sexta-feira, 24 de junho de 2016

O ex-ministro Paulo Bernardo tinha medo de ser preso
havia mais de um ano — segundo Procuradoria e Polícia Federal
o ex-ministro, preso na Operação Custo Brasil, era beneficiário de um terço dos valores desviados — valor da corrupção
chegou a R$ 100 milhões



O ex-ministro Paulo Bernardo sendo preso na Operação Custo Brasil


O ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo tinha medo de ser preso desde o dia 10 de abril de 2015. Naquela data, há pouco mais de um ano, o ex-deputado federal André Vargas era levado à prisão durante a 11ª fase da Operação Lava Jato.
Vargas era conhecido por aliados como o operador de Paulo Bernardo desde que o ex-ministro era deputado federal pelo Paraná.
Quando o ex-secretário de comunicação do PT foi preso, no ano passado, Bernardo deixou transparecer sua preocupação a amigos. Achava que seria o próximo.
Vargas foi investigado por ter usado um avião alugado pelo doleiro Alberto Youssef, operador de propina na Petrobras. Teve o mandato cassado em 2014 e, depois, desfiliou-se do PT por risco de ser expulso do partido.
A maior parte dos petistas tinha conhecimento da ligação entre Vargas e Bernardo e muitos integrantes do governo Dilma e da cúpula do PT sabiam do risco que o ex-ministro corria diante das investigações.
Em agosto do ano passado, Dilma precisou suspender a nomeação de seu ex-ministro das Comunicações para a diretoria-geral brasileira da hidrelétrica Itaipu.
A então presidente da República estava convencida a nomear o aliado mas foi alertada pelo então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a não fazê-lo. Ele disse que Paulo Bernardo poderia ser alvo da Polícia Federal a qualquer momento, o que irritou a mulher do ex-ministro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
A prisão de Bernardo, na quinta-feira (23.jun.2016), portanto, não surpreendeu os aliados de Dilma.

HISTÓRICO — O ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações) nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff recebeu pelo menos R$ 7 milhões de propinas do esquema de desvios alvo da Operação Custo Brasil, deflagrada na quinta-feira, 23.jun.2016. De 2010 a 2015 o esquema teria gerado R$ 100 milhões em propinas, referentes a contrato da empresa Consist Software, por serviços indiretos para o Ministério de Planejamento.
Bernardo foi preso na manhã de quinta-feira (23.jun.2016), alvo central da Custo Brasil — decorrência das descobertas da Lava Jato, em Curitiba. O operador das propinas arrecadadas com a Consist, o ex-vereador do PT Alexandre Romano, o Chambinho, confessou em delação premiada que havia propinas para o PT, para Bernardo, para o ex-ministro Carlos Gabas (Previdência e Aviação Civil), entre outros.
O delegado regional de Combate e Investigação contra o Crime Organizado da Polícia Federal, em São Paulo, Rodrigo de Campos Costa explicou que Bernardo tinha direito a 9,6% do valor de 70% do contrato da Consist — que era destinado à corrupção. Pelo acerto, alvo da Custo Brasil, a empresa ficava com apenas 30% dos recebimentos.
“Dos 70% repassados, havia diversos parceiros que iam alterando ao longo do tempo. Desses 70%, no início, por exemplo, 9,6% ia para o escritório vinculado ao sr. Paulo Bernardo. O Alexandre Romano, que era um dos colaboradores, recebia por volta de 24%”, afirmou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça. “80% da parte destinada ao Alexandre Romano (ficava com o PT).”
Segundo o procurador da República Andrey Borges, depois que Bernardo saiu do Ministério do Planejamento e assumiu o Ministério das Comunicações, seu percentual no bolo da propina caiu para 4,5%, até chegar a 2%.
O dinheiro foi repassado para o escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que atuava para o PT do Paraná e para as campanhas da senadora Gleisi Hoffamnn (PT-PR), mulher do ex-ministro. Os dois são alvos de uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), que julga os casos de alvos da Lava Jato com foro privilegiado.

DEFESA — Em nota a defesa do ex-ministro considerou a prisão ilegal. Os advogados Verônica Sterman e Rodrigo Mudrovitsch, que defendem o ex-ministro Paulo Bernardo, afirmaram que “a defesa não teve acesso à decisão ainda, mas adianta que a prisão é ilegal, pois não preenche os requisitos autorizadores e assim que conhecermos os fundamentos do decreto prisional tomaremos as medidas cabíveis”.

A ÍNTEGRA DA NOTA DA DEFESA:
"O Ministério do Planejamento se limitou a fazer um acordo de cooperação técnica com associações de entidades bancárias, notadamente a ABBC e SINAPP, não havendo qualquer tipo de contrato público, tampouco dispêndios por parte do órgão público federal. Ainda assim, dentro do Ministério do Planejamento, a responsabilidade pelo acordo de cooperação técnica era da Secretaria de Recursos Humanos e, por não envolver gastos, a questão sequer passou pelo aval do Ministro.
Não bastasse isso, o inquérito instaurado para apurar a questão há quase um ano não contou com qualquer diligência, mesmo tendo o Ministro se colocado à disposição por diversas vezes tanto em juízo como no Ministério Público e Polícia Federal.
A defesa não teve acesso à decisão ainda, mas adianta que a prisão é ilegal, pois não preenche os requisitos autorizadores e assim que conhecermos os fundamentos do decreto prisional tomaremos as medidas cabíveis

Verônica Sterman e Rodrigo Mudrovitsch"




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