domingo, 22 de junho de 2014


PT oficializa candidatura de 
Dilma Rousseff à reeleição


O PT oficializou no sábado (21 de junho) em sua convenção nacional a candidatura da presidente Dilma Rousseff a seu segundo mandato nas eleições de 5 de outubro.
Na convenção, também foi renovada a aliança do PT com o PMDB e a candidatura de Michel Temer à reeleição a vice-presidente como companheiro de chapa de Dilma. A aliança foi aprovada há duas semanas pelo PMDB.
No encontro, realizado em Brasília, Dilma e Temer tiveram o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; além de presidentes de partidos aliados, vários ex-ministros, dezenas de parlamentares, governadores, prefeitos e líderes políticos regionais. Apesar da candidatura já ser dada como certa há meses pelo PT, até agora ainda não havia sido formalizada.
Durante a convenção, Falcão voltou a ressaltar a necessidade de implementar uma reforma do sistema político eleitoral e a democratização dos meios de comunicação a qual, segundo disse, "os oligopólios tentam caracterizar como censura".
O presidente nacional do PT também comentou as vaias que Dilma recebeu durante a partida de abertura da Copa do Mundo, e disse que o "tiro saiu pela culatra" porque a presidente foi cercada pela solidariedade dos que condenam a violência.
Apesar de Dilma ainda líder as enquetes de intenções de voto com grande vantagem, ela vem perdendo terreno. As últimas pesquisas indicam que já não há garantia de reeleição sem a necessidade de disputar um segundo turno.
De acordo com uma pesquisa do Ibope, se as eleições fossem hoje, Dilma obteria 39% dos votos, contra 21% do senador Aécio Neves, e 10% do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Dilma (presidente)  e  Michel Temer (vice)

Conhecida como exigente e durona, Dilma reforçou essa "fama" na Presidência
Durona, centralizadora e exigente são características da presidente Dilma Rousseff presentes no imaginário da população, que também coincidem com o que se sussurra entre as paredes do Palácio do Planalto.
Essa imagem, construída ao longo dos anos no ministério do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como titular da pasta de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, foi reforçada nos últimos anos por meio de relatos, geralmente anônimos por razões óbvias.
Por outro lado, a fama de gestora e técnica eficiente, bastante usada durante a campanha que a levou em 2010 ao Palácio do Planalto sem nunca antes ter disputado uma eleição, perdeu força no período como presidente diante dos fracos resultados da economia. Ainda que a taxa de desemprego esteja em níveis bastante baixos, a inflação tem permanecido relativamente alta e o crescimento do país é um dos piores do período republicano.
E antes mesmo da economia desacelerar mais fortemente, o mau humor crescente da população com os problemas do país derrubaram a popularidade de Dilma.
Depois de atingir em março de 2013, segundo o Datafolha, um pico de 65 por cento na avaliação ótima e boa do governo -- melhor do que Lula em seu primeiro mandato --, ela despencou para 30 por cento apenas três meses depois, na esteira das gigantescas manifestações populares de junho do ano passado.
Agora, a menos de quatro meses da eleição na qual tenta obter um segundo mandato na Presidência, Dilma tem caído também nas intenções de voto mostradas pelas pesquisas eleitorais.
Mas o começo de seu governo foi diferente. Impulsionada principalmente pela saída de ministros envolvidos em denúncias de corrupção, e pela intolerância com "malfeitos", como dizia Dilma, ela viu sua popularidade e a de seu governo crescerem degrau a degrau.
O que ficou conhecido como faxina, ainda que a expressão tenha sido rejeitada por Dilma várias vezes, reforçou a fama de boa administradora.
O comportamento inicial mais inflexível com sua base parlamentar nas negociações políticas também ajudou a fortalecer Dilma junto a uma camada da população descontente com os políticos em geral.
Mas justamente sua falta de experiência política à frente de um cargo executivo eletivo acabou colaborando para esgarçar ao longo do tempo sua base de apoio no Congresso.
Essa falta de traquejo político, no entanto, está longe de significar falta de interesse pela política. Como disse o senador Jorge Viana (PT-AC), "ela foi política desde jovem, ela colocou a vida em risco por isso".
Dilma participou da luta armada contra a ditadura que governou o país por 21 anos, participando de uma das muitas organizações de esquerda quando estudante.
Mas o segundo ex-marido, Carlos Araújo, disse que Dilma "nunca pegou numa arma e nunca deu um tiro".
Presa, sofreu torturas "extremamente cruéis", segundo o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel, seu amigo desde a juventude.
É muito raro ela se referir publicamente a esse período, mas os recentes xingamentos de que foi alvo na abertura da Copa do Mundo em São Paulo levaram-na a abrir uma exceção.
No dia seguinte, num evento oficial no Distrito Federal, Dilma disse que em sua vida tinha enfrentado agressões que chegaram "ao limite físico" e que não seriam ataques verbais que a abateriam ou a fariam se atemorizar.
"Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada disso me tirou do meu rumo, nada me tirou dos meus compromissos."

De olho em tudo
Dilma voltou à vida de estudante depois da prisão e, com a abertura política, ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul e participou das gestões de Alceu Collares na Prefeitura de Porto Alegre e no governo do Estado, tornando-se a primeira mulher a comandar as finanças de uma capital no país.
Quando foi convidada por Lula para o Ministério de Minas e Energia já tinha cuidado da área no Estado do Rio Grande do Sul e já era filiada ao PT há dois anos.
Com a saída do governo do poderoso José Dirceu, por conta do escândalo do mensalão, Dilma assumiu a Casa Civil, onde foi apelidada pelo presidente de "mãe do PAC", o Programa de Aceleração do Crescimento.
Mas seu bom desempenho como ministra não seria suficiente para catapultá-la à disputa presidencial se Dirceu e depois dele o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, envolvido em outro escândalo, não tivessem caído.
Sem nunca ter disputado um cargo eletivo e sem ter, nem de longe, o carisma de seu padrinho, Dilma foi para a disputa, e venceu, impulsionada pela imensa popularidade do presidente. Antes de ser candidata, porém, teve outra batalha física em sua vida, precisou superar um câncer no sistema linfático.
Seu período na Presidência tem sido marcado pelas características conhecidas de centralizadora, durona e exigente.
Um exemplo mostra como Dilma, 66 anos, pode ser centralizadora até nos pequenos detalhes. Segundo um auxiliar seu, a cada cerimônia no Palácio do Planalto ela exige ver pelo menos três versões do painel com slogan e propaganda do programa ou projeto que será lançando. A impressão só é autorizada depois que a presidente decide qual a cor e imagem serão usadas na peça publicitária.
Outro episódio reforça a ideia da pressão que a presidente pode causar.
Durante uma apresentação interna sobre saúde, auxiliares colocaram um vídeo ao vivo de um centro médico em funcionamento. Dilma notou que um dos pacientes estava esperando havia muito tempo, e parou a reunião.
“Ligue para eles e descubra por que essa mulher está esperando”, ordenou a presidente, de acordo com uma pessoa presente. Todos na sala, então, viram pela tela um funcionário em pânico atender o telefone e começar a se desculpar.
“Eles vão achar agora que você está sempre observando, presidente”, disse rindo o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Dilma assentiu com uma aparente satisfação.
Para o líder do governo na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana (RS), "há um exagero" na fama de durona, especialmente porque se compara o estilo de Dilma com o de Lula. Outro petista, que preferiu não ser identificado, disse que a presidente "nunca teve nenhuma atitude deselegante" com ele, sendo "sempre afável".
De qualquer modo, auxiliares dizem que as manifestações do ano passado ajudaram a mudar um pouco a postura da presidente, que se abriu mais aos políticos e aos movimentos sociais, além de retomar uma participação mais ativa na Internet.
"Essa será a nova Dilma num segundo mandato, muito mais aberta", disse um desses auxiliares, confiante na reeleição.

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