Esquema de Paulo Bernardo 'ainda se mantém', aponta investigação — fundo Consist, do qual teriam saído R$ 7,1 milhões em propinas para ex-ministro do Planejamento, preserva 'uma gama de contratos', diz força-tarefa da Operação Custo Brasil
O ex-ministro Paulo Bernardo sendo preso na Operação Custo Brasil. |
A Polícia Federal e a Procuradoria da República descobriram que o fundo
Consist — cujo mentor e beneficiário maior teria sido o ex-ministro
Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma) —
continuou operando mesmo depois da deflagração da Operação Pixuleco II,
em agosto de 2015, quando foram presos um lobista e um advogado sob
suspeita de serem os operadores do esquema de desvios milionários sobre
empréstimos consignados.
Paulo Bernardo, preso na quinta-feira, 23.jun.2016, na Operação Custo
Brasil, deixou o governo Dilma em 2015. A investigação mostra que, mesmo
depois da saída dele do Ministério das Comunicações, o fundo Consist
ainda se mantém ativo.
“Há indícios de que havia uma permanência da organização criminosa e,
mesmo após cessarem os cargos públicos esse esquema ainda se mantém em
diversos locais, uma gama de contratos ainda está em vigor e diversas
pessoas têm uma força política grande”, declarou o procurador da
República Andrey Borges de Mendonça, da força-tarefa da Operação Custo
Brasil.
Deflagrada na quinta-feira, 23.jun.2016, a Custo Brasil culminou com a
prisão do ex-ministro e de mais dez investigados por suposto desvio de
R$ 100 milhões no âmbito dos consignados.
Na sexta-feira, 24.jun.2016, o procurador defendeu a manutenção da ordem
de prisão preventiva de Paulo Bernardo. “Além de casos de tentativa de
obstrução da investigação, o Ministério Público Federal entende que a
prisão, embora medida excepcional, se faz necessária para neutralizar
esse risco, seja de reiteração, seja de novas condutas fraudulentas. E
mais: esse valor (desviado) tem que ser recuperado. A finalidade do
processo penal também é recuperar o patrimônio obtido ilicitamente. Essa
é uma finalidade do processo penal e a aplicação da lei penal, nesse
sentido, é de recuperar parcela desses valores.”
Quando aponta ‘casos de tentativa de obstrução da investigação’, o
procurador da Custo Brasil se refere ao detalhe de que, após a Pixuleco
II que prendeu o ex-vereador do PT de Americana (SP) Alexandre Romano, o
Chambinho — suposto lobista da organização criminosa que desviou R$ 100
milhões dos consignados, dos quais R$ 7,1 milhões teriam sido
destinados ao ex-ministro —, houve registros de ‘atitudes fraudulentas
para induzir em erro a Justiça’.
Naquela mesma ocasião, agosto de 2015, foi alvo de buscas o escritório
do advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, apontado como repassador
de propinas a Paulo Bernardo e pagador de contas eleitorais da senadora
Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-ministro.
A petista é investigada no Supremo Tribunal Federal (STF), Corte máxima
que detém competência para processar políticos com foro privilegiado.
O advogado Guilherme Gonçalves também teve a prisão decretada na
Operação Custo Brasil, mas está foragido. Por meio de sua assessoria ele
disse que vai se entregar à Justiça Federal.
A Custo Brasil é um desdobramento da Pixuleco II, a fase da Operação
Lava Jato que pegou o fundo Consist, para o qual eram canalizados
recursos desviados da trama dos consignados.
A Consist é uma empresa de software que fez acordo com entidades
contratadas pelo Planejamento na gestão de Paulo Bernardo, em 2010.
Cabia à Consist gerenciar o dinheiro emprestado por milhões de
servidores públicos.
Segundo o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, que integra
a força-tarefa da Custo Brasil, foi verificada a simulação de contratos
de serviços após o desencadeamento da Pixuleco II. O plano seria tentar
conferir uma aparência de legalidade a transferências de valores sob
suspeita.
“Houve atos nesse sentido, de tentar simular uma prestação de serviços”, declarou Andrey Borges.
O procurador reafirmou os motivos do decreto de prisão preventiva do
ex-ministro do Planejamento. “O esquema permaneceu durante mais de cinco
anos. Não era um esquema isolado, um ato isolado. Era um esquema
permanente e estável em que havia recebimento de valores altos, valores
milionários. Em alguns casos, isso não se aplica a todos, se verificou
atitudes fraudulentas para induzir em erro o juízo, como por exemplo,
por meio da simulação de contratos de serviços após a deflagração da
Pixuleco II, em agosto de 2015. Houve atos nesse sentido de tentar
simular uma prestação de serviços”, declarou Andrey Borges na
sexta-feira, 24.jun.2016, após audiência de custódia de Paulo Bernardo e
de outros alvos da Custo Brasil.
Na audiência, Paulo Bernardo afirmou que ‘não recebeu nenhum centavo
desse esquema’. Ele contestou o recebimento de valores. Seus advogados
argumentaram que ‘não há’ motivos para que o ex-ministro permaneça
preso. Mas o Ministério Público Federal e o juiz Paulo Bueno de Azevedo,
da 6.ª Vara Federal Criminal em São Paulo consideram que os indícios
contra Paulo Bernardo são fortes e suficientes para que ele seja mantido
em custódia.
A Custo Brasil ganhou força a partir das delações premiadas de Chambinho
e do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS). Eles revelaram a extensão
do fundo Consist.
Mas não apenas as revelações de Chambinho e Delcídio deram base à
operação que pôs atrás das grades o ex-ministro e lança suspeitas sobre
outro ex-ministro petista, Carlos Gabas (Previdência), alvo de buscas. A
Justiça mandou conduzir coercitivamente Gabas, mas como ele preferiu se
manter em silêncio nem foi levado à PF para depor.
“Além das colaborações há diversos elementos de provas, especialmente
sobre o chamado fundo Consist, que era o fundo que o senhor Guilherme
Gonçalves (advogado de Curitiba) gerenciava”, destaca o procurador
Andrey.
“Esse fundo aponta para pagamentos de despesas pessoais de Paulo
Bernardo. Ressalto que estamos tratando aqui de investigação, não de
condenação.”
O procurador anotou que ‘as evidências apontam que havia pagamentos
pessoais, não só de apartamento, mas banais, celulares, contas básicas’.
“O Ministério Público Federal está convencido de que já indícios suficientes para a manutenção da prisão de Paulo Bernardo.”
Na quinta-feira, 23.jun.2016, quando Paulo Bernardo foi preso, seus advogados, em nota, alegaram que a medida ‘é ilegal’.
“A defesa não teve acesso à decisão ainda, mas adianta que a prisão é
ilegal, pois não preenche os requisitos autorizadores e assim que
conhecermos os fundamentos do decreto prisional tomaremos as medidas
cabíveis”, afirmaram os criminalistas Verônica Sterman e Rodrigo
Mudrovitsch.
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