domingo, 26 de junho de 2016

Documento da PF reforça suspeita de tráfico de influência
no governo Lula


Na análise de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai, Lava Jato encontrou indícios de que um grupo de "amigos" do ex-presidente atuavam como intermediários de negócios no governo federal.



Trecho do documento da PF com foto encontrada no e-mail de Bumlai


Um relatório da Polícia Federal anexado em inquérito da Operação Lava Jato, em Curitiba, reúne cópias de e-mails do pecuarista José Carlos Bumlai que reforçam as suspeitas dos investigadores de tráfico de influência no governo Luiz Inácio Lula da Silva. São conversas de Bumlai com um lobista, empresários e amigos do ex-presidente que tratam da agenda do ex-presidente, de ministros e de assunto no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Bumlai é investigado por tráfico de influência, suspeito de intermediar interesses privados no Planalto na gestão do petista. Preso em novembro de 2015 — alvo da fase Passe Livre — ele é réu em uma ação penal, em Curitiba, e alvo de outros inquéritos.
Nas mensagens trocadas no período em que Lula era presidente, os interlocutores tratam com Bumlai e outros amigos do ex-presidente de negócios em Gana, no Catar, de uma parceria com o BNDES, com pedido de agendamento de reunião com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, do Programa Fome Zero e de assuntos de interesse de um servidor da Infraero.
“Parte da influência exercida por Bumlai pode ser verificada em e-mail enviado por seu filho, Fernando, no qual ele pergunta se pode interceder por Roberto da Infraero de Campo Grande, que esta sendo transferido para Guarulhos”, registra o Relatório de Informação 64/2016, da PF de Curitiba, anexado em um desses inquéritos. Ele trata do conteúdo das mensagens de duas contas de e-mail do pecuarista.

Bons amigos — Na última semana, voltaram para a equipe da Lava Jato, em Curitiba, os primeiros inquéritos que têm Lula como alvo remetidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A força-tarefa tem elementos para apontar que um grupo de amigos de Lula serviu para tentar apagar suas digitais do esquema de corrupção na Petrobrás — espelhado nas demais estatais do governo.
Além de abrirem portas para empresários na gestão petista, alguns deles teriam servido de “laranjas” na ocultação de bens e propriedades, caso da família do ex-prefeito petista de Campinas (SP) Jacó Bittar.
Amigo de Lula desde a década de 1970 e um dos fundadores do PT, ele informou à Justiça ser o dono do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que teria sido comprado para o convívio entre as famílias. Para a Lava Jato, a propriedade pertence ao ex-presidente e foi reformada por empreiteiras do cartel. Oficialmente, no imóvel está registrado em nome de um filho de Bittar, Fernando, e seu sócio Jonas Suassuna — ambos sócios dos filhos de Lula. Essa deve ser uma das primeiras denúncias formais da Procuradoria, em Curitiba, contra o ex-presidente.
No documento da PF, anexado no último mês a um dos inquéritos da Lava Jato contra Bumlai, há uma sequência de mensagens em que Bumla e Khalil Bittar — outro filho do ex-prefeito de Campinas, sócio de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha na PlayTV (antiga Gamecop) — são acionados para agendamento de reunião com o ex-ministro Guido Mantega, em 2009.
“Ola Bittar e Zé, Por favor vejam esta carta em anexo que foi enviada ao BNDES, o nosso cartão ambiental hoje esta hoje em parceria com o Fundo da Amazonia, Salve !” escreve Márcia Martinn, no dia 4 de maio, em nome de uma projeto do Instituto Eco Goal. “Temos que agendar com o Ministro Guido Mantega e Antoninho Trevisan, conforme combinamos, OK.”





A interlocutora copia carta enviada ao BNDES por um representante do Instituto Eco Goal para contrato de desenvolvimento de um “cartão ambiental em parceria com o Fundo da Amazonia”. O negócio seria vinculado à Copa de 2014. Ela não foi localizada. O banco foi o caixa que financiou, direta e indiretamente, contratos bilionários alvos da força-tarefa, como as construções das usinas Belo Monte e Angra 3, de plataformas para o pré-sal e de aeroportos, rodovias e ferrovias.
Além do ex-prefeito petista e seu filho, outros amigos de Lula estão na mira da Lava Jato. O advogado e compadre, Roberto Teixeira, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o consultor Toninho Trevisam integram a lista.

África — Bumlai é o principal alvo, no grupo dos “bons amigos” do ex-presidente suspeitos de “abrirem portas no governo”. Responsável pela execução das obras de reformas no Sítio Santa Bárbara, e pelo empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões tomado para o PT pago com contrato da Petrobrás, o pecuarista foi preso em novembro de 2015.
Aos 71 anos, e doente, desde março ele cumpre prisão domiciliar. Antes de virar o pecuarista amigo do presidente Lula, Bumlai trabalhou para a Constran, empreiteira do Rei da Soja, Olacyr de Moraes, comprada, em 2010, pela UTC — do delator Ricardo Pessoa.
Bumlai afirmou ter trabalhado até 2000 na empresa, em entrevista, às vésperas de sua prisão. Os e-mails reunidos pela PF, no entanto, mostram sua participação nas tratativas da Constran, em 2008, em negócio de produção de etanol em Gana, na África.






Em abril daquele ano, Lula levou uma comitiva de empresários, em busca de negócios, ao país africano. Num dos e-mails do relatório da PF consta a foto enviada a Bumlai pelo Planalto, em que ele aparece de mãos dadas com o ex-presidente e o então presidente de Gana, John Agyekum Kufour.
Juntos, estão dois representantes dos negócios do Rei da Soja: “Fabio Pavan (lobista da Constran em Brasília)” e “Wilson Quintella Filho (fundador da Estre)” — ambos investigados.
A Lava Jato encontrou a troca de e-mails posterior ao encontro. “Bumlai diz ter tratado do assunto com Pavan, e que eles devem ganhar tempo até eles estarem com os documentos liberados”, registra a PF, sobre e-mail trocado pelo pecuarista com Quintella Filho no dia 20 de maio. “Amanhã tenho um café da manha como meu amigo, e depois te falo. (…) Ontem falei com o filho sobre a relação de eqtos. Que nos foi dada e ele me avisou que estão procurando um dos eqtos.”
A PF registra que “Bumlai diz que ligara para Wilson, mas que era de um ‘fone mais seguro’, que levanta suspeita sobre a legalidade do assunto a ser tratado”. Os investimentos da Constran em Gana contavam com financiamento indireto do BNDES, e envolviam uma usina de etanol e a construção de usinas hidrelétricas.
Em nota, divulgada via assessoria de imprensa do Instituto Lula, o ex-presidente informou que “levou 84 missões empresariais brasileiras a países de todos os continentes promovendo contatos de alto nível de empresas brasileiras com autoridades estrangeiras e parceiros comerciais nos mais diversos setores. Eram viagens para promover o interesse do país no exterior. Dentro da lei e a favor do Brasil”, afirma o instituto.
No material reunido pela PF, há ainda outras mensagens encontradas nos e-mails de Bumlai. Uma deles envolve convite para incluir na agenda de encontros comerciais propiciados pela Presidência com representantes do Catar, em 2010. Nas mensagens estão um representante do Grupo Bertin — investigado pela Lava Jato — e o homem apontado como lobista da Constran.






O INSTITUTO LULA — A família Lula da Silva já teve seus sigilos fiscais, telefônicos, bancários quebrados sem ser encontrado nenhum crime. Seus membros foram vítimas de arbitrariedades já denunciadas em representação por abuso de autoridade ao Procurador Geral da República. O vazamento desse relatório é mais uma invasão de privacidade que não encontra nenhuma ilegalidade, mas que serve de matéria-prima para ilações de parte da imprensa brasileira para fins políticos. O que existe é a tentativa de reescrever a história do sucesso da gestão Lula, aprovada por 87% da população brasileira ao término do mandato. Essa parece ser a motivação de tal empreitada, em um conluio de alguns veículos de imprensa com agentes do Estado. O relatório analisa mais de 10 anos de e-mails do sr. José Carlos Bumlai sem encontrar qualquer ilegalidade praticada por qualquer membro da família Lula da Silva.
Lula levou 84 missões empresariais brasileiras a países de todos os continentes, mais de dez missões por ano, promovendo contatos de alto nível de empresas brasileiras com autoridades estrangeiras e parceiros comerciais nos mais diversos setores. Estas missões eram de conhecimento público, abertas para empresários de todos os setores e acompanhadas pela imprensa.  Eram viagens para promover o interesse do país no exterior. Dentro da lei e a favor do Brasil.
Em uma dessas viagens Lula esteve em Gana em 2009. Lula se encontrou com John Kufour em mais duas oportunidades. Quando ambos eram ex-presidentes, em 13 de outubro de 2011, em Iowa, Estados Unidos, e receberam o World Food Prize, pelos esforços dos dois no combate à fome — http://www.institutolula.org/lula-recebe-nos-eua-premio-por-trabalho-de-combate-a-fome —. E em 16 de março de 2013, quando os dois fizeram um debate em Accra junto com a FAO sobre combate à fome na África: — http://www.institutolula.org/e-plenamente-possivel-garantir-que-todo-ser-humano-possa-comer-tres-vezes-ao-dia-diz-lula-em-gana
A foto do encontro com o presidente de Gana presente no relatório foi enviada normalmente como são enviadas as fotos de todos que tiravam retratos com o ex-presidente Lula.
Sobre Gana, a revista Época já fez as mesmas ilações em abril de 2014, ou seja, há mais de dois anos. Já naquela época a informação na própria imprensa era de que sequer chegou a acontecer qualquer negócio em Gana — http://jornalggn.com.br/noticia/novas-denuncias-de-epoca-os-superlobistas-trapalhoes —.
Em janeiro de 2010, o Emir do Catar visitou o Brasil com uma comitiva de empresários e o Ministério das Relações Exteriores organizou um encontro dessa comitiva com empresários brasileiros. Foi a primeira visita oficial de um chefe de Estado do Catar ao Brasil. O evento foi público, organizado pelo Itamaraty e acompanhado pela imprensa.

JOSÉ CARLOS BUMLAI — Por meio de nota, a defesa do pecuarista José Carlos Bumlai ressaltou que nenhum dos fatos configura crime e que desde que seu cliente foi preso ele vem colaborando com a Justiça. Leia a nota:
“Os episódios mencionados na matéria foram pinçados de maneira descontextualizada do relatório de inteligência elaborado pela Polícia Federal. Ocorre que nenhum deles configura crime. Tanto isso é verdade que não há, desde a juntada aos autos desse material há mais de um mês, nenhum apontamento nesse sentido pela autoridade policial responsável pelas investigações. Desde que foi preso, José Carlos Bumlai vem colaborando com a Justiça e, em nenhum momento, quando solicitado, deixou de prestar os devidos esclarecimentos.

Escritório Malheiros Filho, Meggiolaro e Prado Advogados"

BNDES — O BNDES afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que “nunca financiou projetos da Constran no exterior”, nem “nunca teve contato com Bumlai, em reuniões ou qualquer negociação relacionadas a financiamentos às exportações” e que não tem “registros sobre negócio com Instituto Eco Goal”.
“As decisões do BNDES são técnicas.” Leia íntegra das respostas do BNDES:
“O BNDES nunca financiou projetos da Constran no exterior.
O BNDES nunca teve contato com José Carlos Bumlai, em reuniões ou qualquer negociação relacionadas a financiamentos às exportações.
O BNDES financiou exportações brasileiras de bens e serviços de engenharia e construção destinadas à construção de três hidrelétricas na África, todas em Angola. São elas: a etapa final de construção da UHE Capanda, a modernização UHE Cambambe e a construção da UHE Laúca. Todas as operações de financiamento contratadas estão no site do BNDES, disponíveis para consulta.
A empresa Estre Ambiental S.A. obteve financiamento junto ao BNDES, em operação contratada em fevereiro de 2011, visando à expansão de aterros sanitários e gestão de resíduos sólidos urbanos. Tal financiamento, no valor de R$ 33,9 milhões, já foi integralmente quitado pela empresa. A operação está disponível para consulta no site do BNDES.
As decisões do BNDES são técnicas, tomadas de acordo com suas políticas operacionais e de crédito, depois da avaliação de equipes de análise e de colegiados do Banco, num processo que passa pelo exame de pelo menos 50 pessoas.”

A CONSTRAN —
“A empresa não comenta investigações em andamento.
Assessoria de imprensa da Constran”

GUIDO MANTEGA — O ex-ministro Guido Mantega informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não conhece nem o representante nem o Instituto Eco Goal.

WILSON QUINTELLA — O empresário Wilson Quintella, do Grupo Estre, afirmou que esteve em Gana e que houve discussão para construção de uma usina de álcool naquele país. “Mas não existiu absolutamente nada”, afirmou o empresário. Os negócios não prosperaram.

Fábio Pavan, Khalil Bittar e seu pai, Jacó, e os representantes do Instituto Eco Goal não foram localizados pela reportagem.




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