Eles não são intocáveis!
Dilma e Lula - na posse como a primeira mulher a assumir a Presidência da República do Brasil |
Imagine você não gostar da autoridade que lhe investiga e, por esse
critério, poder decidir que não vai depor quando convocado. Imagine-se
imbuído do direito de escolher o ministro da Justiça mais adequado às
suas conveniências pessoais e dotado da força para destituir ao bel
prazer aquele que lhe contrariou por deixar prender um dos seus mais
diletos amigos — ainda que por justificadas provas de irregularidades
cometidas. No desmedido impulso tirânico você poderia ainda convidar
para o lugar desse ministro alguém capaz de “enquadrar a PF” e evitar
que a polícia cometa o supremo “abuso” de averiguar suspeitas de
favorecimento que pesam contra a sua pessoa.
Não importa a autonomia que a Carta Magna garante as instituições em
sociedades democráticas como a brasileira. Prevalece apenas e tão
somente a sua absoluta vontade de ditar os rumos, estabelecer o certo e o
errado, conceder e retirar autoridade a aliados e detratores. Mortais
comuns não podem contar com tais regalias. Já petistas de alta patente
como Lula e Dilma demonstram compartilhar desse pensamento e, por isso
mesmo, levaram às raias do insustentável as pressões para que José
Eduardo Cardozo deixasse a pasta da Justiça na semana passada, na mais
escrachada demonstração de que querem castrar a liberdade dos
investigadores e esvaziar a Lava Jato — hoje convertida na grande
esperança de resgate moral da sociedade.
Cardozo foi sumariamente ejetado da pasta por adotar o princípio
republicano de resistir a interferências indevidas na PF. Lula não
estava gostando nada das apurações que o apontam como beneficiário de
empreiteiras em obras e “presentinhos” nos dois imóveis destinados a
usufruto familiar. Também torcia o nariz para o que considerava “falta
de pulso” do ministro. Fez gestões para detoná-lo assim como partiu para
cima de magistrados e procuradores, acusando-os publicamente de
perseguição. Fez mais: mandou seus advogados avisarem que não iria
prestar depoimento na condição de investigado, desqualificando o
interpelante e afrontando um membro do Ministério Público.
Dilma, por sua vez, ficou absolutamente possessa — segundo relatos de
assessores próximos — quando soube da prisão do marqueteiro e confidente
João Santana. Foi o suficiente para selar o destino de Cardozo. O ego
exacerbado e uma indisfarçável sensação de pairar acima da lei parecem
mover Lula, em especial. Na festa de aniversário do seu partido, na
segunda-feira, 29.fev.2016, ele explodiu aos berros: “estou de saco
cheio”. Referia-se ao Ministério Público, à Polícia Federal e à
imprensa. Em resumo: todos que, acredita ele, estão mancomunados para
manchar sua reputação. A avalanche de evidências e os depoimentos dando
conta de que recebeu vantagens, inclusive no cargo de presidente, seriam
detalhe.
Não valem no seu discernimento. Lula se considera um cidadão especial,
um messias intocável, ora ignorando os fatos ao redor, ora convertendo
em meras intrigas da oposição os atos desabonadores dos quais é acusado.
Com essa postura não convence nem mais a própria militância e desaba
nas pesquisas de opinião. O líder de massas, o onipresente detentor da
“alma mais honesta deste País” se furta a dar explicações. Prefere
atacar com impropérios. Intimidar com ameaças. Tripudiar. Posar de
vítima “das elites” e instigar chicanas que adiem seu confronto com a
justiça.
Até quando? Ao invés desse teatro de subterfúgios, pedalando na defesa e
escondendo os pedalinhos como benesses corriqueiras, Lula deveria
reunir argumentos consistentes para responder aos juízes, a quem chama
de “acovardados” — como a confundir tribunais com uma peleja
futebolística de onde pode xingar quem zela pelas regras. Do contrário,
deve parar atrás das grades. Lula não é intocável, como também não o é
sua sucessora e discípula, Dilma. A presidente, cada vez mais
encalacrada, cede às injunções desabonadoras do PT. Entrou em “modo de
negação”. Desistiu de governar.
A cada dia, a cada nova confissão de executivos presos e de políticos
que lhe cercam, vai demonstrando que teve conhecimento, se beneficiou
diretamente e em vários momentos participou de forma ativa do gigantesco
esquema que deu sustentação a seu mandato com desvios e falcatruas de
toda ordem. O bombástico depoimento do senador petista Delcídio do
Amaral à polícia dá claras evidências de que Dilma Rousseff incorreu em
crimes de responsabilidade que deveriam levar a sua imediata deposição.
Pelo Congresso e pela justiça.
Para a grande maioria dos brasileiros é anacrônico o País seguir nessa
rota de desmandos indefinidamente. A presidente já perdeu as condições
de dirigir a Nação, como atestam as delações premiadas, escancarando a
farsa petista para se garantir no poder. Não há como ser indulgente com
ilícitos, nem impassível diante da ladroagem endêmica. A continuar nessa
toada, com caixa dois de campanha, articulações para manter salafrários
em estatais e toda sorte de pilhagem, a moral do País vai virar pó. É
preciso um basta à depravação política.
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