sábado, 12 de março de 2016


Delcídio aponta esquema de desvio de R$ 45 milhões da usina de Belo Monte para irrigar as campanhas eleitorais de Dilma



O senador Delcídio Amaral (PT-MS)


O senador Delcídio Amaral (PT-MS) apontou, em acordo de delação premiada, um "sofisticado esquema de corrupção" nas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O senador do PT de Mato Grosso do Sul apontou a existência de um "triunvirato" constituído pelos ex-chefes da Casa Civil Erenice Guerra e Antônio Palocci (também ex-ministro da Fazenda) e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que teria movimentado aproximadamente R$ 25 bilhões e desviado ao menos R$ 45 milhões dos cofres públicos diretamente para as campanhas eleitorais do PT e do PMDB em 2010 e 2014, que formavam coligação com a presidente Dilma Rousseff nos dois pleitos.
“A propina de Belo Monte serviu como contribuição decisiva para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014”, disse Delcídio aos procuradores.
A operação começou a ser concebida no leilão para a escolha do consórcio que faria a obra de Belo Monte, em 2010, e se desenrolou até pelo menos o início de 2015, quando a Operação Lava Jato estava em andamento.
Segundo informação atribuída a Delcídio, o esquema começou três dias antes do leilão que decidiu qual consórcio comandaria as obras. Empresas que não participaram da disputa viraram sócias do projeto como prestadoras de serviço. O petista disse que as propinas aumentavam no período eleitoral.
“A atuação do triunvirato formado por Silas Rondeau, Erenice Guerra e Antônio Palocci (ex-ministro da Fazenda) foi fundamental para se chegar ao desenho corporativo e empresarial definitivo do projeto Belo Monte”, teria dito Delcídio aos procuradores da Lava Jato. Segundo as declarações do ex-líder do governo no Senado, em todas as etapas do processo houve superfaturamento (obras e compra de equipamentos).



Antiga companheira: Erenice Guerra está com Dilma desde que a atual presidente
ocupou o Ministério de Minas e Energia


Denúncias sobre corrupção nas obras de Belo Monte já haviam sido feitas por outros delatores, mas é a primeira vez que uma testemunha revela com detalhes como funcionava o esquema, qual o destino do dinheiro desviado e aponta o nome dos coordenadores de toda a operação. A delação feita por Delcídio leva as investigações sobre o propinoduto petista nos setores de energia e de infraestrutura para as antessalas do gabinete presidencial. Desde 2003, Erenice é tida como uma escudeira da presidente Dilma e mesmo após deixar o governo, sob a acusação de favorecer lobistas ligados a seu filho, permanece como uma das poucas interlocutoras de Dilma.
Entre os procuradores que já tomaram conhecimento da delação de Delcídio há a convicção de que Erenice era a principal operadora do triunvirato, uma vez que antes de assumir o cargo na Casa Civil trabalhou, ao lado de Dilma, no Ministério de Minas e Energia, responsável pelas obras da usina.


Triunvirato: Palocci, Erenice e Silas Rondeau (da esquerda à direita)


Anexo sete — No anexo sete de sua delação, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, descreve em detalhes o esquema de corrupção armado na construção da usina de Belo Monte. Ele afirma que houve a participação de José Carlos Bumlai, mas que todo o esquema do propinoduto em belo monte foi coordenado por um triunvirato comandado por Erenice Guerra, uma das principais escudeiras da presidente Dilma Rousseff.






Anexo nove — Ainda sobre a campanha eleitoral de 2014, no anexo nove da delação, Delcídio afirma que o atual chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Edinho Silva, tesoureiro da campanha da presidente Dilma naquele ano, atuou para “esquentar” dinheiro oriundo da indústria farmacêutica, usando a contabilidade das campanhas para governador e "forjando falsas prestações de serviço".
O senador Delcídio afirmou ter recebido uma proposta de Edinho Silva para quitar uma dívida de R$ 1 milhão de sua campanha eleitoral de 2014, quando disputou o governo do Mato Grosso do Sul. O ministro, de acordo com Delcídio, sugeriu "esquentar" dinheiro do laboratório EMS por meio de Zilmar Fernandes, ex-sócia de Duda Mendonça, e da FSB Comunicações — para saldar a dívida da campanha — entretanto, o pagamento não foi feito, mas a EMS pagou imposto sobre transações financeiras com a FSB e Zilmar (que podem ser levantado por intermédio da quebra do sigilo fiscal) — Delcídio acredita que essa mesma situação ocorreu com outros candidatos que podem ter usado laboratórios farmacêuticos para os mesmos fins ilegais similares.
Ao finalizar sua delação, o ex-líder do governo no Senado, apontou para a força-tarefa da Lava Jato que laboratórios e planos de saúde, em troca de indicações para cargos na ANS e na Anvisa, têm despertado grande atenção dos políticos quando são discutidos os caminhos para a arrecadação de recursos.






O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) ficou preso entre novembro e fevereiro em decorrência das investigações da Operação Lava Jato. Solto, ele negocia acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
A reportagem lembra que a delação do senador do PT precisa ainda ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e depois enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fazer parte da ação que requer a cassação do mandato de Dilma.

OUTRO LADO — Edinho Silva, que foi o tesoureiro do comitê petista na última eleição, chamou de "mentira escandalosa" a afirmação de Delcídio.
"Jamais mantive esse diálogo com o senador, jamais mantive sequer contato com as mencionadas empresas, antes ou durante a campanha eleitoral. Isso é facilmente comprovado. As doações para a campanha de Dilma Rousseff em 2014 estão todas declaradas ao TSE, bem como os fornecedores. As contas da campanha eleitoral foram todas aprovadas por unanimidade pelos ministros do TSE", afirmou.
A defesa da ex-ministra Erenice Guerra, feita pelo advogado Mário de Oliveira Filho, informou que não poderia comentar por não ter tido acesso à colaboração e disse achar "estranho" que a imprensa tenha acesso a isso antes da defesa.
O advogado do ex-ministro Antônio Palocci, José Roberto Batochio, afirmou que as acusações "não têm o menor cabimento porque Palocci nunca teve qualquer envolvimento com Belo Monte" e sustentou que ele "nega veementemente" as informações.
Em nota, a FSB Comunicação diz que "nunca recebeu recursos da EMS, empresa que jamais foi cliente da agência". A empresa afirma ainda que entrou com um processo contra o diretório do PT de Mato Grosso do Sul para receber o pagamento de serviços prestados na campanha de 2014.




Nenhum comentário:

Postar um comentário