Governo Temer quer permitir aposentadoria só a partir dos 70 — idade mínima para benefício começaria aos 65 anos, mas seria estendida
daqui a 20 anos
O governo de Michel Temer quer que a idade mínima para a futura geração
se aposentar chegue aos 70 anos. A ideia, segundo uma fonte do governo
que está participando das discussões, é estabelecer no projeto que será
enviado ao Congresso duas faixas: a primeira, de 65 anos; e a segunda,
de 70 anos, para ser aplicada só daqui a 20 anos.
Há praticamente consenso de que a reforma da Previdência em estudo
deverá estabelecer 65 anos como idade mínima a partir da aprovação do
texto, mas com uma regra de transição que não penalize tanto quem já
está no mercado de trabalho e ainda menos quem está mais próximo da
aposentadoria.
Por exemplo, se um homem já contribuiu 30 dos 35 anos que determinam a
lei atual e tem 50 anos, ele não terá que trabalhar mais 15 anos, até os
65. Haverá uma transição. O objetivo do governo é elevar a idade média
das pessoas ao se aposentarem. Hoje, é de 54 anos.
Os que entrarem no mercado de trabalho a partir da sanção da nova regra
se enquadrarão integralmente na faixa de 65 anos. Mesmo que o governo
envie o projeto ao Congresso ainda este ano, dificilmente ele será
aprovado antes de 2017.
— Se vamos estabelecer a idade mínima agora, já podemos pensar nas
próximas décadas, deixando uma faixa mais alta para a futura geração,
que está longe ainda de entrar no mercado de trabalho. Agora, a adoção
dos 65 anos como idade mínima terá uma regra de transição muito clara
para não prejudicar quem já está no mercado de trabalho há mais tempo —
afirmou um integrante do governo Temer.
As fórmulas para esta regra de transição ainda estão sendo analisadas
pelo governo, mas levarão em conta o tempo de contribuição dos
trabalhadores e o período que falta para a aposentadoria. Apesar de o
presidente Michel Temer ter declarado na última sexta-feira
(24.jun.2016) ser a favor de que as mulheres se aposentem levemente mais
cedo do que os homens, a intenção da equipe econômica é, a longo prazo,
fazer com que a idade para ambos os sexos coincida.
Na terça-feira (28.jun.2016), haverá reunião entre governo e as centrais
sindicais, da qual poderá sair a primeira versão da reforma da
Previdência. O Planalto ainda tem dúvida sobre a apresentação de um
documento para evitar um “pacote pronto”, porque busca entendimento com
os sindicatos, que têm se mostrado inflexíveis especialmente quanto a
alterações na regra que afetem quem está no mercado de trabalho ou
próximo da aposentadoria. A decisão sobre apresentar ou não essas linhas
gerais será definida em cima da hora, dependendo do clima entre governo
e sindicatos.
— As centrais resistem em praticamente todos os pontos, mas estão
começando a assumir a responsabilidade. A previdência não é um problema
do governo, que passa; mas de quem vai se aposentar. Se o governo não
fizer nada rápido, o Brasil vai acabar daqui a uns anos como países
europeus que quebraram — disse uma alta fonte do governo.
A expectativa do governo é receber algumas ideias das centrais na
reunião de terça-feira (28.jun.2016), mas há impasse. Os sindicatos
querem a manutenção da regra 85/95 (soma entre idade e tempo de
contribuição para mulheres e homens, respectivamente) e pedem, em vez de
mudanças estruturais no sistema, que o governo faça uma fiscalização
rigorosa nos gastos com os recursos previdenciários.
— Queremos que o governo abra a caixa-preta da Previdência. O
trabalhador não é o responsável pelo deficit que existe no sistema —
disse o vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que estará na
terça-feira (28.jun.2016) em Brasília para a reunião no Palácio do
Planalto.
Medidas que afetam quem ainda não entrou no mercado de trabalho, no
entanto, causam menos polêmica entre as centrais. Segundo Miguel Torres,
não há entre as centrais uma decisão sobre o tema.
Há dois pontos apresentados pelas centrais que o governo vê com bons
olhos: a abertura de um programa de refinanciamento de débitos inscritos
na dívida ativa com a Previdência e a revisão das isenções às entidades
filantrópicas.
A Previdência do setor rural é outro ponto polêmico. Os sindicatos
afirmam que este responde pela maior parte do deficit do sistema. O
governo busca discutir esse problema em mesas separadas. Ouviu as
queixas dos sindicalistas, mas quer discutir alternativas com os
ruralistas para não contaminar as discussões.
Uma fonte do governo disse que alguma medida terá de ser adotada para reduzir as despesas previdenciárias deste setor.
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