Compra de remédios é nova fonte de fraudes na Petrobras
— programa era apenas para funcionários, mas reembolsou drogas até para cães
— programa era apenas para funcionários, mas reembolsou drogas até para cães
Um programa da Petrobras destinado a compra de remédios se transformou
em mais uma fonte de fraudes na estatal. O uso ilegal do benefício
causou prejuízos mensais de R$ 6 milhões, valor correspondente a um
terço dos gastos totais do programa. Levantamento interno apontou 13 mil
receitas com reembolso irregular, incluindo até o caso de compra de
remédios para o cão de um funcionário.
O programa, criado para beneficiar cerca de 300 mil funcionários e seus
dependentes, custava mensalmente R$ 30 milhões à estatal. Com a crise, a
Petrobras mudou o modelo do benefício, chamado de securitização, e
contratou a empresa Global Saúde, em setembro do ano passado, para
tentar economizar. Como a nova firma passou a receber um valor fixo de
R$ 15 milhões, promoveu um pente-fino nos reembolsos e achou mais de 13
mil receitas fraudulentas.
A busca encontrou notas em branco, sem data e sem nem ao menos o nome do
médico. Os resultados foram encaminhados para a Secretaria de Controle
Externo de Estatais do Tribunal de Contas da União (TCU). Esta semana, o
tribunal vai julgar se a Petrobras deve encerrar o programa ou criar
novos mecanismos de controle para essas compras.
Um dos casos mais curiosos foi encontrado em uma farmácia de Curitiba. A
receita era de uma clínica veterinária, emitida em nome da paciente
“Iza”. A reportagem constatou que Iza é o nome da cachorrinha de Vanessa
Silva, casada com um funcionário da Petrobras. Abordada pelo repórter,
Vanessa admitiu que o benefício foi usado para a cadela:
— Mas faz parte da minha família. É para comprar remédio. Se tenho o desconto, tenho o direito.
PROGRAMA SEM CONTROLE — O programa, suspenso pela Petrobras depois da
descoberta das irregularidades, funcionava há dez anos. Para usá-lo,
bastava ao funcionário ir até uma farmácia conveniada e apresentar a
receita e o cartão do programa de saúde. A farmácia enviava a conta a
uma firma contratada para administrar o programa, e o custo era
repassado à Petrobras.
Pela regra, os funcionários só deveriam comprar remédios para si mesmos e
seus dependentes. Mas a falta de controle abriu caminho para
deturpações. É o caso de nove compras no mesmo dia, 27 de julho do ano
passado, com um mesmo número de beneficiário, em diferentes estados. O
roteiro de compras começa em Candeias, na Bahia. Minutos depois, aparece
em Angra dos Reis, no Rio. A seguir, nova compra, em Salvador. Depois,
três vezes no Rio, uma em São Paulo, outra em Aracaju e mais uma em
Salvador.
Localizada, a dona do cartão, Dulce Fernandes Pereira, aposentada da Petrobras em Salvador, negou o envolvimento:
— Não. De maneira alguma. Eu, inclusive, já tem mais de três anos que não viajo.
Em nota, a Petrobras declarou que tomará todas as medidas legais
cabíveis para reparação e compensação de danos, além de mover eventuais
ações de improbidade administrativa.
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