Alvo da Operação Custo Brasil bancou R$ 32 mil em loft para Gleisi — investigação mostra que advogado Guilherme Gonçalves teria pago despesas eleitorais da senadora na campanha de 2010 e repassado propinas para ex-ministro Paulo Bernardo, marido da petista
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (à esq.), e a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann. |
A Operação Custo Brasil indica que o advogado Guilherme de Salles
Gonçalves, suposto repassador de propinas para o ex-ministro Paulo
Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma),
bancou R$ 32 mil referentes a custos de um loft alugado em Brasília para
uso da senadora Gleisi Hoffmann durante a campanha de 2010.
Gonçalves, preso pela Polícia Federal domingo, 26.jun.2016, no Aeroporto
Internacional de São Paulo em Guarulhos/Cumbica, quando chegou de uma
viagem a Portugal, teria usado seu escritório em Curitiba para bancar
despesas de caráter eleitoral da petista.
Gleisi é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal. Ela detém foro privilegiado perante a Corte.
Na segunda-feira, 27.jun.2016, Gonçalves foi ouvido em audiência de
custódia pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal,
que deflagrou a Custo Brasil.
Além do advogado tiveram a prisão decretada outros dez alvos da operação
que investiga o esquema Consist, entre eles Paulo Bernardo.
O esquema Consist é um suposto desvio de R$ 100 milhões a partir de
empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, na
gestão do marido de Gleisi.
Parte daquele montante, em torno de R$ 7 milhões, teria sido repassada
para o escritório de Gonçalves, ligado ao PT — do escritório teria saído
a propina para Paulo Bernardo, no mesmo valor.
Em agosto de 2015, a Operação Pixuleco II, desdobramento da Lava Jato,
fez buscas no escritório e apreendeu documentos que indicam o elo de
Gonçalves e campanhas eleitorais do partido e de Gleisi em 2010.
Nesta segunda-feira, 27.jun.2016, após o depoimento de Gonçalves, a
defesa do ex-ministro pediu reconsideração da ordem de prisão
preventiva. O juiz federal assinalou que a audiência ‘não tem por
objetivo produção de prova, conforme esclarecido a todos os
investigados’.
Mesmo assim, o próprio Guilherme Gonçalves ‘decidiu falar sobre uma
série de questões referentes ao caso concreto, negando basicamente as
suspeitas e indícios que recaem sobre ele’.
O juiz anotou que ainda não foram apresentadas provas documentais, como,
por exemplo, uma perícia que demonstraria que os valores da Consist
ficaram com o advogado.
“Contudo, o próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter
admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para
‘PB’, que seria Paulo Bernardo”, assinalou o juiz na ata da audiência de
custódia. “Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática
comum de seu escritório, que seria especializado em questões
eleitorais.”
O juiz federal destacou. “Estamos diante, portanto, de um fato que pode
ter múltiplas interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo Bernardo
retirado do Fundo Consist. A possível justificativa não retira do fato,
máxime quando aparentemente admitido pelo investigado Guilherme de
Salles Gonçalves, o seu caráter indiciário.Desta forma, os indícios, por
enquanto, subsistem.”
Na audiência, Gonçalves, espontaneamente, disse que teria concordado com
uma redução no valor de seus honorários.”Não caberia ao Juízo formular
perguntas nesta fase de audiência de custódia, porém não poderia
restringir a fala do investigado, máxime quando ele a considera útil à
sua defesa. Assim, posta essa premissa, a princípio, pareceu um pouco
estranho ao Juízo que o investigado estivesse prestando um serviço
absolutamente regular e, de inopino, concordasse com a redução dos
valores, máxime quando os indícios por ora demonstram que a redução dos
valores se deu justamente por ocasião da saída de Paulo Bernardo do
Ministério do Planejamento.”
“Nem se diga que a versão de Guilherme de Salles Gonçalves já confirma
plenamente a de Paulo Bernardo. Cumpre notar que esta pode até ser a
conclusão após a instrução. Porém, ao menos por enquanto entendo que os
indícios de materialidade e autoria delitiva subsistem nos autos, bem
como os requisitos cautelares da prisão preventiva dantes mencionados”,
ressaltou o juiz Paulo Bueno de Azevedo.
O magistrado anotou que Guilherme Gonçalves mencionou encontro com Paulo
Bernardo na Polícia Federal. “As negativas dos fatos por ambos é algo
natural, diante dos indícios que apontam que eles atuaram conjuntamente
no alegado esquema.”
“Após o depoimento de Guilherme de Salles Gonçalves, não vislumbro, ao
menos por ora, razões para rever a decisão de manutenção da prisão
preventiva de Paulo Bernardo. Portanto, mantenho a prisão preventiva de
Paulo Bernardo, sem prejuízo de análise de eventual petição escrita a
ser apresentada pela defesa técnica”, assinalou Azevedo.
O juiz pediu ao Ministério Público Federal manifestação sobre os pedidos
de revogação da prisão preventiva apresentados por escrito e sobre os
pedidos de desbloqueio de valores dos alvos da Operação Custo Brasil.
A DEFESA DE PAULO BERNARDO — A defesa do ex-ministro, em nota, disse que
‘o depoimento de Guilherme Gonçalves deixa claro que Paulo Bernardo não
se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da
Consist’.
A INTEGRA DA NOTA DOS ADVOGADOS DO EX-MINISTRO
“O depoimento prestado pelo sr. Guilherme Gonçalves na data de hoje deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist. Ficaram claras a origem dos pagamentos recebidos pelo Sr. Guilherme Gonçalves e o destino por ele dado a esses valores, sem qualquer envolvimento de Paulo Bernardo.
Com isso, ficou comprovado, de maneira ainda mais evidente, que não há razões que justifiquem a prisão preventiva de Paulo Bernardo, já que, além de ausentes os requisitos técnicos da medida extrema, também não há qualquer indício de autoria com relação a ele.
O magistrado, após ouvir os esclarecimentos do Sr. Guilherme Gonçalves, informou que analisará novamente se ainda vislumbra justificativa para manter a prisão de Paulo Bernardo.”
Rodrigo Mudrovitsch, Juliano Breda e Verônica Sterman.
A SENADORA — Na segunda-feira, 27.jun.2016, a senadora Gleisi Hoffmann
(PT/PR) se manifestou da tribuna do plenário do Senado e criticou a ação
da Polícia Federal, que na quinta-feira, 23.jun.2016, prendeu seu
marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.
A petista classificou a prisão de Bernardo como ‘injusta, ilegal, sem
fatos, sem provas e sem processo’, com o objetivo de humilhar sua
família.
“Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria aqui, nesta
tribuna, para defender meu marido de uma prisão”, declarou Gleisi, com a
voz embargada. “Mas aqui estou para apontar uma injustiça, sentindo na
própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas atingidas pelo
abuso do poder legal e policial. Aqui estou, serena e humilde, mas não
humilhada”, continuou. Gleisi disse que a prisão foi um ‘despropósito’,
pois Bernardo não apresentava risco de fuga e se colocou à disposição da
Justiça diversas vezes para esclarecer os fatos.
A senadora acusou a PF de cometer excessos com o intuito de
‘espetacularizar’ o processo. Na quinta-feira, 23.jun.2016, agentes da
PF fizeram buscas no apartamento funcional em que a petista mora com
Paulo Bernardo, em Brasília. O alvo foi exclusivamente o ex-ministro. A
PF não apreendeu documentos da senadora porque tal medida só poderia ser
executada por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Ainda na tribuna do Senado, na segunda-feira, 27.jun.2016, Gleisi disse
que a Justiça atua de maneira seletiva e promove ‘carnavais midiáticos
contra alguns políticos’. “A operação montada para a busca e apreensão
em nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros
foram usados, força policial armada, muitos carros. Para que isso,
chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro
público desnecessário, é isso. Foi uma clara tentativa de humilhar um
ex-ministro nos governos Lula e Dilma.”
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