sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cameron sofre pressão para renunciar após fracasso em referendo — conservadores dão apoio, mas premier perde respaldo de nacionalistas



Cameron e a mulher, Samantha, deixando o local de votação


A derrota no referendo sobre a permanência na União Europeia (UE) coloca o premier britânico, David Cameron, em uma situação difícil. Ainda que correligionários no Partido Conservador — entre eles o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, um dos principais nomes na campanha pela saída — tenham assinado uma carta defendendo sua permanência à frente do cargo independentemente do resultado, sua defesa da participação britânica na UE, que ganhou intensidade na reta final da campanha, levou diversos nomes a pedirem que o primeiro-ministro renuncie.
O líder do Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido), Nigel Farage, afirmou que o premier britânico — que defende a permanência do país no bloco — deveria renunciar “imediatamente” com a vitória do Brexit.
— Uma nova aurora de um Reino Unido independente está surgindo. Será uma vitória para as pessoas reais, pessoas decentes — disse o líder do Ukip a apoiadores.
Durante a apuração, que foi mostrando cada vez mais vantagem pela saída, parlamentares trabalhistas deixaram a concentração. Segundo fontes internas, o líder do partido, Jeremy Corbyn, deve pedir a saída do premier.
Apesar de Cameron já ter reiterado que continuará em seu cargo, Kenneth Clarke, do Partido Conservador, afirmou que o premier “não duraria nem 30 segundos". O primeiro-ministro colocou sua credibilidade em jogo ao convocar o referendo, que fragmentou o partido. Como consequência, os conservadores devem designar Boris Johnson, líder pro-Brexit, para o posto.
Já o ex-secretário de Defesa, Liam Fox, defendeu que Cameron permaneça no cargo.
— Ele tem o dever de permanecer como primeiro-ministro e guiar o Reino Unido pelo período de turbulência que a saída da UE trará — afirmou Fox. — Ele é um primeiro-ministro que entende o senso do dever necessário pera levar esse processo a uma conclusão. É o que eu espero que ele faça.
Pouco após os primeiros resultados, 84 parlamentares conservadores mandaram uma carta ao primeiro-ministro, David Cameron, agradecendo-o por convocar a votação e dizendo que "ele tem o dever de continuar liderando a nação, independente do resultado". Entre os signatários, estão os correligionários Boris Johnson e Michael Gove, os dois maiores partidários pela saída. De acordo com a Sky News com o apoio os riscos apontados por analistas de que Cameron renunciaria ao cargo caso o Brexit passe poderiam se dissipar.

O REFERENDO — Após 43 anos de uma parceria que definiu os rumos da Europa no pós-guerra, o Reino Unido decidiu retirar-se da União Europeia (UE), abrindo um período de incerteza para o continente e para a sua própria unidade. Por 52% dos votos a 48%, a maioria dos britânicos optou pelo chamado Brexit, a saída do bloco. O medo de uma recessão e de cortes nos gastos públicos anunciados pelo primeiro-ministro David Cameron não foram suficientes para deter a vontade do eleitorado britânico de retirar o país da UE. Numa votação apertada, na qual as duas opções do referendo se alternaram diversas vezes na liderança, o Brexit saiu vitorioso ao abrir uma vantagem de mais de meio milhão de votos com cerca de metade dos distritos eleitorais apurados que não foi revertida na fase final da contagem. Com apenas 16 distritos eleitorais de 382 a serem apurados, a saída liderava com 52% dos votos contra 48% a favor da permanência. O comparecimento às urnas foi de 72%.



Nicola Sturgeon depositando seu voto


REAÇÃO — Um dos principais pontos de tensão nos próximos meses deve vir da Escócia. Os distritos eleitorais da região, que realizou um referendo sobre a independência em 2014, votaram praticamente de maneira unânime em favor da permanência britânica, e uma saída da UE — que contraria os interesses escoceses — deve motivar novas ações dos nacionalistas em busca de uma independência do Reino Unido.
Minutos depois que as primeiras projeções começaram a dar como certa a vitória pela saída do Reino Unido da União Europeia, a chefe do governo escocês, Nicola Sturgeon, afirmou que a saída do bloco pode provocar a convocação de outro referendo, dessa vez para decidir a permanência da Escócia no Reino Unido.
"O voto aqui torna claro que o povo da Escócia vê seu futuro dentro da União Europeia. O país falou decisivamente", disse Nicola em nota.

Na Irlanda do Norte, o partido nacionalista Sinn Fein também pediu uma consulta sobre união com a República da Irlanda:
"O governo britânico abriu mão de qualquer competência para representar os interesses econômicos ou políticos do povo da Irlanda do Norte", afirmou a legenda em comunicado após a divulgação do resultado.

A Irlanda do Norte também votou pela permanência na UE, enquanto Inglaterra e País de Gales se alinhavam pela saída do bloco, numa clara divisão do reino.

REAÇÃO FORA DO PAÍS — Das quatro nações que compõem o Reino Unido, o sentimento pró-europeu é maior em Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales do que na Inglaterra — que representa 85% do eleitorado e onde a desconfiança em relação à UE tem crescido nos últimos anos. Entre os norte-irlandeses o tema divide políticos e a população — os católicos republicanos são mais pró-Europa do que os nacionalistas protestantes. Mesmo assim, há grande apoio à permanência no bloco, já que a região tem recebido, nas últimas décadas, bilhões de euros para consolidar o processo de paz e desenvolver a economia.

Na Holanda, o chefe do Partido da Liberdade e membro do Parlamento fez coro à Escócia: "Agora é a nossa vez! Hora de um referendo holandês!

Na Alemanha, principal país da União Europeia, o vice-chanceler Sigmar Gabriel postou no Twitter que a previsão de o Reino deixar a UE é um mau dia para a Europa “Droga! Um mau dia para a Europa”, escreveu ele, que também é ministro da Economia.




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