Força-tarefa da Lava-Jato e TCU investigam empresas privadas com participação em estatais de energia
“Empresas paralelas” formadas
por agentes privados e capital de empresas públicas — para
administrar empreendimentos como hidrelétricas, termelétricas e
transmissoras de energia —, as chamadas Sociedades de Propósito
Específico (SPEs) cresceram no setor elétrico nos últimos anos sem
regras de controle e transparência, aponta decisão deste ano do
Tribunal de Contas da União (TCU). E agora entraram também no foco
da Lava-Jato.
Além disso, algumas das principais falhas de controle apontadas pelo
TCU nesse modelo — a falta de critério transparente tanto para a
contratação de bens e serviços por parte de SPEs como para a escolha
dos parceiros privados — são justamente brechas investigadas agora
na Lava-Jato, já que empreiteiras denunciadas na operação estão
entre as contratadas por SPEs do setor, ou entre as parceiras
privadas das estatais nessas sociedades.
Em muitos casos, a SPE contrata fornecedores ligados aos próprios
acionistas da sociedade, como apontou o acórdão 600/2016 do TCU, de
março. Também não haveria regras claras, segundo o TCU, em relação
aos critérios de escolha dos diretores dessas SPEs. São sociedades
privadas que, por conta disso, não se submetem aos padrões de
prestação de contas e de licitação de órgãos públicos — apesar de
haver ali capital de estatais. “Não seria demais registrar que o
emprego dessa estratégia (SPEs) resta por ocasionar flexibilização
(...) de regras de licitação”', diz o TCU.
Hoje, há 179 SPEs com participação de empresas da Eletrobras. Em
Furnas, entre 2011 e 2015, as SPEs da estatal movimentaram R$ 21,9
bi, segundo relatório de gestão da estatal; de 76 SPEs com
participação de Furnas até 2015, mais da metade (54) foi criada
depois de 2011. Na Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco),
os investimentos da empresa nesse tipo de sociedade cresceram 801%
de 2009 a 2014, de R$ 181 milhões para R$ 1,63 bilhão.
Há participação de empreiteiras da Lava-Jato, por exemplo, em SPEs
de Furnas como a usina de Santo Antonio, com participação da
Odebrecht; e a de Inambari, no Peru, com participação da OAS. Belo
Monte, da Eletronorte, tem contrato com seis investigadas na
Lava-Jato, lembra o TCU.
Entre os exemplos de SPEs que contrataram fornecedores ligados aos
próprios acionistas, há casos com empreiteiras da Lava-Jato: na
Dardanelos, da Chesf, a Odebrecht, contratada para execução das
obras, detinha inicialmente 5% das ações da SPE; em Jirau, também da
Chesf, a Camargo Corrêa, contratada, detinha antes 9,9% da SPE.
Nesse caso, o TCU viu que houve acréscimo do custo inicial de 107%,
indo de R$ 9 bilhões para R$ 18,5 bilhões.
ESCRITÓRIO APURA CONTRATAÇÕES — Em resposta à Lava-Jato, a
Eletrobras contratou, em junho de 2015, o escritório de advocacia
Hogan Lovells para apurar as contratações feitas por SPEs do setor.
OUTRO LADO — Procurada pela reportagem, a Eletrobras disse ter
destacado, em fato relevante publicado em maio deste ano, que as
investigações pelo escritório “ainda não estão substancialmente
completas”.
Furnas ressaltou que o aumento na participação em SPEs tem ocorrido
pois “a única maneira de ser competitivo em leilões para expansão do
sistema é na forma de SPE com participação minoritária”. E que o
acompanhamento das SPEs “é realizado em consonância com as melhores
práticas de governança corporativa”; que há prestações de contas
regulares; e que desde 2011 não há novas SPEs que contratem
fornecedores ligados a elas.
Sobre o envolvimento de empreiteiras da Lava-Jato em SPEs, Furnas
disse que, “quando da constituição das SPEs, já haviam sido
licitados os principais contratos de fornecimentos de bens/serviços
pela seleção da proposta de menor preço, para a composição da
proposta vencedora do leilão da Aneel”.
A Chesf disse que “vem implementando as recomendações e
determinações” do TCU no acórdão 600; e que desde 2014 não
constituiu ou entrou em nova SPE, “promovendo ajustes e fortalecendo
estrutura organizacional e normativa” segundo indicações do TCU, da
Eletrobras “e pela legislação recente — conflito de interesse e
integridade empresarial (compliance)”.
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