Tribunal manda abrir ação contra filha de Dirceu por lavagem de dinheiro — decisão da corte federal alcança ainda a arquiteta que realizou
reforma na casa do ex-ministro da Casa Civil, em Vinhedo, interior de São Paulo — acusação havia sido rejeitada pelo juiz Sérgio Moro
Camila Ramos de Oliveira e Silva Filha de José Dirceu |
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) decidiu na quarta-feira,
01.jun.2016, aceitar as denúncias contra Camila Ramos de Oliveira e
Silva, filha do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula), e
Daniella Leopoldo e Silva Facchini, arquiteta responsável pela reforma
da casa dele. O Ministério Público Federal (MPF) recorreu ao tribunal
após as denúncias serem rejeitadas pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba.
Daniella é acusada de lavagem de dinheiro por dissimular e ocultar a
origem, movimentação, disposição e propriedade de quase R$ 2 milhões
provenientes da Engevix e outras empresas envolvidas na Operação Lava
Jato. Os valores teriam sido repassados a ela como contraprestação por
seus serviços na reforma da casa de José Dirceu em Vinhedo (SP).
Camila também é acusada de lavagem de dinheiro por ter tido um imóvel
comprado em seu nome, no valor de R$ 750 mil, com dinheiro resultante
das propinas pagas pelas empresas formadoras do cartel de empresas que
prestavam serviços à Petrobras.
Em setembro do ano passado, o juiz federal Sergio Moro havia excluído a
filha de Dirceu e a arquiteta do processo por considerar que as
denunciadas seriam estranhas ao esquema criminoso e não havia evidências
de que elas haviam participado do esquema de propinas da Petrobras nem
havia dolo por parte delas no uso dos recursos.
O Ministério Público Federal recorreu da decisão do juiz [argumentou que
o dolo deverá ser comprovado no decorrer da instrução processual, sendo
a conduta de ambas suficiente para caracterizar o delito] e conseguiu
mudar o entendimento sobre a ação penal envolvendo a filha de Dirceu e a
arquiteta.
Os procuradores usaram a teoria da cegueira deliberada para incluí-las
no processo. Segundo essa teoria, beneficiados por recursos ilícitos
podem agir como a avestruz, que esconde a cabeça em momentos de perigo, e
fingir que não sabiam da origem do recurso.
As denúncias foram aceitas por maioria pela a 8ª Turma. Conforme o
relator, desembargador federal João Pedro Gebran Neto, responsável pelos
processos da Operação Lava Jato no tribunal, “ainda que Camila e
Daniella não tenham qualquer envolvimento com os delitos antecedentes e
com o esquema criminoso envolvendo a Petrobras, tal constatação não é
óbice para os envolvimentos na lavagem dos recursos ilícitos”.
Segundo o desembargador, para a condenação das recorridas pelo delito de
lavagem deverá ser averiguado se tinham ciência de que o capital que
ocultaram provinha de tal esquema ou que tinha origem ilícita.
Reforma da casa de José Dirceu em Vinhedo (SP) |
O PAI — José Dirceu recebeu até agora a maior pena da Lava Jato, de 23
anos, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização
criminosa. Ela é acusado de ter recebido R$ 15 milhões de empreiteiras
investigadas na Lava Jato, mesmo quando já estava sendo julgado no caso
do mensalão, em 2012, conforme ressaltou o juiz Sergio Moro na decisão.
OUTRO LADO — O advogado de Dirceu e Camila, Roberto Podval, diz que
entrará com recursos no TRF para mudar a decisão que tornou Camila ré
sob acusação de lavagem de dinheiro.
Podval criticou duramente a aplicação da teoria da cegueira deliberada
no caso de uma filha. "Acho uma falta de sensibilidade incluir uma filha
num processo como esse usando a teoria da cegueira deliberada. Como é
que uma filha vai imaginar que o pai é desonesto? O pai é o herói da
filha, sempre. Para o filho, o pai está sempre certo".
Podval afirmou que ingressará com um tipo de recurso chamado de embargos infringentes para tentar mudar a decisão do TRF.
A reportagem não localizou até o momento a defesa da arquiteta Daniela Facchini.
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