As entrelinhas da nota oficial
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Diante dos mais eloquentes protestos de rua contra o seu governo,
Dilma Rousseff mandou soltar uma nota. O texto reage ao ronco do
asfalto. Rendeu-se ao óbvio. Insinuando, nas entrelinhas, que não
enxerga razões legais que justifiquem uma troca de comando na
instituição presidencial.
A nota do Planalto revela que o governo, sem ter o que dizer,
preferiu ganhar tempo.
O principal movimento político do país é extraparlamentar. Usa as
ruas como tribuna. Nesse ambiente a unanimidade positiva é Sérgio
Moro, um juiz de primeiro grau que virou popstar por colocar atrás
das grades a oligarquia corrupta e corruptora do país.
Os brasileiros querem se livrar do governo que levou ao caldeirão os
ingredientes que dissolvem a paciência nacional — paralisia
política, asfixia econômica e degradação moral.
A onda de protestos do domingo — 13.mar.2016 — expôs dois extremos que ajudam a
entender os meandros da crise que destrói o mandato de Dilma. Numa
ponta, o juiz que escancara, a partir de uma vara
periférica de Curitiba, as vigarices do poder federal. Noutra
extremidade, a política petista vista como um conto do vigário em
que o país já não admite cair.
A margem de manobra do governo Dilma, que já era mínima,
estreitou-se muito no domingo — 13.mar.2016. Estavam sobre a mesa
três ingredientes explosivos: a degradação moral, a paralisia
política e a asfixia econômica. Faltava à mistura uma dose de povo.
Não falta mais. O novo ronco emitido pelo asfalto dá à megacrise a
aparência de um fenômeno terminal. O coro de ‘fora Dilma’ tende a
virar a trilha sonora do resto do mandato da presidente, dure o
quanto durar.
Dilma discute com seus operadores políticos os termos da reação do
governo. Mas, até os supostos aliados de Dilma no Congresso avaliam
que o Planalto não tem nada de novo a dizer. A essa altura, o que se
poderia esperar de Dilma é atitude. Mas, desde janeiro de 2015, tudo
já foi dito e nada foi feito.
Dilma não consegue acompanhar o ritmo da crise. Seu governo
revela-se lerdo, devagar, quase parando. É incompatível com a
intensidade do temporal que inundou as ruas de gente revoltada com a
administração petista.
Desde 2013, o principal fenômeno político do Brasil tem sido o surto
de contestação social que retirou do PT e da CUT o monopólio das
ruas. Num movimento iniciado em março de 2015, os alvos dos
protestos tornaram-se mais nítidos. O meio-fio começou a trovejar
sobre as cabeças de Dilma e de Lula. E direcionou muitos raios para o PT e seus aliados dinheiristas.
As delações e as prisões que aproximam a Lava Jato das arcas do
comitê Dilma-2014 e o declínio moral de Lula mostram o quanto os ventos sopram no sentido
contrário. Até os cleptoaliados do governo petista começam a cuspir
no prato em que não podem mais comer.
As referências elogiosas ao juiz Sérgio Moro, reverenciado em faixas
e cartazes país afora, indicam que a fome de limpeza é proporcional
ao tamanho do assalto aos cofres públicos.
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