Advogado admite ter pago despesas do ex-ministro Paulo Bernardo — investigações apontam Guilherme Gonçalves como um operador do petista no esquema Consist
O advogado Guilherme Gonçalves admitiu ter pago “algumas despesas” do
ex-ministro Paulo Bernardo durante audiência de custódia na
segunda-feira (27.jun.2016) na Justiça Federal de São Paulo. As
investigações apontam Gonçalves como um operador do ex-ministro, que
comandou o Planejamento e as Comunicações, no esquema de propina da
Consist.
“O próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido
que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para "PB", que
seria Paulo Bernardo. Na sua alegação, isto não seria algo ilícito,
porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em
questões eleitorais”, afirmou o juiz Paulo Bueno de Azevedo no despacho
que manteve a prisão temporária de Gonçalves.
De acordo com as investigações, pelo menos R$ 7,6 milhões foram
repassados ao escritório de advocacia ligado a Paulo Bernardo. Os
repasses eram feitos através do pagamento de serviços como aluguel de
flats, funcionários e serviços jurídicos do ex-ministro. Para isso, o
escritório administrava um “Fundo Consist” onde o dinheiro seria
depositado.
— Há elementos documentais, e-mails, que sustentam que advogado pagou
serviços a pedido de Paulo Bernardo — afirmou o procurador da República
Roberto de Grantis.
Paulo Bernardo foi preso na quinta-feira (23.jun.2016) durante a
Operação Custo Brasil, um desdobramento da Operação Lava-Jato. Ele teria
sido um dos beneficiários de um esquema que desviou R$ 100 milhões de
pagamentos de créditos consignados de servidores federais.
Segundo as investigações, a empresa Consist, que mantinha contratos com
entidades ligadas ao governo federal, repassava até 70% de seu
rendimento para o pagamento de propina a funcionários públicos e agentes
políticos.
O juiz deixa claro que não é o momento para fazer o julgamento de
mérito, mas que a posição do advogado “pode ter múltiplas
interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo Bernardo retirado do
Fundo Consist. Bueno de Azevedo disse que estranhou os motivos que
levaram o advogado a diminuir seus honorários quando Paulo Bernardo saiu
do Ministério do Planejamento.
“A princípio, pareceu um pouco estranho ao Juízo que o investigado
estivesse prestando um serviço absolutamente regular e, de inopino,
concordasse com a redução dos valores, máxime quando os indícios por ora
demonstram que a redução dos valores se deu justamente por ocasião da
saída de Paulo Bernardo do Ministério do Planejamento”, afirmou o
magistrado.
Na saída da audiência, o advogado Rodrigo Sánchez Rios, que defende Gonçalves, negou as irregularidades:
— A atuação do doutor Guilherme sempre foi uma atuação de muita
transparência. A defesa insiste que a prisão é desproporcional e
desnecessária. Não há nenhum indício de que esse valor recebido pelo
advogado seja repassado para um servidor público.
Rios afirmou ainda que a prisão é ilegal.
Os onze alvos da operação tiveram sua prisão mantida pelo juiz. Nesta semana, a Polícia Federal deve começar os interrogatórios.
Como funcionava o esquema de fraude que desviou R$ 100 milhões de empréstimos consignados
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