Pena da política tem de ser Lava Jato perpétua
Não se fala noutra coisa. A corrupção generalizou-se de tal forma no
Brasil que ficou impossível mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar
de corrupto. Pela primeira vez desde a chegada das caravelas, a
gatunagem é combatida em toda sua latitude. E a plateia, que morria de
passividade, passou a viver uma epidemia de cólera, desnorteando as
autoridades.
Uma característica curiosa da corrupção era observada nos partidos
políticos. O corrupto estava sempre nas outras legendas. Agora, ele está
em toda parte. Outro traço marcante era que, guiando-se por algum
autocritério, todos os políticos eram probos. Hoje, são honestos apenas
até a próxima delação. Respinga em todos — de vermelhos a bicudos. Não
se salvam nem os mortos.
Não há mais alternância no poder. O que existe é uma mera mudança de
cúmplices. Confirmou-se a velha suspeita de que o sistema político
brasileiro não é constituído por três poderes, mas quatro: o
Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Dinheiro, que paira sobre os
outros.
Todo aquele idealismo, aquele ímpeto de servir à sociedade, aquela ânsia
de entregar-se ao bem público, toda aquela conversa estava impulsionada
pela grana. Para entender o Brasil, era indispensável um certo
distanciamento. Que começava com a abertura de contas secretas (se
preferir, pode chamar de trusts) na Suíça.
Dois fenômenos empurram a política para os novos tempos: a disposição
dos países estrangeiros de colaborar no combate à roubalheira e a
percepção de que corrupção passou a dar cadeia no Brasil. Para reduzir
as penas, os corruptos levam os lábios ao trombone, oferendo
matéria-prima para o avanço das investigações. Hoje, quem ama o feio
leva muito susto.
Ouve-se ao fundo um zunzunzum a favor da fixação de um prazo para as
investigações. “Os principais agentes da Lava Jato terão a sensibilidade
para saber o momento de aprofundar ao extremo e caminhar para uma
definição final. Isso tem que ser sinalizado”, disse o ministro Eliseu
Padilha (Casa Civil) dias atrás. O país não pode ficar dez anos nessa
situação”, ecoou Michel Temer.
Já está entendido que desse mato não sai coelho. Sai apenas jacaré,
Renan, cobra, Sarney, hiena, Jucá, gambá, Cunha, porco-espinho, Zé
Dirceu, gorila, Vaccari e um etcétera pluripartidário. Pela primeira
vez, a oligarquia é investigada, encarcerada e presa. Verificadas as
circunstâncias, é possível ser otimista a, vá lá, médio prazo, e ver o
lado bom das coisas, mesmo que seja preciso procurar um pouco.
Num instante em que a força-tarefa de Curitiba começa a abrir filiais em
São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, fica claro que a saída para o
combate à roubalheira é a federalização do modelo Lava Jato de
investigação, uma engrenagem que tritura o crime com quatro pontas:
Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público e Judiciário.
Se as últimas investigações demonstram alguma coisa é que o sistema
político brasileiro apodreceu. A corrupção tornou-se um atributo
congênito do político, como as escamas do peixe. A cosa nostra só
voltará a ser coisa nossa quando os larápios se convencerem de que a
festa acabou.
Como disse Temer, “o país não pode ficar dez anos nessa situação”.
Contra um assalto intermitente, exige-se uma vigilância permanente. A
política brasileira talvez volte ao normal se for condenada à Lava Jato
perpétua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário