Os pesadelos de Dilma Rousseff
Presidenta Dilma Rousseff |
“A hipótese de o mandato da presidenta Dilma ser cassado pela Justiça
Eleitoral é inexistente”, disse um auxiliar da presidente. “O TSE não se
atreveria a ir tão longe sem dispor de elementos que justifiquem uma
medida dessa gravidade.”
Dilma pode ou não continuar na Presidência até 2018. Mas os devotos que a
chamam de “presidenta” estão superestimando a invulnerabilidade da
caixa registradora de sua campanha. Difícil saber até onde vai o
atrevimento do TSE. Mas está cada vez mais difícil ignorar os elementos
colecionados pela Lava Jato.
Em acordo de delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez
confessaram ter firmado um contrato fictício para repassar cerca de R$ 5
milhões a uma agência de comunicação que prestou serviços à campanha de
Dilma em 2010. E a coisa pode não parar por aí. Otávio Azevedo,
presidente afastado da Andrade, acena com a possibilidade de abrir o baú
das doações espúrias feitas ao comitê da reeleição, em 2014.
João Santana, o marqueteiro de Dilma, encontra-se na cadeia. Mônica
Moura, sua mulher e sócia, também presa, já fez revelações estonteantes.
Admitiu, por exemplo, que a Odebrecht borrifou US$ 3 milhões por baixo
da mesa numa conta do mago do marketing petista na Suíça. Coisa
relacionada à campanha venezuelana de Hugo Chávez, alegou Mônica. Nada a
ver com a campanha de Dilma.
Por mal dos pecados, a força-tarefa da Lava Jato reuniu evidências que
ameaçam o cordão sanitário que João Santana e Mônica tentam acomodar ao
redor das arcas de Dilma. Segundo os investigadores, a Odebrecht serviu
acarajé$ ao marqueteiro também no Brasil, no ano reeleitoral de 2014.
Coisa de R$ 4 milhões. Executivos da empreiteira coçam a língua.
Juntos, esses elementos potencializam o estrago produzido por outro
delator premiado: Ricardo Pessoa. Dono da construtora UTC, Pessoa é
apontado como coordenador do cartel que assaltou a Petrobras. Ele já
havia contado às autoridades que o ministro Edinho Silva (Comunicação
Social da Presidência), tesoureiro do comitê Dilma-2014, arrancou-lhe R$
7,5 milhões em verbas sujas da Petrobras. Se não doasse à campanha de
Dilma, perderia contratos na estatal. Edinho nega o achaque.
Dilma já afirmou: “Eu não respeito delator”. É uma pena que a presidente
desmereça algo previsto na lei anticorrupção, que ela própria
sancionou. Com o auxílio das delações, inaugurou-se em Curitiba uma nova
fase no combate à corrupção no Brasil. Uma fase em que a perversão
passou a dar cadeia. O medo das grades destrava a língua dos delatores. E
as revelações dão densidade aos processos.
A ruína econômica e a paralisia política indicam que Dilma não realizará
o sonho de passar à posteridade como uma gerente impecável. Mas a Lava
Jato, com seus delatores, vai realizando aos poucos todos os pesadelos
de Dilma. A frase ouvida de um auxiliar da presidente no Planalto — “a
hipótese de o mandato da presidenta Dilma ser cassado pela Justiça
Eleitoral é inexistente” — conduz a uma interrogação: Será?
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