quinta-feira, 23 de junho de 2016

Supercomputador pode ser desligado por falta de recursos para pagar energia — equipamento de R$ 60 milhões capaz de realizar até 1.015 operações matemáticas por segundo nunca funcionou em plena capacidade devido a restrições orçamentárias — este ano, o laboratório recebeu verba 15% menor do que em 2015



Alto custo de energia põe em risco funcionamento do supercomputador brasileiro


O supercomputador Santos Dumont, o maior da América Latina, corre o risco de ser desligado até o fim deste mês caso o Laboratório Nacional de Computação Científica  (LNCC) não receba recursos suficientes para custeá-lo. O equipamento é usado para processar dados, cálculos e simulações de pesquisas científicas e tecnológicas. Adquirido por R$ 60 milhões da empresa francesa Atos Bull e capaz de realizar até 10^15 (10 elevado a 15ª potência) operações matemáticas por segundo, o computador chegou ao laboratório no ano passado, entrou em operação em janeiro deste ano em Petrópolis, no Rio de Janeiro, mas, diante da falta de recursos para pagar o consumo de energia elétrica está operando com baixíssima capacidade e nunca chegou a funcionar em plena capacidade por restrições orçamentárias.
De acordo com o diretor do LNCC, Augusto Gadelha, o laboratório não tem recursos para arcar com o custo de energia elétrica. Atualmente, o consumo mensal do LNCC, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), está em torno de R$ 150 mil. Mas, para o equipamento funcionar a plena capacidade, seriam necessários R$ 500 mil por mês.
Gadelha explica que, desde o início do ano, apenas seis projetos de pesquisa utilizaram a plataforma. No entanto, o supercomputador poderia armazenar mais 50 pesquisas científicas, caso tivesse operando em sua plena capacidade. A máquina tem ainda a capacidade de fazer mais de 1 quatrilhão de operações matemáticas por segundo e pode auxiliar no avanço dos estudos nas áreas de bioinformática, meteorologia e de prospecção e exploração de petróleo.
“Um computador com essa capacidade de processamento permite você tratar de problemas de vários setores, como meio ambiente, petróleo, saúde, meteorologia, fármacos. É possível realizar projetos de pesquisa e desenvolvimento que, sem esse computador, não se conseguiria realizar. É uma ferramenta necessária hoje para o desenvolvimento científico em geral. Hoje há uma corrida dos grandes países para se ter esses computadores”, disse Gadelha.
"Ele foi adquirido para auxiliar toda a comunidade científica brasileira. A intenção era de que ele estivesse aberto para todos projetos de pesquisa e desenvolvimento", contou o diretor do  LNCC, Augusto Gadelha.
Diante da falta de recursos, no entanto, os planos tiveram de ser adiados. Para que ele não ficasse completamente ocioso, seis projetos foram iniciados e estão em andamento. "Mesmo assim, pesquisadores são orientados a usá-lo somente nos horários do dia em que a tarifa de energia elétrica é mais barata", completou.
A estimativa do diretor é de que o supercomputador necessite pelo menos de 60% do orçamento destinado para todo laboratório. Para este ano, o centro, que conta com 60 pesquisadores com doutorado, recebeu uma verba de R$ 8,2 milhões, 15% a menos do que o que havia sido reservado em 2015.
Gadelha calculou, no entanto, que com o supercomputador seriam necessários pelo menos mais R$ 5 milhões. "É essa a verba necessária para manutenção, pessoal e, sobretudo, gastos de energia elétrica."
Gadelha afirmou que, mesmo com Santos Dumont trabalhando praticamente com um décimo de sua capacidade, o aumento das despesas já trouxe reflexos. "Demitimos funcionários para ajustar as contas. No pior dos cenários, teremos de fazer novos ajustes e, por fim, desligar o aparelho." Uma alternativa que, de acordo com diretor, poderia danificar a máquina.
"Como qualquer aparelho, a recomendação é de que ele esteja sempre em funcionamento, com sistema de óleo e refrigeração adequados. Caso contrário, o desgaste é sempre maior."
Desde que Santos Dumont chegou ao LNCC, centro ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cerca de 70 projetos vindos de várias partes do País foram encaminhados para instituição, interessados em usar o computador. Deste total, 35 já foram aprovados.
"Estamos aguardando a liberação de recursos para que projetos possam ser colocados em prática", informou Gadelha.
O diretor afirmou estar em contato com o MCTI. "Há uma disposição do ministério para que o problema se resolva. Esperamos apenas que a solução venha rapidamente, a tempo de que o Santos Dumont não seja desligado."
O Santos Dumont, montado pela empresa francesa Atos Bull, é considerado o supercomputador mais rápido da América Latina, segundo Gadelha. Ele integra o Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad), que é uma rede de centros de computação de alto desempenho distribuídos pelo Brasil, voltados para a pesquisa científica e tecnológica.

Governo federal — O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) esclarece que destinou um orçamento para este ano de R$ 8,2 milhões ao Laboratório Nacional de Computação Científica, cujo valor cobre os custos do instituto pelos próximos meses. A pasta informa que negocia com a área econômica uma suplementação orçamentária, já tendo sido solicitado o valor adicional de R$ 4,65 milhões, que está em análise no Ministério do Planejamento.
De acordo com o ministério, o laboratório está recebendo regularmente sua parte orçamentária. A pasta diz ainda que espera que o equipamento retorne ao pleno funcionamento para não prejudicar as pesquisas e projetos desenvolvidos.




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