Lula disse a delegado da PF que só sairia
do seu apartamento algemado
do seu apartamento algemado
O delegado da PF Luciano Flores de Lima |
O delegado da Polícia Federal (PF) Luciano Flores de Lima, que conduziu o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento a
investigadores da Operação Lava Jato, informou ao juiz Sérgio Moro no
domingo (06.mar.2016) que Lula disse que só sairia do apartamento
algemado. Ele só aceitou acompanhar os policiais, segundo o delegado,
após ser aconselhado pelo advogado.
Após conversar por telefone com seu advogado, Roberto Teixeira, o
ex-presidente Lula concordou em ser levado para o Salão Presidencial do
Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, em uma viatura
descaracterizada — e sem algemas.
Desta forma, conforme a PF, houve o cumprimento do mandado de condução coercitiva expedido pela Justiça Federal no Paraná.
As informações constam em documento assinado pelo delegado da PF Luciano
Flores de Lima, endereçado ao juiz Sérgio Moro e anexado no domingo
(06.mar.2016) ao processo. Lima chefiou a equipe que cumpriu o mandado
de condução coercitiva expedido contra Lula na sexta-feira
(04.mar.2016). O delegado também conta que parlamentares tentaram forçar
entrada na sala onde o ex-presidente prestou depoimento, no Aeroporto
de Congonhas, e que a defesa do ex-presidente gravou as três horas de
depoimento.
Ao expedir os mandados de busca e apreensão da 24ª fase da Lava Jato,
Sérgio Moro fez constar que o mandado de condução coercitiva só deveria
ser utilizado caso o ex-presidente se recusasse a acompanhar a PF
espontaneamente. O juiz ainda afirmou que “em hipótese alguma”, Lula
deveria ser algemado ou filmado durante o processo.
De acordo com o delegado Lima, a PF chegou às 6h à casa do ex-presidente, em
São Bernardo do Campo (SP). O próprio Lula abriu a porta e, segundo
Luciano Flores de Lima, autorizou de imediato que os policiais entrassem
para cumprir o mandado de busca e apreensão. Neste momento, segundo o delegado, foi solicitado a Lula que eles
deixassem o local o mais breve possível para prestar depoimento antes da
chegada da imprensa ou de pessoas que pudessem filmar o ato.
“Naquele momento, foi dito por ele [Lula] que não sairia daquele local, a
menos que fosse algemado. Disse ainda que se eu quisesse colher as
declarações dele, teria de ser ali”, relatou Luciano Flores de Lima.
O delegado afirmou que não seria possível fazer a oitiva ali, por
questões de segurança, e que havia um local preparado para o ato, no
Aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
“Disse ainda que, caso ele se recusasse a nos acompanhar naquele momento
para o Aeroporto de Congonhas, eu teria que dar cumprimento ao mandado
de condução coercitiva que estava portando, momento em que lhe dei
ciência de tal mandado”, explicou Luciano Flores de Lima.
O delegado afirmou que, então, Lula entrou em contato telefônico com o
advogado Roberto Teixeira, relatando a situação. “Logo depois de ouvir
as orientações do referido advogado, o ex-Presidente disse que iria
trocar de roupa e que nos acompanharia para prestar as declarações”,
relatou.
A saída do prédio ocorreu às 6h30min e a chegada ao aeroporto de Congonhas ocorreu às 7h20min.
O delegado mostra, no texto, preocupação em evitar que Lula fosse
filmado ou fotografado. No texto, diz que pediu a ele “que se mantivesse
em posição atrás do motorista e sem aparecer entre os bancos, pois
assim impediria que qualquer pessoa que estivesse na rua conseguisse
captar sua imagem.”
Vinte e cinco minutos depois o advogado Roberto Teixeira chegou ao
Aeroporto de Congonhas, Lula e Teixeira conversaram sem a presença dos
policiais por 15 minutos, ainda segundo o delegado.
“Em torno das 8 horas o ex-Presidente e os advogados retornaram à mesa
onde ocorreria a oitiva e disseram que estavam prontos para o ato, sendo
dito pelo ex-Presidente que iria prestar as declarações necessárias e
que não pretendia ficar em silêncio”, diz o documento.
A audiência começou, então às 8h, e durou três horas.
O depoimento foi gravado em áudio e vídeo tanto pela Polícia Federal
quanto pelos advogados de Lula, que utilizaram um celular para fazer as
imagens.
Segundo a PF, um grupo de parlamentares federais chegou a bater na porta
e forçar a entrada no recinto durante o depoimento, mas as entradas
apenas foram autorizadas após a lavratura do termo da audiência.
O delegado relatou ainda que ofereceu, “de forma insistente”, que o
ex-presidente Lula utilizasse a segurança da PF para acompanhá-lo na
saída do aeroporto e levá-lo a qualquer local em que quisesse ir, mas
que o ex-presidente dispensou a segurança, “preferiria sair dali com
seus companheiros de partido e seus advogados, em veículo próprio”.
O Instituto Lula, não desmentiu o relato do delegado, disse que não
comentaria as informações descritas no relatório da PF e voltou a dizer
que o depoimento foi uma violência classificando a medida como
“arbitrária, ilegal e injustificável”.
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