Em Plutão, um planetinha anão nos cafundós do sistema solar, tem água — deve ter um oceano sob a crosta de gelo
Plutão deve ter um oceano sob a crosta de gelo |
O nível de atividade geológica na superfície de Plutão indica que ele
deve ter — ainda hoje — um oceano de água sob a crosta congelada. É o
que sugere um novo estudo recém-publicado por cientistas americanos, com
base nas imagens da sonda New Horizons.
O trabalho tem como primeiro autor Noah Hammond, orientado por Amy Barr,
ambos da Universidade Brown, nos Estados Unidos. Eles não fazem parte
da equipe da New Horizons, que fez o histórico sobrevoo de Plutão em
julho do ano passado, mas a pesquisa foi financiada pela Nasa e aceita
para publicação no “Geophysical Research Letters”.
“No nosso trabalho, procuramos por traços tectônicos na superfície de
Plutão para entender seu anterior e executamos modelos de evolução
térmica para nos ajudar a entender como o interior de Plutão pode ter
evoluído com o tempo”, disse Hammond, em nota.
A ideia é que Plutão tenha nascido muito mais quente, 4,6 bilhões de
anos atrás, pela energia das colisões de planetesimais que o formaram, e
a partir dali tenha se resfriado paulatinamente.
Nesse momento, quando seus componentes tivessem se diferenciado (com a
criação de camadas a partir do afundamento do material rochoso, mais
denso), um oceano de água líquida teria se formado sob a crosta gelada.
Desde então, o interior de Plutão estaria em processo de resfriamento —
como, aliás, devem estar todos os núcleos planetários. Nisso, o oceano
deveria gradualmente ir se congelando.
Contudo, se o congelamento tivesse sido completo, isso produziria uma
rachadura significativa na crosta — o que não foi observado nas imagens
da New Horizons. Em vez disso, os traços tectônicos observados são
compatíveis com o congelamento de parte do oceano interno. E como muitos
desses traços são geologicamente recentes, é bem provável que parte
dele ainda esteja em estado líquido até hoje.
Isso, por sua vez, não depende de nenhum efeito de maré e significa que
muitos outros planetas anões no cinturão de Kuiper podem ter
características similares, com oceanos sob a superfície.
“Muitas pessoas pensaram que Plutão estaria geologicamente ‘morto’, que
estaria coberto de crateras e teria uma superfície antiga”, disse Barr.
“Nosso trabalho mostra como até mesmo Plutão, na borda do Sistema Solar,
com muito pouca energia, pode ter tectonismo. Estamos gratos à equipe
da New Horizons por trabalhar tão duro para guiar a espaçonave a Plutão e
produzir as imagens bonitas que motivaram nosso estudo. Elas forneceram
outra peça do quebra-cabeça da planetologia comparativa dos mundos
gelados.”
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