Justiça alemã analisa proibição do partido neonazista NPD.
Os críticos da iniciativa dizem que há ameaças
extremistas piores na Alemanha
Os críticos da iniciativa dizem que há ameaças
extremistas piores na Alemanha
O Tribunal Constitucional Alemão começou na terça-feira
(01.mar.2016) a analisar um pedido de interdição do partido
neonazista NPD, num processo com um desfecho incerto e que muitos
julgam ineficaz no combate à extrema-direita.
A mais alta jurisdição do país, com sede em Karlsruhe, previu um
mínimo de três dias de audiências para examinar este pedido que foi
apresentado em Dezembro de 2013 pelo Bundesrat, a câmara alta do
parlamento, onde se sentam os representantes dos estados regionais.
A sua decisão só deverá ser conhecida daqui a vários meses.
Num longo documento submetido ao tribunal, o Bundesrat justifica o
seu pedido nos seguintes termos: “Porque o NPD, pelos seus objetivos
e pelo comportamento dos seus membros, quer desestabilizar e
derrubar a ordem liberal-democrática, e pretende fazê-lo de forma
agressiva e combativa através das suas atividades políticas, ele é
(…) anticonstitucional.”
Apenas dois partidos foram proibidos na Alemanha depois de 1945: um
herdeiro do partido nazista, o SRP, em 1952, e o Partido Comunista
Alemão (KPD), quatro anos mais tarde.
A ideia de banir o NPD (Partido nacional-democrático da Alemanha),
criado em 1964 por antigos funcionários do partido nazista, entre
outros, ressurgiu depois da descoberta em 2011 da organização
criminosa “Clandestinidade nacional-socialista” (NSU). Os seus
membros, próximos do NPD, foram acusados de ter assassinado dez
pessoas, na sua maioria de origem turca, entre 2000 e 2006.
A chanceler alemã, Angela Merkel, renunciou a juntar-se à iniciativa
do Bundesrat, mesmo que o seu Governo considere o NPD
“antidemocrático, xenófobo, antissemita e contrário à Constituição”.
Uma anterior tentativa de proibir o partido falhou em 2003, o que se
revelou uma humilhação para a então coligação no poder (SPD-Verdes),
Na altura, o tribunal questionou a possibilidade de informadores dos
serviços de informação interior (Verfassungsschutz) que trabalhavam
na direção do NPD poderem estar a agir como agentes provocadores
para levar o partido a violar a Constituição.
Agora, o tribunal exigiu em março do ano passado ao Bundesrat que
possa “provar de maneira apropriada” que os informadores foram mesmo
“desativados”.
Nesta nova batalha judicial, o NPD tenciona utilizar este argumento
da vigilância dos serviços secretos para fazer fracassar o
procedimento. O jovem advogado do partido, Peter Richter, citado nas
mídias alemãs, já declarou que é impossível demonstrar que os
informadores foram efetivamente “desativados”
Para alguns juristas e associações que lutam contra a
extrema-direita, a interdição do NPD, um procedimento judicial
arriscado, não é politicamente justificável. Horst Meier, jurista e
autor do livro Interdição do NPD, uma peça alemã em dois atos,
explica que uma das forças da lei fundamental do país é justamente a
liberdade dos partidos. “É preciso aprender a suportar as opiniões
absurdas e falsas" numa democracia, argumenta, considerando que o
NPD não representa um verdadeiro perigo.
A enfrentar dificuldades financeiras (o partido foi privado de
subvenções em fevereiro de 2013), o NPD só tem eleitos num único
estado regional, o Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, e só conseguiu
1,3% de votos nas eleições legislativas de 2013.
Outros críticos desta iniciativa judicial consideram-na caduca, uma
vez que a situação política alemã mudou, com a emergência do
movimento anti-islão Pegida e com o sucesso eleitoral do partido
populista AfD (Alternativa para a Alemanha), que conta com cada vez
mais simpatizantes e votos graças ao descontentamento de muitos
alemães por causa da forma como Merkel está a abrir as portas a
milhares de refugiados.
“É só fumaça”, diz Timo Reinfrank, da associação Amadeu Antônio, uma
organização antirracista que tem o nome de um angolano que foi
assassinado com tacos de basebol em 1990. “Neste momento, há muitas
mais coisas para fazer do que tratar da interdição do NPD, que é
apenas uma pequena parte do problema”, diz.
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