Caos no Sistema Prisional
Gaúcho.
A foto acima é de uma cela do Presídio Central, cujo caos foi
denunciado à OEA e dela recebeu recriminações severas. O caso não é
muito diferente nos semiabertos.
Fica cada vez mais comprovado o caos no sistema prisional gaúcho,
tudo por conta de governos que tratam a questão da segurança pública
com descaso e incúria. O caso agravou-se formidavelmente no atual
governo petista de Tarso Genro.
FRAGILIDADE DOS CONTROLES em estabelecimentos por onde os presos
ingressam no sistema carcerário faz com que detentos consigam fugir
facilmente. Justiça tem mutirão para rever processos e amenizar
problemas.
A porta de entrada do regime semiaberto em Porto Alegre é um retrato
da falência das estruturas oferecidas pelo governo para supostamente
tentar recuperar criminosos no Estado. No Instituto Penal Irmão
Miguel Dario, construção incrustada em um morro da zona leste da
Capital, as fugas de detentos são diárias e há até uma janela que dá
passagem à liberdade.
Nessas condições, a Justiça realiza periodicamente uma força-tarefa
para acelerar os processos dos presos e inspecionar a estrutura das
prisões, chamada de mutirão carcerário. Acompanhado de assessores, o
juiz Paulo Augusto Oliveira Irion, responsável por fiscalizar as
seis casas do semiaberto na 1ª Vara de Execuções Criminais de Porto
Alegre, vai até as prisões-albergue e, munido do andamento
processual de cada preso, atende-os pessoalmente. É uma forma até de
evitar que infratores considerados menos perigosos agucem a
crueldade com a experiência de quem já acumula mais de 30 anos de
condenação e está confinado no mesmo espaço.
– Ressocializar nessas condições é praticamente impossível. Temos de
tentar separar o joio do trigo. Fizemos uma nova triagem para a
colocação das tornozeleiras eletrônicas. Para presos que não têm
tanta periculosidade, o monitoramento eletrônico é melhor, tira do
convívio de presos com penas altas, evitando a “contaminação” –
defende Irion.
Incendiada pela segunda vez em 2010, uma área do instituto penal que
era destinada ao alojamento até hoje não foi reformada. Empoleirados
em salas, os detentos criam divisões entre as camas com cobertores
e, em uma das alas, 60 candidatos ao banho disputam um chuveiro,
localizado ao lado de um vaso onde dejetos transbordam há meses. É
no corredor em direção ao chuveiro que uma peça desocupada tem a
saída para a liberdade. Não existe mais janela, mas sim um buraco
quadrado para o lado externo do Miguel Dario. O problema não seria
tão grave se as câmeras de monitoramento do pátio, penduradas em
árvores frondosas, não estivessem estragadas. Com quatro agentes
trabalhando no local à noite, fugir se torna apenas uma opção
pessoal do preso.
O regime semiaberto permite que o detento saia para trabalhar
durante o dia, mas nem todos aproveitam a oportunidade. No Miguel
Dario, dos 163 presos confinados, cerca de 70 trabalham. Quem fica
poderia aproveitar a oportunidade oferecida pelo governo estadual. A
poucos passos do alojamento, em meio a uma mata, salas de aula de
uma escola erguida para ocupar com conhecimento o tempo ocioso dos
presos estão vazias.
– Temos 150 matriculados e frequência média de 15 a 20 alunos. São
principalmente os que trabalham de dia e vêm estudar à noite – diz o
vice-diretor da escola, Ricardo Machado da Silveira.
CONTRAPONTO
O que diz a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe)
O processo para a reforma do prédio incendiado está em andamento.
Houve recentemente uma reforma dos banheiros, mas foram depredados
pelos próprios presos. Serão reformados novamente. As câmeras foram
doadas e, como o conserto é caro, não há previsão para realizá-lo. O
efetivo de agentes será reforçado com diaristas e horas extras.
O que é o mutirão carcerário?
Criado por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), o mutirão carcerário garante aos presos definitivos e
provisórios a revisão dos processos e resulta, em alguns casos, na
concessão de direitos, como mudança de regime. Na força-tarefa,
também é realizada a inspeção nos estabelecimentos prisionais, com
objetivo de detectar os problemas e encaminhar os pedidos de solução
ao órgão competente.
RAIO X DO PROBLEMA
Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o analista
criminal Guaracy Mingardi aposta em um reforço no controle dos
presos para que o regime semiaberto funcione no país.
Qual a sua opinião sobre o cumprimento das penas no regime
semiaberto?
Temos uma deficiência muito grande. Falta local para o cumprimento
das penas. Então, são raros os juízes que mandam (para o
semiaberto). Outro ponto é que não há controle. O preso está no
semiaberto, tem de trabalhar em outro lugar e, alguns casos o
trabalho não existe. Na verdade, está solto na rua. Se quiser
roubar, rouba. Isso porque não temos uma figura que é muito
importante, de um inspetor de condicional, como há nos Estados
Unidos. Se não tiver esse agente, nunca vai se conseguir cumprir a
lei.
O que seria mais adequado?
Se o juiz faz isso (deixar o preso no regime fechado), era melhor
que nem tivesse o semiaberto. Sou favorável que exista, mas quando a
pessoa tem um direito que não é cumprido pelo Estado é como se o
Estado jogasse sujo. Cria mais ressentimento do que se simplesmente
não tivesse a prerrogativa e fosse direto para o fechado.
A ressocialização é possível?
A grande vantagem desse regime (semiaberto) é colocar os jovens que
não são exatamente criminosos profissionais, que cometeram o
primeiro ou segundo crime, e ainda podem ser recuperados. Se mandar
para um presídio comum, vão se misturar com a massa e, aí sim, virar
criminosos profissionais. O semiaberto seria uma grande vantagem
para os jovens que não são criminosos profissionais. Daí se poderia
fazer o que a lei manda, separar por gravidade do crime. Na prática,
ficam todos no mesmo caldeirão.
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