Supercomputador pode ser desligado por falta de recursos para pagar energia — equipamento de R$ 60 milhões capaz de realizar até 1.015 operações matemáticas por segundo nunca funcionou em plena capacidade devido a restrições orçamentárias — este ano, o laboratório recebeu verba 15% menor do que em 2015
Alto custo de energia põe em risco funcionamento do supercomputador brasileiro |
O supercomputador Santos Dumont, o maior da América Latina, corre o
risco de ser desligado até o fim deste mês caso o Laboratório Nacional
de Computação Científica (LNCC) não receba recursos suficientes para
custeá-lo. O equipamento é usado para processar dados, cálculos e
simulações de pesquisas científicas e tecnológicas. Adquirido por R$ 60
milhões da empresa francesa Atos Bull e capaz de realizar até 10^15 (10
elevado a 15ª potência) operações matemáticas por segundo, o computador
chegou ao laboratório no ano passado, entrou em operação em janeiro
deste ano em Petrópolis, no Rio de Janeiro, mas, diante da falta de
recursos para pagar o consumo de energia elétrica está operando com
baixíssima capacidade e nunca chegou a funcionar em plena capacidade por
restrições orçamentárias.
De acordo com o diretor do LNCC, Augusto Gadelha, o laboratório não tem
recursos para arcar com o custo de energia elétrica. Atualmente, o
consumo mensal do LNCC, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTI), está em torno de R$ 150 mil. Mas, para o
equipamento funcionar a plena capacidade, seriam necessários R$ 500 mil
por mês.
Gadelha explica que, desde o início do ano, apenas seis projetos de
pesquisa utilizaram a plataforma. No entanto, o supercomputador poderia
armazenar mais 50 pesquisas científicas, caso tivesse operando em sua
plena capacidade. A máquina tem ainda a capacidade de fazer mais de 1
quatrilhão de operações matemáticas por segundo e pode auxiliar no
avanço dos estudos nas áreas de bioinformática, meteorologia e de
prospecção e exploração de petróleo.
“Um computador com essa capacidade de processamento permite você tratar
de problemas de vários setores, como meio ambiente, petróleo, saúde,
meteorologia, fármacos. É possível realizar projetos de pesquisa e
desenvolvimento que, sem esse computador, não se conseguiria realizar. É
uma ferramenta necessária hoje para o desenvolvimento científico em
geral. Hoje há uma corrida dos grandes países para se ter esses
computadores”, disse Gadelha.
"Ele foi adquirido para auxiliar toda a comunidade científica
brasileira. A intenção era de que ele estivesse aberto para todos
projetos de pesquisa e desenvolvimento", contou o diretor do LNCC,
Augusto Gadelha.
Diante da falta de recursos, no entanto, os planos tiveram de ser
adiados. Para que ele não ficasse completamente ocioso, seis projetos
foram iniciados e estão em andamento. "Mesmo assim, pesquisadores são
orientados a usá-lo somente nos horários do dia em que a tarifa de
energia elétrica é mais barata", completou.
A estimativa do diretor é de que o supercomputador necessite pelo menos
de 60% do orçamento destinado para todo laboratório. Para este ano, o
centro, que conta com 60 pesquisadores com doutorado, recebeu uma verba
de R$ 8,2 milhões, 15% a menos do que o que havia sido reservado em
2015.
Gadelha calculou, no entanto, que com o supercomputador seriam necessários
pelo menos mais R$ 5 milhões. "É essa a verba necessária para
manutenção, pessoal e, sobretudo, gastos de energia elétrica."
Gadelha afirmou que, mesmo com Santos Dumont trabalhando praticamente
com um décimo de sua capacidade, o aumento das despesas já trouxe
reflexos. "Demitimos funcionários para ajustar as contas. No pior dos
cenários, teremos de fazer novos ajustes e, por fim, desligar o
aparelho." Uma alternativa que, de acordo com diretor, poderia danificar
a máquina.
"Como qualquer aparelho, a recomendação é de que ele esteja sempre em
funcionamento, com sistema de óleo e refrigeração adequados. Caso
contrário, o desgaste é sempre maior."
Desde que Santos Dumont chegou ao LNCC, centro ligado ao Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cerca de 70 projetos vindos de
várias partes do País foram encaminhados para instituição, interessados
em usar o computador. Deste total, 35 já foram aprovados.
"Estamos aguardando a liberação de recursos para que projetos possam ser colocados em prática", informou Gadelha.
O diretor afirmou estar em contato com o MCTI. "Há uma disposição do
ministério para que o problema se resolva. Esperamos apenas que a
solução venha rapidamente, a tempo de que o Santos Dumont não seja
desligado."
O Santos Dumont, montado pela empresa francesa Atos Bull, é considerado o
supercomputador mais rápido da América Latina, segundo Gadelha. Ele
integra o Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho
(Sinapad), que é uma rede de centros de computação de alto desempenho
distribuídos pelo Brasil, voltados para a pesquisa científica e
tecnológica.
Governo federal — O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTI) esclarece que destinou um orçamento para este ano de
R$ 8,2 milhões ao Laboratório Nacional de Computação Científica, cujo
valor cobre os custos do instituto pelos próximos meses. A pasta informa
que negocia com a área econômica uma suplementação orçamentária, já
tendo sido solicitado o valor adicional de R$ 4,65 milhões, que está em
análise no Ministério do Planejamento.
De acordo com o ministério, o laboratório está recebendo regularmente
sua parte orçamentária. A pasta diz ainda que espera que o equipamento
retorne ao pleno funcionamento para não prejudicar as pesquisas e
projetos desenvolvidos.
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