Marina Silva diz que PT faz apologia ao confronto para se defender e afirma que a Justiça deve ser vista como ‘reparação’, não como
‘vingança’
A ex-senadora Marina Silva durante entrevista no domingo (06.mar.2016) em Brasília |
Marina Silva, fundadora da Rede, atacou no domingo (06.mar.2016) a
postura do PT de “fazer apologia ao confronto para se defender de
acusações”, e que o povo brasileiro merece ser reparado por erros do
governo. Ex-ministra de Lula, Marina disse que não conversou com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois que ele foi alvo de
condução coercitiva na Lava-Jato.
— É triste, obviamente, ver um partido que no passado suscitou tantas
esperanças na defesa da ética e no combate à corrupção, agora tendo que
fazer apologia do conflito, do confronto, para se defender de acusações —
afirmou Marina, em referência ao PT e ao comportamento do partido
depois da fase mais recente da Operação Lava-Jato, em que Lula foi alvo.
— Espero que no nossos país possamos chegar a um tempo em que o
funcionamento das instituições, a autonomia das instituições, não tenha
que ser combatido por agentes públicos — disse a fundadora da Rede.
No sábado (05.mar.2016), a presidente Dilma Rousseff visitou Lula em São
Bernardo, e a oposição já anunciou que irá à Justiça contra o uso de
dinheiro público na viagem. Marina afirmou que a Justiça deve ser vista
como “reparação”, e não como “vingança", e defendeu que ninguém está
acima da Lei. Marina Silva ressaltou que não é hora de apontar culpados
ou deslegitimar as investigações.
A posição de Marina quanto à saída das “várias crises” que o país vive é
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela ressalta que o impeachment
não é golpe, mas diz que “nem sempre o caminho mais rápido é o melhor”.
Para ela, o impeachment não traria avanços práticos, já que Dilma e
Temer, o PT e o PMDB, seriam “duas faces de uma mesma moeda”. Marina,
que defende que o povo brasileiro deve ser reparado de um erro a que foi
induzido nas eleições, falou também em “fim de ciclo” para sair da
situação atual de “poço sem fundo”.
— A cada dia, parece que nos colocaram uma espécie de poço sem fundo.
Nós temos a clareza de que estamos, eu espero, em uma espécie de fim de
ciclo, espero profundamente que estejamos e um fim de ciclo, que se
articula para o poder, pensando em projeto de poder — declarou, e
completou: — Eu não entendo por que com tanta violência projetaram em
mim que se eu ganhasse as eleições, eu seria cassada por falta de apoio
no Congresso, eu iria tirar o emprego das pessoas, a comida, o estudo
das pessoas. Agora eu entendo. Essa projeção foi feita porque,
conhecendo com profundidade a gravidade da crise que estava sendo
ocultada, com certeza essas pessoas sabiam que não tinha outro caminho.
Histórico — Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente do governo
Lula de 2003 a 2008, quando pediu demissão da pasta e retornou ao seu
mandato de senadora. Em 2009, saiu do PT. Em 2010, concorreu ao Planalto
pelo PV, e obteve cerca de 19,6 milhões de votos. Saiu do PV no ano
seguinte. Nas últimas eleições presidenciais, em acordo com o PSB de
Eduardo Campos enquanto a Rede não era fundada, recebeu 22 milhões de
votos, em um pleito em que passou de candidata a vice a grande
concorrente para o segundo turno como candidata a presidente.
2º Congresso Nacional da Rede Sustentabilidade — No primeiro
congresso nacional da sigla, em 2014, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) ainda não havia concedido o registro para a legenda — o que
aconteceu em setembro do ano passado. Agora, o partido começa a ter
corpo e tem pela frente as eleições municipais.
O 2º congresso da Rede Sustentabilidade foi da quinta-feira
(03.mar.2016) até o domingo (06.mar.2016) — dias tensos para o Planalto.
Se na quinta veio à tona uma reportagem sobre uma delação do ex-líder
do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS), que envolve Dilma e Lula,
na sexta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da 24ª
Operação da Lava-Jato e submetido a uma condução coercitiva.
Antes de falar à imprensa, Marina atacou a “velha política” e fez menções a um “projeto e poder” e a um “marqueteiro”.
— A única coisa que tinham em mente era um projeto de poder de no mínimo
20 anos. Deu no que deu — declarou Marina Silva, que ainda mencionou a
figura do “marqueteiro”:
— Temos que ganhar não a partir da mentira do marqueteiro, mas a partir daquilo que precisa o povo brasileiro.
A fundadora da Rede disse também aos conferencistas que o evento não se
transformou em uma “discurseira da desconstrução”, mesmo com a ebulição
no cenário político.
— Haja fatos na abertura de um congresso. Nós poderíamos ter
transformado isso aqui na desculpa apenas para a discurseira da
desconstrução, da agressão política, da visão de que vamos faturar em
cima desses fatos. Mas nós fomos capazes de, com serenidade, analisar os
fatos, nos posicionarmos sobre eles e manter o cronograma da discussão —
disse Marina Silva.
Na sexta-feira (04.mar.2016), o partido divulgou uma nota manifestando
“todo o apoio à investigação profunda e rigorosa de todos os envolvidos”
e pedindo a reunificação do país.
“A Rede Sustentabilidade, reunida em seu 2º Congresso Nacional,
considera que a gravidade dos fatos requer todo apoio à investigação
profunda e rigorosa de todos os envolvidos, assegurado o amplo direito
de defesa previsto em nosso arcabouço legal”, dizia o documento.“É hora
de reunificar o Brasil em defesa da Justiça e da estabilidade
institucional”, completava a nota.
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