É o fim do projeto do PT
Eliane Cantanhêde |
A sexta-feira, 4 de março de 2016, é um dia histórico e divide
apaixonadamente a opinião pública do Brasil, onde Luiz Inácio Lula da
Silva nasceu nos rincões áridos do Nordeste, cruzou o país continental
num pau-de-arara, comeu o pão que o Diabo amassou, foi o maior líder
sindicalista e virou o presidente da República mais popular em décadas. É
um dia profundamente triste, mas é também um marco: ninguém, nem mesmo
Lula, está acima da lei.
A condução coercitiva de Lula e de seu primogênito, Fábio Luiz, não foi
nenhuma surpresa no mundo político, mas é daqueles fatos que todo mundo
espera, mas, quando acontecem, são como uma explosão atômica. Com Lula
depondo na Polícia Federal e acossado, junto com a presidente Dilma
Rousseff, pela delação premiada do ex-líder do governo Delcídio Amaral,
não há outra conclusão possível senão a óbvia: é o fim do projeto do PT,
o fim de uma era.
Até por isso, a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal e a
Receita Federal cercaram-se de todos os cuidados. Há meses vinham dando
indícios de que Lula seria preso, mas isso só ocorreria quando as provas
fossem consistentes, inquestionáveis. "Não podemos morder o Lula.
Quando chegarmos nele, é para engolir", diziam os investigadores,
ilustrando a consciência de que, deixar brechas de contestação, seria
não apenas implodir a Lava Jato, mas também desmoralizar as instituições
responsáveis.
Hoje, a Lava Jato engoliu Lula e, com ele, o projeto de eternização do
PT no poder. De uma forma simples e direta, há provas de que havia uma
triangulação criminosa: o dinheiro saía da Petrobrás, passava pelas
empreiteiras e parte dele ia para o ex-presidente em forma de pagamentos
dissimulados de palestras, viagens pelo mundo, o sítio de Atibaia e o
triplex do Guarujá. Lula, portanto, seria beneficiário dos desvios da
maior companhia brasileira, hoje uma das maiores empresas mais
endividadas do mundo. Sem falar na Operação Zelotes ...
A condução coercitiva de Lula, a prisão do marqueteiro dele e de Dilma, a
delação do ex-líder do governo sobre o envolvimento de Dilma na compra
suspeitíssima da refinaria de Pasadena e na tentativa de manipular o
Judiciário para soltar empreiteiros amigos ... tudo isso configura um
cerco a Lula e a Dilma que, apesar de dependerem visceralmente um do
outro, entram na dolorosa fase do "salve-se quem puder" ou, de outra
forma, "cada um por si".
Como pano de fundo, a crise política e a economia. Por uma macabra
coincidência, ou não, o resultado da economia em 2015 saiu no dia do
vazamento da delação de Delcídio e na véspera da condução coercitiva de
Lula e de seu filho. O Brasil teve uma recessão de 3,8% e ficou em 30º
lugar entre 32 países pesquisados, só atrás da Venezuela, que quebrou, e
da Ucrânia, que vem perdendo parte do seu território para a Rússia.
Tudo somado, Dilma está totalmente isolada em seus palácios, enquanto
Lula se despe da roupagem do "Lulinha paz e amor" e conclama suas tropas
para a guerra. A possibilidade de impeachment de Dilma é cada vez mais
real e a próxima etapa de todo esse processo deve ocorrer nas ruas. Vêm
aí as manifestações do dia 13 contra Dilma, Lula e o PT, mas, antes
delas, já começam os confrontos. As bandeiras vermelhas, em minoria, vão
tentar ganhar no grito — ou na pancadaria.
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