Brasil é 'referência mundial em aleitamento materno'
Em 30 anos, o Brasil aumentou em cerca de 20 vezes o número de bebês de
até 6 meses que são amamentados exclusivamente, como preconiza a
Organização Mundial da Saúde (OMS). A conclusão é de um estudo publicado
pela revista científica The Lancet e divulgado na quarta-feira,
02.mar.2016, em evento na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em
Brasília.
Cientistas analisaram dados sobre aleitamento materno em 153 países e
verificaram que o Brasil cumpre todas as ações recomendadas para uma
política integrada de incentivo à amamentação. No entanto, 61% das
crianças de até 6 meses não são alimentadas exclusivamente com o leite
da mãe. Outra preocupação do epidemiologista César Victora, um dos
líderes da pesquisa, é de que os dados mais atuais sobre o tema, no
País, são de 2006. "Não podemos passar dez anos sem um diagnóstico
nacional completo", apelou Victora ao Ministério da Saúde, presente no
evento.
Ainda assim, os resultados mostram que o Brasil evoluiu. De acordo com o
estudo, se em 1986 as crianças brasileiras eram amamentadas por apenas
2,5 meses (exclusivamente ou não), em 2006 esse período passou para 14
meses. As análises mostraram que as brasileiras amamentam mais que as
britânicas, as americanas e as chinesas, sendo as líderes no aleitamento
de bebês de até 6 meses e de até 12 meses.
Tais conquistas levaram a Opas a reconhecer o País como "referência
mundial em aleitamento materno". A publicação na The Lancet cita a
regulamentação da lei da amamentação (que limita a venda de substitutos
do leite), a licença-maternidade de até 6 meses, os processos de
certificação e capacitação de hospitais e profissionais que incentivam a
prática e a rede de bancos de leite humano em mais de 200
estabelecimentos.
Se a prática é "protegida, promovida e apoiada", diz o artigo, as
mulheres são 2,5 mais propensas a amamentar. Outra conclusão do estudo é
a de que perdas cognitivas associadas ao não aleitamento somam US$ 302
bilhões por ano, uma vez que crianças que não são amamentadas serão
menos produtivas e inteligentes no futuro, como já comprovado em outra
pesquisa de Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel).
Amamentação: tire suas dúvidas
Intervalos — Supervisora da equipe de enfermagem da maternidade
do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo, Márcia Kuriki
Borges orienta que as mães não ultrapassem quatro horas entre uma mamada
e outra, porque o bebê pode ter hipoglicemia.
Mama não é chupeta — Os intervalos de quatro horas devem ser
respeitados mesmo que seja necessário acordar o bebê. Nesse caso, Márcia
aconselha que a mãe estimule o filho a mamar fazendo massagem nas
costas dele, cócegas nos pés ou tirando a roupa dele, de forma que ele
fique desperto e mame.
Não existe leite ruim — Todo leite materno é bom e insubstituível
para o bebê nos primeiros seis meses de vida. Pode acontecer de ele
pegar só o bico, o que é errado e consequentemente não vai conseguir
mamar a quantidade certa. Segundo Márcia, ele tem de abocanhar a aréola e
o fazer com a boca bem aberta.
Forma correta de segurar o bebê — Márcia explica maneiras
corretas de segurar o bebê: em uma delas, a nuca dele fica na região do
cotovelo da mãe e a barriga dele fica junto à da mãe, enquanto o braço
que fica para baixo fica na lateral do corpo da mãe. Também é possível
amamentar na posição invertida: o bebê fica lateralizado, sua barriga
fica na lateral do corpo da mãe e o braço do mesmo lado segura o corpo
do bebê. A mão da mãe apoia a nuca do recém-nascido, e o antebraço o
segura.
Concentração de remédios no leite — Os medicamentos apresentam
baixa concentração no leite. Mesmo assim, é indicado que a mãe descarte o
leite retirado algumas horas depois de tomado o remédio, no qual seus
componentes estão mais concentrados, e oferecer um outro, colhido mais
tarde.
Procure por médicos atenciosos — O pediatra Moisés Chencinski
acredita que parte de seus colegas de profissão não ajudam as mães em
suas angústias com o aleitamento materno. Ele defende que os médicos
sejam mais presentes no processo de orientação e se preocupem em
desconstruir boatos falsos a respeito do tema.
Leite materno é fundamental para o desenvolvimento do bebê — Uma
pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, com 3,5 mil recém-nascidos,
mostra que crianças amamentadas por mais de um ano têm escolaridade 10%
superior àquelas que não completaram um mês de alimentação com leite
materno.
Apoio papal — O Papa Francisco já se posicionou a favor da
amamentação em público, em tentativa de eliminar o conceito imoralidade
que envolve o ato.
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