Delcídio aponta esquema de desvio de R$ 45 milhões da usina de Belo Monte para irrigar as campanhas eleitorais de Dilma
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) |
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) apontou, em acordo de delação
premiada, um "sofisticado esquema de corrupção" nas obras da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte.
O senador do PT de Mato Grosso do Sul apontou a existência de um
"triunvirato" constituído pelos ex-chefes da Casa Civil Erenice
Guerra e Antônio Palocci (também ex-ministro da Fazenda) e o
ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que teria movimentado
aproximadamente R$ 25 bilhões e desviado ao menos R$ 45 milhões dos
cofres públicos diretamente para as campanhas eleitorais do PT e do
PMDB em 2010 e 2014, que formavam coligação com a presidente Dilma
Rousseff nos dois pleitos.
“A propina de Belo Monte serviu como contribuição decisiva para as
campanhas eleitorais de 2010 e 2014”, disse Delcídio aos
procuradores.
A operação começou a ser concebida no leilão para a escolha do
consórcio que faria a obra de Belo Monte, em 2010, e se desenrolou
até pelo menos o início de 2015, quando a Operação Lava Jato estava
em andamento.
Segundo informação atribuída a Delcídio, o esquema começou três dias
antes do leilão que decidiu qual consórcio comandaria as obras.
Empresas que não participaram da disputa viraram sócias do projeto
como prestadoras de serviço. O petista disse que as propinas
aumentavam no período eleitoral.
“A atuação do triunvirato formado por Silas Rondeau, Erenice Guerra
e Antônio Palocci (ex-ministro da Fazenda) foi fundamental para se
chegar ao desenho corporativo e empresarial definitivo do projeto
Belo Monte”, teria dito Delcídio aos procuradores da Lava Jato.
Segundo as declarações do ex-líder do governo no Senado, em todas as
etapas do processo houve superfaturamento (obras e compra de
equipamentos).
Antiga companheira: Erenice Guerra está com Dilma desde que a atual presidente ocupou o Ministério de Minas e Energia |
Denúncias sobre corrupção nas obras de Belo Monte já haviam sido feitas
por outros delatores, mas é a primeira vez que uma testemunha revela com
detalhes como funcionava o esquema, qual o destino do dinheiro desviado
e aponta o nome dos coordenadores de toda a operação. A delação feita
por Delcídio leva as investigações sobre o propinoduto petista nos
setores de energia e de infraestrutura para as antessalas do gabinete
presidencial. Desde 2003, Erenice é tida como uma escudeira da
presidente Dilma e mesmo após deixar o governo, sob a acusação de
favorecer lobistas ligados a seu filho, permanece como uma das poucas
interlocutoras de Dilma.
Entre os procuradores que já tomaram conhecimento da delação de Delcídio
há a convicção de que Erenice era a principal operadora do triunvirato,
uma vez que antes de assumir o cargo na Casa Civil trabalhou, ao lado
de Dilma, no Ministério de Minas e Energia, responsável pelas obras da
usina.
Triunvirato: Palocci, Erenice e Silas Rondeau (da esquerda à direita) |
Anexo sete — No anexo sete de sua delação, o senador Delcídio do
Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, descreve em detalhes
o esquema de corrupção armado na construção da usina de Belo Monte.
Ele afirma que houve a participação de José Carlos Bumlai, mas que
todo o esquema do propinoduto em belo monte foi coordenado por um
triunvirato comandado por Erenice Guerra, uma das principais
escudeiras da presidente Dilma Rousseff.
Anexo nove — Ainda sobre a campanha eleitoral de 2014, no anexo nove
da delação, Delcídio afirma que o atual chefe da Secretaria de
Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Edinho
Silva, tesoureiro da campanha da presidente Dilma naquele ano, atuou
para “esquentar” dinheiro oriundo da indústria farmacêutica, usando
a contabilidade das campanhas para governador e "forjando falsas
prestações de serviço".
O senador Delcídio afirmou ter recebido uma proposta de Edinho Silva
para quitar uma dívida de R$ 1 milhão de sua campanha eleitoral de
2014, quando disputou o governo do Mato Grosso do Sul. O ministro,
de acordo com Delcídio, sugeriu "esquentar" dinheiro do laboratório
EMS por meio de Zilmar Fernandes, ex-sócia de Duda Mendonça, e da
FSB Comunicações — para saldar a dívida da campanha — entretanto, o
pagamento não foi feito, mas a EMS pagou imposto sobre transações
financeiras com a FSB e Zilmar (que podem ser levantado por
intermédio da quebra do sigilo fiscal) — Delcídio acredita que essa
mesma situação ocorreu com outros candidatos que podem ter usado
laboratórios farmacêuticos para os mesmos fins ilegais similares.
Ao finalizar sua delação, o ex-líder do governo no Senado, apontou
para a força-tarefa da Lava Jato que laboratórios e planos de saúde,
em troca de indicações para cargos na ANS e na Anvisa, têm
despertado grande atenção dos políticos quando são discutidos os
caminhos para a arrecadação de recursos.
O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) ficou preso entre novembro e
fevereiro em decorrência das investigações da Operação Lava Jato.
Solto, ele negocia acordo de delação premiada com a
Procuradoria-Geral da República.
A reportagem lembra que a delação do senador do PT precisa ainda ser
homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e depois enviada ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fazer parte da ação que
requer a cassação do mandato de Dilma.
OUTRO LADO — Edinho Silva, que foi o tesoureiro do comitê
petista na última eleição, chamou de "mentira escandalosa" a
afirmação de Delcídio.
"Jamais mantive esse diálogo com o senador, jamais mantive sequer
contato com as mencionadas empresas, antes ou durante a campanha
eleitoral. Isso é facilmente comprovado. As doações para a campanha
de Dilma Rousseff em 2014 estão todas declaradas ao TSE, bem como os
fornecedores. As contas da campanha eleitoral foram todas aprovadas
por unanimidade pelos ministros do TSE", afirmou.
A defesa da ex-ministra Erenice Guerra, feita pelo advogado Mário de
Oliveira Filho, informou que não poderia comentar por não ter tido
acesso à colaboração e disse achar "estranho" que a imprensa tenha
acesso a isso antes da defesa.
O advogado do ex-ministro Antônio Palocci, José Roberto Batochio,
afirmou que as acusações "não têm o menor cabimento porque Palocci
nunca teve qualquer envolvimento com Belo Monte" e sustentou que ele
"nega veementemente" as informações.
Em nota, a FSB Comunicação diz que "nunca recebeu recursos da EMS,
empresa que jamais foi cliente da agência". A empresa afirma ainda
que entrou com um processo contra o diretório do PT de Mato Grosso
do Sul para receber o pagamento de serviços prestados na campanha de
2014.
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