A ruína do governo
O governo e seus símbolos estão submetidos a uma atmosfera apocalíptica.
Além de reprovar Dilma (69%), a maioria dos brasileiros deseja o seu
impeachment (68%) ou a sua renúncia (65%). Para piorar, mais da metade
do eleitorado (57%) afirma que jamais votaria em Lula.
Alvo de quatro ações de cassação na Justiça Eleitoral, Dilma pode ter o
mandato passado na lâmina pelo TSE. Se isso acontecer ainda neste ano de
2016, haverá nova eleição. Hoje, informa o Datafolha, Marina (21%),
Aécio (19%) e Lula (17%) estão nas três primeiras colocações. Em
pesquisa realizada há 20 dias, Aécio ostentava 24%. Despencou cinco
pontos.
Poder-se-ia repetir a velha cantilena segundo a qual a oposição não
dispõe de projeto. Mas na verdade, em meio a um cenário de borrasca
moral e desespero econômico, o único antagonista do governo que consegue
oferecer esperança é Marina.
O grão-tucano Aécio, que esteve na bica de derrotar Dilma em 2014,
prepara-se para escalar o monturo da Lava Jato na condição de
investigado. O delator Delcídio Amaral acusou-o de receber verbas sujas
desviadas da estatal elétrica Furnas, num caso mal investigado que se
arrasta desde 2005. Aécio diz que a denúncia é “mentirosa” e
“requentada.” A Procuradoria da República quer tirar a prova dos nove
num inquérito.
Além da hipótese de cassação pela Justiça Eleitoral, Dilma corre o risco
de ser impedida pelo Congresso. Nessa hipótese, assume o cargo o
vice-presidente Michel Temer, também citado na delação de Delcídio como
patrono da nomeação de um petrogatuno.
Pois bem, apenas 16% dos brasileiros acreditam na capacidade de Temer de
entregar um governo ótimo ou bom. Na opinião de 35% dos entrevistados,
um governo Temer seria ruim ou péssimo. A plateia tem fundadas razões
para levar o pé atrás. Temer preside o PMDB, uma legenda que, entre
outros azares, inclui o réu Eduardo Cunha e o investigado Renan
Calheiros, alvo de meia dúzia de inquéritos no STF.
Ludibriada em 2014 pela marquetagem petista de João Santana, a plateia
não parece disposta a fazer papel de boba novamente. Daí o receio de que
Temer vire uma espécie de São Jorge que, enviado para salvar a donzela,
acaba se casando com o dragão.
O Brasil não é novato em matéria de impeachment. Já arrancou da
Presidência Fernando Collor, o notório. Naquela ocasião, todos os
partidos políticos com alguma relevância juntaram-se ao redor do então
vice-presidente Itamar Franco — todos, salvo o PT —. Deu no Plano Real,
que rendeu o fim da hiperinflação e dois mandatos presidenciais a
Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, vista de longe, Brasília parece mais uma comédia mal escrita, sem
direção, com atores fora de suas marcas, escalados às pressas para
substituir o espetáculo anterior, que talvez saia de cartaz porque o
público já não suporta o elenco que está em cena. A política nunca
esteve tão por baixo.
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