Mulheres acusadas de “crimes morais” são submetidas a exames de virgindade forçado, no Afeganistão
Um relatório da organização não governamental Human Rights Watch
(HRW), divulgado na segunda-feira (29.fev.2016), denuncia que
mulheres afegãs — incluindo crianças — são submetidas a exames de
virgindade forçados, uma prática que o grupo classifica como
“agressão sexual”.
A condição das mulheres afegãs melhorou desde a queda do regime
Talibã em 2001, contudo, a sociedade afegã ainda é profundamente
conservadora e a virgindade feminina é considerada um valor
primordial.
Os exames de virgindade são uma prática comum por parte das
autoridades afegãs, que utilizam este método quando estão em causa
acusações de “crimes morais” por parte das mulheres. A maioria das
mulheres acusadas destes crimes são submetidas a exames
ginecológicos, onde as autoridades afegãs procuram apurar se a
mulher teve ou não relações sexuais fora do casamento. O resultado
do exame é normalmente aceito como prova nos órgãos judiciais, sem
qualquer objeção.
Na tradição e cultura de grande parte do Afeganistão, um jovem deve
casar-se com uma rapariga virgem. Para demonstrar a virgindade da
noiva é esperado que o novo casal, após a primeira relação sexual,
mostre o lençol manchado com sangue à família. Um hímen intacto é
visto no Afeganistão como sinal de prestígio e honra para a família
ou tribo da mulher. Mas, se existirem suspeitas de que a mulher
perdeu a virgindade antes do casamento, ela perderá a sua honra e
poderá ser punida. Em alguns casos poderá mesmo ser morta.
Contudo, os exames de virgindade, segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), não têm qualquer validade científica.
“Muitas pessoas acreditam erroneamente que a virgindade pode ser
determinada pelo fato de o hímen ser sempre rompido quando uma
mulher tem relações sexuais pela primeira vez. Simplesmente, isso
não é verdade. Algumas raparigas nascem sem hímen; o hímen rompe
frequentemente durante atividades não-sexuais, e em muitos casos
continua intacto após a interação sexual”, afirmou num comunicado
Heather Barr, investigadora da Divisão dos Direitos da Mulher da
HRW.
No relatório levado a cabo pela Comissão Independente de Direitos
Humanos do Afeganistão (AIHRC) foram entrevistadas 53 mulheres
afegãs, e 48 delas disseram ter sido submetidas a exames de
virgindade depois de terem sido acusadas de ter relações sexuais
antes do casamento. Vinte mulheres foram examinadas mais do que uma
vez, e uma delas afirmou que durante o exame estavam seis pessoas
presentes na sala. Das entrevistas recolhidas neste relatório, a
rapariga mais nova tinha 13 anos.
Os efeitos psicológicos destes exames incluem “depressão, pânico,
transtornos mentais causados pelo stress, trauma, memórias
desconfortáveis, pesadelos, sofrimento emocional, reações físicas,
comportamento agressivo e sentimento de pecado, ignomínia e
desespero”, lê-se no relatório.
A HRW concluiu que estes exames são “agressões sexuais” contra a
mulher, e que violam a Constituição do Afeganistão e os princípios
internacionais. “Tendo em conta que os exames ginecológicos são
conduzidos sem o consentimento da vítima, podem ser considerados
como assédio sexual ou violação dos Direitos Humanos”.
“O uso contínuo de 'exames de virgindade' degradantes e
não-científicos pelo governo afegão faz parte de um padrão mais
amplo de abusos em que as mulheres e as raparigas no Afeganistão são
presas por acusações de 'crimes morais'", afirmou Heather Barr.
Tendo em conta as conclusões do relatório, a HRW apelou a que o
Presidente afegão, Ashraf Ghani, abolisse estes exames por decreto.
Ghani está no poder há um ano e meio, e a luta pelos direitos das
mulheres foi considerada pelo próprio como uma das prioridades do
seu mandato.
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