2016. Estavam sobre a mesa três ingredientes explosivos: a degradação moral, a paralisia política e a asfixia econômica. Faltava à mistura uma dose de povo. Não falta mais. O novo ronco emitido pelo asfalto dá à megacrise a aparência de um fenômeno terminal. O coro de ‘fora Dilma’ tende a virar a trilha sonora do resto do mandato da presidente, dure o quanto durar.
Dilma discute com seus operadores políticos os termos da reação do governo. Mas, até os supostos aliados de Dilma no Congresso avaliam que o Planalto não tem nada de novo a dizer. A essa altura, o que se poderia esperar de Dilma é atitude. Mas, desde janeiro de 2015, tudo já foi dito e nada foi feito.
Dilma não consegue acompanhar o ritmo da crise. Seu governo revela-se lerdo, devagar, quase parando. É incompatível com a intensidade do temporal que inundou as ruas de gente revoltada com a administração petista.
Desde 2013, o principal fenômeno político do Brasil tem sido o surto de contestação social que retirou do PT e da CUT o monopólio das ruas. Num movimento iniciado em março de 2015, os alvos dos protestos tornaram-se mais nítidos. O meio-fio começou a trovejar sobre as cabeças de Dilma e de Lula. E direcionou muitos raios para o PT e seus aliados dinheiristas.
As delações e as prisões que aproximam a Lava Jato das arcas do comitê Dilma-2014 e o declínio moral de Lula mostram o quanto os ventos sopram no sentido contrário. Até os cleptoaliados do governo petista começam a cuspir no prato em que não podem mais comer.
As referências elogiosas ao juiz Sérgio Moro, reverenciado em faixas e cartazes país afora, indicam que a fome de limpeza é proporcional ao tamanho do assalto aos cofres públicos.




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