A delação de Delcídio — revelações do senador
à força-tarefa da Lava Jato complicam de vez a situação da presidente Dilma e comprometem Lula
à força-tarefa da Lava Jato complicam de vez a situação da presidente Dilma e comprometem Lula
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) |
Pouco antes de deixar a prisão, no dia 19 de fevereiro, o senador
Delcídio do Amaral (PT-MS) fez um acordo de delação premiada com a
força-tarefa da Lava Jato. A reportagem teve acesso às revelações feitas
pelo senador. Ocupam cerca de 400 páginas e formam o mais explosivo
relato até agora revelado sobre o maior esquema de corrupção no Brasil —
e outros escândalos que abalaram a República, como o mensalão.
Com extraordinária riqueza de detalhes, o senador descreveu a ação
decisiva da presidente Dilma Rousseff para manter na estatal os
diretores comprometidos com o esquema do Petrolão e demonstrou que, do
Palácio do Planalto, a presidente usou seu poder para evitar a punição
de corruptos e corruptores, nomeando para o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) um ministro que se comprometeu a votar pela soltura de
empreiteiros já denunciados pela Lava Jato.
O senador Delcídio também afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva tinha pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras e
agiu direta e pessoalmente para barrar as investigações — inclusive
sendo o mandante do pagamento de dinheiro para tentar comprar o silêncio
de testemunhas. O relato de Delcídio é devastador e complica de vez
Dilma e Lula, pois trata-se de uma narrativa de quem não só testemunhou e
esteve presente nas reuniões em que decisões nada republicanas foram
tomadas, como participou ativamente de ilegalidades ali combinadas — a
mando de Dilma e Lula, segundo ele.
Nos próximos dias, o ministro Teori Zavascki decidirá se homologa ou não
a delação. O acordo só não foi sacramentado até agora por conta de uma
cláusula de confidencialidade de seis meses exigida por Delcídio. Apesar
de avalizada por procuradores da Lava Jato, a condição imposta pelo
petista não foi aceita por Zavascki, que devolveu o processo à
Procuradoria-Geral da República e concedeu um prazo até a próxima semana
para exclusão da exigência. Para o senador, os seis meses eram o tempo
necessário para ele conseguir escapar de um processo de cassação no
Conselho de Ética do Senado. Agora, seus planos parecem comprometidos.
As preocupações de Delcídio fazem sentido. Sobretudo porque suas
revelações implicaram colegas de Senado, deputados, até da oposição, e
têm potencial para apressar o processo de impeachment de Dilma no
Congresso. O que ele revelou sobre a presidente é gravíssimo. Segundo
Delcídio, Dilma tentou por três ocasiões interferir na Lava Jato, com a
ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e
inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de
promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio na
delação.
A terceira investida da presidente contou com o envolvimento pessoal do
senador petista. No primeiro anexo da delação, Delcídio disse que,
diante do fracasso das duas manobras anteriores, uma das quais a famosa
reunião em Portugal com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, “a
solução” passava pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o
STJ. “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado
cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”. Na semana
da definição da estratégia, Delcídio contou que esteve com Dilma no
Palácio da Alvorada para uma conversa privada.
Os dois conversavam enquanto caminhavam pelos jardins do Alvorada,
quando Dilma solicitou que Delcídio, na condição de líder do governo,
“conversasse com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele
confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio
Marques de Azevedo”, da Andrade Gutierrez. Conforme acertado com a
presidente, Delcídio se encontrou com Navarro “no próprio Palácio do
Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera”, o que,
segundo o senador, pode ser atestado pelas câmeras de segurança. Na
reunião, de acordo com Delcídio, Navarro “ratificou seu compromisso,
alegando inclusive que o dr. Falcão (presidente do STJ, Francisco
Falcão) já o havia alertado sobre o assunto”.
O acerto foi cumprido à risca. Em recente julgamento dos habeas corpus
impetrados no STJ, Navarro, na condição de relator, votou pela soltura
dos dois executivos. O problema, para o governo, é que o relator foi
voto vencido. No placar: 4x1 pela manutenção da prisão.
A ação de uma presidente da República no sentido de nomear de um
ministro para um tribunal superior em troca do seu compromisso de votar
pela soltura de presos envolvidos num esquema de corrupção é
inacreditável pela ousadia e presunção da impunidade. E joga por terra
todo seu discurso de “liberdade de atuação da Lava Jato”, repetido como
um mantra na campanha eleitoral. Só essa atitude tem potencial para
ensejar um novo processo de impeachment contra ela por crime de
responsabilidade.
Segundo juristas ouvidos pela reportagem, a lei 1.079 que define os
crimes de responsabilidade diz no artigo nono, itens 6 e 7, que atenta
contra a probidade administrativa — e é passível de perda de mandato —
usar de suborno ou qualquer outra forma de corrupção para levar um
funcionário público a proceder ilegalmente ou agir de forma incompatível
com a dignidade, a honra e o decoro. O que também poderá trazer
problemas para Dilma é o trecho da delação de Delcídio a respeito da
compra da refinaria de Pasadena, no Texas, considerada um dos negócios
mais desastrosos da Petrobras e que foi firmado em 2006 com um
superfaturamento de US$ 792 milhões, quando Dilma presidia o Conselho de
Administração da estatal.
A versão da presidente era de que ela e os conselheiros do colegiado não
tinham conhecimento de cláusulas desfavoráveis a Petrobras, mas
Delcídio no anexo 17 da delação é taxativo: “Dilma tinha pleno
conhecimento de todo o processo de aquisição da refinaria”. “A aquisição
foi feita com conhecimento de todos. Sem exceção”, reforçou o senador.
Não seria a primeira vez que Delcídio desmentiria Dilma na delação. No
anexo 03, o senador garante que ela teve participação efetiva na
nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria da BR Distribuidora,
contrariando o que ela havia afirmado anteriormente.
No relato aos procuradores, Delcídio disse que “tem conhecimento desta
ingerência (de Dilma), tendo em vista que, no dia da aprovação pelo
Conselho, estava na Bahia e recebeu ligações de Dilma”. Ex-diretor
internacional da Petrobras, Cerveró foi preso em janeiro de 2015,
acusado de receber propina em contratos da estatal com empreiteiras. Até
então, a indicação de Cerveró era atribuída a Lula e José Eduardo
Dutra, ex-presidente da BR Distribuidora, falecido no ano passado. Mas
segundo Delcídio, a atuação de Dilma foi “decisiva”. A presidente ligou
para ele duas vezes.
Na primeira, a presidente telefonou “perguntando se o Nestor já havia
sido convidado para ocupar a diretoria financeira da BR Distribuidora”.
“Depois, ligou novamente, confirmando a nomeação de Nestor para o
referido cargo”, o que se concretizou no dia 3 de março de 2008. Cerveró
foi o pivô da prisão de Delcídio. Em 25 de novembro do ano passado,
pela primeira vez desde 1985, o Supremo mandava prender um senador no
exercício do mandato. Um dos motivos apontados pelo ministro Teori
Zavascki foi a oferta de uma mesada de R$ 50 mil para que Cerveró não
celebrasse um acordo de delação premiada.
Na delação, Delcídio não só forneceu detalhes do pagamento como fez uma
revelação bombástica: disse que o mandante dos pagamentos à família
Cerveró foi o ex-presidente Lula. O senador petista trata do tema no
anexo 02 da delação. Segundo Delcídio, Lula pediu “expressamente” para
que ele ajudasse o amigo e pecuarista José Carlos Bumlai, porque ele
estaria implicado nas delações de Fernando Baiano e Nestor Cerveró.
Bumlai, segundo o senador, gozava de “total intimidade” e exercia o
papel de “consigliere” da família Lula — expressão usada pela máfia
italiana e consagrada no filme “O Poderoso Chefão” para designar o
conselheiro que detinha uma posição de liderança e representava o chefe
em reuniões importantes.
A transcrição da delação pelos procuradores diz no que consistia a ajuda
exigida por Lula a Bumlai: “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento
de valores à família de Cerveró”. Na conversa com o ex-presidente, de
acordo com outro trecho da delação, Delcídio diz que “aceitou
intermediar a operação”, mas lhe explicou que “com José Carlos Bumlai
seria difícil falar, mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai,
com quem mantinha boa relação”. O acerto foi sacramentado. Depois de
receber a quantia de Maurício Bumlai, a primeira remessa de R$ 50 mil
foi entregue em mãos pelo próprio Delcídio ao advogado de Cerveró, Edson
Ribeiro, também preso pela Lava Jato.
Os repasses de dinheiro se repetiram em outras oportunidades, de acordo
com Delcídio, por meio do assessor Diogo Ferreira. O total recebido foi
de R$ 250 mil. Para os procuradores que tomaram o depoimento de
Delcídio, a revelação é de extrema gravidade e pode justificar a prisão
do ex-presidente Lula. Integrantes da Lava Jato elaboram o seguinte
raciocínio: se o que embasou a detenção de Delcídio, preventivamente,
foi a tentativa do senador de obstruir as investigações, atestada pela
descoberta do pagamento a Cerveró, o mesmo se aplicaria a Lula, o
mandante de toda a artimanha.
Não seria a primeira vez que, durante a delação aos integrantes da Lava
Jato, Delcídio envolveria Lula na compra do silêncio de testemunhas. De
acordo com o senador, Lula e o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil,
Antonio Palocci, em meados de 2006, articularam o pagamento a Marcos
Valério para que ele se calasse sobre o mensalão. O dinheiro, um total
de R$ 220 milhões destinados a sanar uma dívida, segundo Delcídio, foi
prometido por Paulo Okamotto. Aos procuradores, o senador relatou uma
conversa com Lula em que ele o alerta: “Acabei de sair do gabinete
daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte (Okamotto). Corra,
Presidente, senão as coisas ficarão piores do que já estão”.
Na sequência, Palocci ligou para Delcídio dizendo que o Lula estava
“injuriado” em razão do teor da conversa, mas que ele (Palocci), a
partir daquele momento, “estaria assumindo a responsabilidade pelo
pagamento da dívida”. Valério, de acordo com o senador petista, não
recebeu a quantia integral pretendida. De todo o modo, diz o trecho da
delação, “a história mostrou a contrapartida: Marcos Valério silenciou”.
Ainda sobre o mensalão, Delcídio — ex-presidente da CPI dos Correios —
disse ter testemunhado na madrugada do dia 5 de abril de 2006 as
“tratativas ilícitas para retirada do relatório (final da CPI) dos nomes
de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acordão com a
oposição”. Assim, segundo o anexo 21 da delação, Lula se salvou do
impeachment.
Implicações: Juiz Sérgio Moro ganha novos elementos contra Lula |
O senador ainda lembrou aos procuradores uma frase do ex-ministro José
Dirceu: “Pode checar quem ia à Granja do Torto aos domingos. Te garanto
que não era eu”. Sem dúvida, afirmou Delcídio, tratava-se de uma
referência a Delúbio Soares e Marcos Valério. Hoje, de acordo com
Delcídio, um dos temas que “mais aflige” o ex-presidente Lula é a CPI do
Carf. O colegiado apura a compra de MPs durante o governo do petista
para favorecer montadoras e o envolvimento do seu filho, Luis Claudio,
no esquema. Segundo o senador petista, “por várias vezes Lula solicitou a
ele que agisse para evitar a convocação do casal Mauro Marcondes e
Cristina Mautoni para depor”.
O consultor Mauro Marcondes, amigo de Lula desde os tempos do ABC, e sua
mulher foram presos na Operação Zelotes, da PF, acusado de intermediar a
compra de MPs. Documentos integrantes da Operação mostram que a LFT,
uma empresa de marketing esportivo pertencente a Luis Claudio Lula da
Silva, recebeu R$ 1,5 milhão na mesma época em que lobistas foram
remunerados por empresas interessadas na renovação da medida provisória.
Afirmou Delcídio aos procuradores da Lava Jato: “Lula estava preocupado
com as implicações à sua própria família, especialmente os filhos Fábio
Luís e Luis Cláudio”, fato confirmado a ele por Maurício Bumlai.
Outra CPI, desta vez a dos Bingos (encerrada em 2006), segundo Delcídio,
teria agido para proteger a presidente Dilma. A declaração vem no bojo
de uma revelação que compromete a campanha da presidente em 2010. No
anexo 29 da delação, o senador petista afirmou que “uma das maiores
operações de caixa 2 para a campanha de Dilma em 2010 foi feita através
do empresário Adir Assad”, condenado no fim de 2015 por ser um dos
operadores do esquema do Petrolão.
“Orientados pelo tesoureiro de campanha de Dilma, José Di Filippi, os
empresários faziam contratos de serviços com as empresas de Assad, que
repassava recursos para as campanhas eleitorais”. De acordo com
Delcídio, o encerramento prematuro e sem relatório final da CPI dos
Bingos deveu-se exclusivamente a esse fato. “Quando o governo percebeu
que as várias quebras de sigilo levariam à campanha Dilma 2010,
determinaram o encerramento dos trabalhos”, afirmou. Parte dos
depoimentos de Delcídio foi tomado dentro do próprio Supremo Tribunal
Federal.
Segundo informou a reportagem um dos procuradores responsáveis pelo
acordo de delação, para que Delcídio conseguisse deixar a carceragem, em
Brasília, sem ser notado, foi montada uma verdadeira operação de guerra
envolvendo dezenas de policiais. Desde o início das tratativas a
preocupação maior de Delcídio foi justamente com o vazamento prematuro
do acordo. Por isso, as insistentes negativas de seus advogados. Até
livrar sua pele no Senado, ele preferia o sigilo. Com o novo cenário, de
altíssima octanagem, Brasília estremece. Pior para Delcídio. Melhor
para os fatos.
A presidente Dilma Rousseff |
Dilma interferiu na lava jato
No anexo 01 da delação, o senador Delcídio do Amaral revela que em três
ocasiões a presidente Dilma Rousseff, no exercício do mandato, e o
ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tentaram interferir na
Lava Jato. Nomeação do ministro Marcelo Navarro para o STJ fez parte de
acordo para soltura de executivos presos.
1 — A Primeira Investida do Planalto
A despeito dos discursos do governo com relação à sua isenção nos rumos
da operação Lava jato, é indiscutível e inegável a movimentação
sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria
presidente Dilma Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de
réus presos no curso da referida operação. Faz parte dessa articulação o
advogado Sigmaringa Seixas, figura influente quando se trata, no
governo, de indicações para os tribunais superiores. Nas conversas com
José Eduardo Cardozo, Dilma se refere a Sigmaringa como ‘the old man’.
A primeira investida do Planalto para tentar alterar os rumos da Lava
Jato salta aos olhos pela ousadia: o encontro realizado em 07/07/2015
(18 dias após a prisão de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo) entre
Dilma, José Eduardo e o presidente do STF, Ricardo Levandowski, numa
escala em Porto (Portugal) para supostamente falar sobre o reajuste de
verbas do Poder Judiciário. A razão apontada pela Presidência é
absolutamente injustificável ... A razão principal do encontro, em
verdade, foi a mudança nos rumos da Lava Jato. Contudo, a reunião foi
uma fracasso, em função do posicionamento retilíneo do ministro
Lavandowski, ao afirmar que não se envolveria.
2 — A Segunda Investida do Planalto
Em virtude da falta de êxito na primeira investida, mudou-se a
estratégia, que se voltou, então, para o STJ, José Eduardo esteve em
Florianópolis em agenda institucional ... A ideia era indicar para uma
das vagas no STJ o presidente do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer.
Em contrapartida, o ministro convocado, Dr. Trisotto, votaria pela
libertação dos acusados Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo. A investida
foi em vão porque Trisotto se negou a assumir tal responsabilidade
espúria. Mais um fracasso de José Eduardo em conseguir uma nomeação”.
3 — Terceira Investida do Planalto
Após os dois fracassos anteriores, rapidamente desenhou-se uma nova
solução que passava pela nomeação de Marcelo Navarro, desembargador do
TRF da 5ª Região, muito ligado ao ministro e presidente do STJ, Dr.
Francisco Falcão. Tal nomeação seria relevante para o governo, pois o
nomeado entraria na vaga detentora de prevenção para o julgamento de
todos os Habeas Corpus e recursos da Lava Jato no STJ. Na semana da
definição da nova estratégia, Delcídio do Amaral esteve com a presidente
Dilma no Palácio da Alvorada para uma conversa privada. Conversaram
enquanto caminhavam pelos jardins do Palácio e Dilma solicitou que
Delcídio conversasse com o desembargador Marcelo Navarro a fim de que
ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo e de Otavio ...
Marcelo Navarro Ribeiro Dantas |
... Conforme o combinado, Delcídio do Amaral se encontrou com o
desembargador Marcelo Navarrro no próprio Palácio do Planalto, no andar
térreo, em uma pequena sala de espera, o que poderá ser atestado pelas
câmeras do Palácio. Nessa reunião, muito rápida pela gravidade do tema, o
Dr. Marcelo ratificou seu compromisso, alegando inclusive que o Dr.
Falcão já o havia alertado sobre o assunto. Dito e feito. A sabatina do
Dr. Marcelo pelo senado e correspondente aprovação ocorreram em tempo
recorde. Em recente julgamento dos habeas Corpus impetrados no STJ,
confirmando o compromisso assumido, o Dr. Marcelo Navarro, na condição
de relator, votou favoravelmente pela soltura dos dois executivos
(Marcelo e Otavio). Entretanto, obteve um revés de 4X1 contra seu
posicionamento, vez que as prisões foram mantidas pelos outros ministros
da 5ª turma do STJ.”
Refinaria de Pasadena |
Dilma sabia de tudo do acerto de Pasadena
O senador conta que como presidente do Conselho de Administração da
Petrobras, Dilma Rousseff, sabia que por trás da compra da Refinaria de
Pasadena havia um esquema de superfaturamento para desviar recursos da
estatal. Ela poderia ter barrado as negociações, mas os contratos foram
aprovados pelo Conselho de Administração em tempo recorde e a Petrobras
teve um prejuízo de US$ 792 milhões, como foi comprovado pela Lava Jato e
pelo TCU.
“Dilma Rousseff, como então presidente do Conselho de Administração da
Petrobras, tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da
Refinaria de Pasadena e de tudo o que esse encerrava. A alegação de
Dilma de que ignorava o expediente habitualmente utilizado em contratos
desse tipo, alegando desconhecimento de cláusula como put option,
absolutamente convencional, é, no mínimo, questionável. Da mesma forma,
discutir um revamp de refinaria que nunca ocorreu, é inadmissível. A
tramitação do processo de aquisição de Pasadena durou um dia entre a
reunião da Diretoria Executiva e o Conselho de Administração. Delcídio
esclarece que a aquisição de Pasadena foi feita com o conhecimento de
todos. Sem exceção”.
Dilma queria Cerveró na Petrobras
O senador revela como, em 2008, Dilma Rousseff atuou de forma decisiva
para que Nestor Cerveró fosse mantido na direção da Petrobras. Na
ocasião, Cerveró perdeu o cargo de diretor Internacional por pressão do
PMDB, mas Dilma conseguiu coloca-lo na Diretoria Financeira da BR
Distribuidora.
Nestor Cerveró |
“Diferentemente do que afirmou Dilma Rousseff em outras oportunidades, a
indicação de Nestor Cerveró para a Diretoria Financeira da BR
Distribuidora contou efetivamente com a sua participação. Delcídio do
Amaral tem conhecimento dessa ingerência tendo em vista que, no dia da
aprovação pelo Conselho, estava na Bahia e recebeu ligações de Dilma ...
Não é correta a informação de que a Diretoria Financeira da BR
Distribuidora tenha sido produto de entendimento exclusivo de Lula e
Dutra (José Eduardo). Dilma Rousseff teve atuação decisiva, comprovada
através das ligações mencionadas, quando da sua chegada ao Rio de
Janeiro para a reunião do Conselho de Administração da Petrobras. Dilma
Rousseff ligou para Delcídio perguntando se o Nestor já havia sido
convidado para ocupar a Diretoria Financeira da BR Distribuidora.
Depois, ligou novamente confirmando a nomeação de Nestor para o referido
cargo, o que restou concretizado na segunda-feira, 03/03/2008, quando
da posse de Nestor na BR Distribuidora e de Jorge Zelada na área
internacional da Petrobras”.
CPI dos bingos protegeu Dilma
No anexo 29 da delação premiada, o senador Delcídio do Amaral descreve
aos membros da Lava Jato uma operação de caixa dois na campanha de Dilma
em 2010 feita pelo doleiro Adir Assad. Segundo Delcídio, o esquema
seria descoberto pela CPI dos Bingos, mas o governo usou a base de apoio
no Congresso para barrar a investigação dos parlamentares.
CPI dos Bingos |
“Uma das maiores operações de caixa dois da campanha de Dilma em 2010
foi feita através de Adir Assad. Orientados pelo tesoureiro da campanha,
José Filippi, os empresários faziam contratos de serviços com as
empresas de Assad, que repassava os recursos para as campanhas
eleitorais. Esse expediente foi largamente utilizado e o encerramento
prematuro e sem relatório final da CPI dos Bingos deveu-se
exclusivamente a esse fato. Quando o governo percebeu que as várias
quebras de sigilo levariam à campanha de Dilma, determinou o
encerramento imediato dos trabalhos”.
Lula mandou pagar Cerveró
Um dos relatos mais explosivos feitos pelo senador Delcídio do Amaral à
operação Lava Jato está no anexo 2. O senador revela aos procuradores
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandou o esquema do
pagamento de uma mesada a Cerveró para tentar evitar sua delação
premiada. Foi por intermediar esses pagamentos que Delcídio acabou na
cadeia. Lula não queria que o ex-diretor da Petrobras mencionasse o
esquema do pecuarista José Carlos Bumlai na compra de sondas
superfaturadas feitas pela estatal.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
"Lula pediu expressamente a Delcídio do Amaral para ajudar o Bumlai
porque supostamente ele estaria implicado nas delações de Fernando
Soares e Nestor Cerveró. No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de
valores à família de Cerveró com recursos fornecidos por Bumlai.
Delcídio explicou a Lula que com José Carlos Bumlai seria difícil falar,
mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha uma
boa relação. Delcídio, vendo a oportunidade de ajudar a família de
Nestor, aceitou intermediar a operação.
A primeira remessa de R$ 50.000,00 foi entregue pelo próprio Delcídio do
Amaral em mãos do advogado Edson Ribeiro, após receber a quantia de
Mauricio Bumlai, em um almoço na churrascaria Rodeio do Iguatemi, em
22/05/2015 (em anexo existe base documental para isso). As entregas de
valores à família de Nestor Cerveró se repetiram em outras
oportunidades. Nessas outras oportunidades quem fez a entrega foi o
assessor Diogo Ferreira (em anexo existe base documental disso). O total
recebido pela família de Nestor foi de R$ 250.000,00. O próprio
Bernardo (filho de Nestor Cerveró) recebeu em espécie do Diogo."
Lula comprou o silêncio de Marcos Valério
O ex-presidente cedeu às chantagens do publicitário Marcos Valério que
exigiu R$ 220 milhões para se calar na CPI dos Correios sobre os
meandros do Mensalão. Em seu depoimento, Delcídio afirma que ele e Paulo
Okamotto (presidente do Instituto Lula) tentaram negociar o pagamento,
mas que foi o ex-ministro Antônio Palocci quem assumiu essa tarefa.
O publicitário Marcos Valério |
“Em 14/02/2006 foi conversado sobre o pagamento de uma dívida prometida
por Paulo Okamotto em Belo Horizonte, a fim de que Marcos Valério
silenciasse em relação às questões do mensalão. Nos dois dias seguintes,
Delcidio do Amaral se reuniu sucessivamente: primeiro com Paulo
Okamoto, a fim de que ele cumprisse com o prometido em Belo Horizonte
(de acordo com Marcos Valério o valor seria de R$ 220 milhões); segundo
com o ex-presidente Lula, sendo que na conversa Delcídio disse
expressamente ao presidente: ‘acabei de sair do gabinete daquele que o
senhor enviou à Belo Horizonte. Corra presidente, senão as coisas
ficarão piores do que já estão’.
No dia seguinte, Delcídio recebeu uma ligação do então ministro da
Justiça, Marcio Thomaz Bastos, na qual este disse: ‘parece que sua
reunião com o Lula foi muito boa, né?’. A resposta de Delcídio foi a
seguinte: ‘não sei se foi boa para ele’. Na sequência, o ministro da
Fazenda, Palocci, ligou para Delcídio dizendo que Lula estava
‘injuriado’ com ele em razão do teor da conversa. Contudo, Palocci disse
que estaria, a partir daquele momento, assumindo a responsabilidade
pelo pagamento da dívida. Marcos Valério recebeu, mas não a quantia
integral pretendida. De todo modo, a história mostrou a contrapartida:
Marcos Valério silenciou.”
“Exclusão de Lula e Lulinha da CPI dos correios evitou o impeachment”
No anexo 21 da delação, Delcídio relata a forte atuação de Lula e
aliados sobre os parlamentares da CPI dos Correios. O senador, que
presidiu a CPI, afirma que a votação do relatório que poupou o
ex-presidente foi duvidosa.
CPI dos Correios |
“Lula se salvou de um impeachment com a exclusão de seu nome e de seu
filho Fábio Lula da Silva (o Lulinha) na madrugada do dia 05/04/2006 do
relatório final da CPI dos Correios, que foi aprovado em votação
polêmica e duvidosa naquele mesmo dia”.
Lula pressiona CPI do CARF para proteger a família
Delcídio afirmou aos procuradores da Lava Jato que, como líder do
governo, foi pressionado por Lula para que Mauro Marcondes e Cristina
Mautoni não fossem depor na CPI que apura a venda de Medidas
Provisórias. Ele revelou que o ex-presidente temia que o casal pudesse
implicar seus filhos no escândalo.
“Delcídio do Amaral tem conhecimento de que um dos temas que mais aflige
o presidente Lula é a CPI do Carf (Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais). A preocupação do ex- presidente foi elevada especialmente
quando da convocação de Mauro Marcondes e sua esposa Cristina Mautoni.
Por várias vezes o próprio Lula solicitou a Delcídio que agisse para
evitar a convocação do casal para depor perante a CPI. Lula alegava que
estava muito preocupado com eles.
Mas, em verdade, Lula estava preocupado com implicações à sua própria
família, especialmente com os filhos Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz
Claudio Lula da Silva. Esse fato foi confirmado a Delcídio por Maurício
Bumlai, que conhece muito bem a relação dos familiares de Lula com a
casal. Em resposta a insistência de Lula, Delcídio, como líder do
governo no Senado, mobilizou a base do governo para derrubar os
requerimentos de convocação do casal na reunião ocorrida em 05/11/2015,
onde logrou êxito”.
os filhos Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz Claudio Lula da Silva |
Bumlai é o consigliere da família Lula
No anexo 6 de sua delação premiada, Delcídio descreve as relações de
Bumlai com o ex-presidente e sua família. Fala sobre os negócios escusos
envolvendo o pecuarista e a Petrobras e cita as obras no sítio de
Atibaia.
“Ao contrário do que afirma o ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai
goza de total intimidade com ele, representando de certa maneira o papel
de ‘consigliere’ da família Lula ... De todas as ações ilícitas de
Bumlai, uma das mais relevantes é a aquisição/operação, pela Petrobras,
da sonda Vitória 10.000, cujos desdobramentos políticos e financeiros
são muito maiores do que os divulgados. O negócio foi feito com a
finalidade de quitar uma dívida de Bumlai com o Banco Schahim, divida
essa de R$ 12 milhões. O contrato girou em torno de US$ 16 milhões ... A
realidade é que o contrato não só quitou a dívida de Bumlai como pagou
dívidas da campanha presidencial de Lula em 2006 ... Bumlai foi o
principal responsável pela implementação do Instituto Lula,
disponibilizando de todo o aparato logístico e financeiro. Foi também a
pessoa que ficou responsável, em um primeiro momento, pelas obras do
sítio de Atibaia, do ex-presidente Lula. Delcídio tem conhecimento de
que Bumlai já tinha contratado arquiteto e engenheiro para a realização
das obras, o que foi abortado por Léo Pinheiro, outro grande amigo do
presidente, que pessoalmente se dispôs a fazer o serviço através da OAS
em um curto espaço de tempo”.
José Carlos Bumlai |
O sítio de Atibaia |
Pedágio na CPI da Petrobras
Delcídio diz que os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego
(PMDB-PB) e os deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando Francischini
(SD-PR) cobravam de empreiteiros para não serem convocados na CPI da
Petrobras.
“Delcídio do Amaral sabe de ilicitudes envolvendo o desfecho da CPI que
apurava os crimes no âmbito da Petrobras. A CPI obrigava Léo Pinheiro,
Júlio Camargo e Ricardo Pessoa a jantarem todas as segundas-feiras em
Brasília. O objetivo desses jantares era evitar que os empresários
fossem convocados para depor na CPI. Os senadores Gim Argello, Vital do
Rego e os deputados Marco Maia e Francischini cobravam pedágio para não
convocar e evitar maiores investigações contra Léo Pinheiro, Júlio
Camargo e Ricardo Pessoa.”
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