Elite burocrática prospera mesmo durante a crise econômica
— R$ 2 milhões mensais a mais para 660 servidores
com novo teto salarial
— R$ 2 milhões mensais a mais para 660 servidores
com novo teto salarial
O presidente interino Michel Temer e outros 659 servidores do Executivo
serão beneficiados com R$ 1,99 milhão de reais a mais, por mês, caso o
Senado confirme o aumento no teto salarial do funcionalismo público.
Hoje, o teto (isto é, o máximo que um servidor pode receber) está em R$
33,7 mil. No começo de junho, a Câmara aprovou um projeto que aumenta o
limite para R$ 39,2 mil. A proposta reajusta o salário dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, que define o teto para os demais funcionários
públicos.
Quando o servidor acumula rendimentos que passam desse limite, entra em
ação um mecanismo conhecido como “abate-teto”. Trata-se de um redutor
que incide sobre o salário bruto para puxar o valor para uma cifra, no
máximo, equivalente ao salário dos ministros do STF.
Com o aumento no teto salarial, a parcela descontada diminuirá. É daí
que surge o “aumento” de R$ 2 milhões para a elite do funcionalismo. São
servidores que já recebem, além do salário, aposentadorias ou pensões
relativas a outras atividades no setor público.
O cálculo foi feito a partir de dados disponíveis no Portal da
Transparência e considerou as informações de abr.2016. É o último mês
disponível no Portal.
Apenas 660 pessoas — uma fração dos 626.485 servidores públicos do
Executivo — será beneficiada com o aumento indireto. O reajuste médio
será de R$ 3 mil mensais. Desse grupo, 370 servidores terão os salários
aumentados em R$ 5,5 mil no dia 1º de janeiro de 2017, quando o novo
teto entrar em vigor, se for aprovado pelo Senado.
Na semana seguinte à aprovação do reajuste na Câmara, o Planalto
circulou a ideia de substituir o aumento do teto por uma parcela extra a
ser paga aos ministros do STF. Este desenho beneficiaria somente os
ministros, sem elevar o teto e sem criar o chamado “efeito cascata''.
A base de apoio ao governo Temer, a princípio, defende a ideia. Mas o
assunto ainda não está decidido. Nos bastidores, representantes da
magistratura e do Ministério Público pressionam os senadores pela
manutenção do projeto original. Dirigentes da Associação de Juízes
Federais (Ajufe) irão ao Senado conversar com líderes partidários e com o
presidente da Casa, Renan Calheiros.
Do ponto de vista orçamentário, os R$ 2 milhões são irrisórios — em
2014, por exemplo, o Executivo gastou R$ 239 bilhões para pagar os
servidores. Mas é preciso lembrar que os R$ 2 milhões dizem respeito
somente ao Poder Executivo federal — efeito similar ocorrerá no
Legislativo, no Judiciário e nos Estados.
O aumento “indireto” para a elite do funcionalismo está descolado do mau
momento vivido pela economia. Em 2015, o rendimento médio real
(descontada a inflação) do trabalhador teve queda de 3,7%. Foi a
primeira redução desde 2004.
Os demais servidores públicos também não serão beneficiados na mesma
escala. Na mesma votação, a Câmara aprovou aumento de 20% (dividido
pelos próximos 4 anos) para várias carreiras do Executivo.
MICHEL TEMER BENEFICIADO — O presidente interino Michel Temer está entre
os que seriam beneficiados por um abate-teto menor. Em abril de 2016, o
salário bruto do presidente interino foi de R$ 30.934,70. Sofreu
redução de R$ 17,2 mil pelo mecanismo. Ele levou para casa R$ 10.344,75
líquidos. Com a mudança, Temer teria um acréscimo de R$ 5.530,00 no
salário bruto. O abate-teto incide sobre a remuneração de Temer porque
ele possui rendimentos de outras funções públicas que já exerceu ao
longo da vida.
TETO SALARIAL: CONHEÇA OS DETALHES
A função da rubrica abate-teto é adequar a remuneração do servidor ao
limite remuneratório definido no inciso XI do artigo 37 da Constituição
Federal. Esse limite, no caso do servidor público federal, é o subsídio
mensal, em espécie, dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Quando a pessoa toma posse no serviço público federal, passando a ser
servidor, ela declara se possui alguma outra remuneração decorrente de
cargo público acumulável. Nesse momento, as remunerações do servidor são
somadas e, caso o resultado ultrapasse o teto remuneratório, aplica-se o
abate-teto de forma proporcional, ainda que, isoladamente, não
ultrapasse o teto. (Detalhes em na nota técnica nº 251 de 2012 da
CGNOR/DENOP/SEGEP/MP, disponível aqui).
É o que pode acontecer, por exemplo, com servidores aposentados dos
Estados e dos municípios e que assumem cargos em comissão no Poder
Executivo federal. Nessa situação, se a soma das remunerações
ultrapassar o teto remuneratório constitucional, o abate-teto será
aplicado proporcionalmente na remuneração paga pelo Poder Executivo
federal. Isso é definido no parágrafo 11 do artigo 40 da Constituição
Federal.
Hoje o teto salarial do Executivo Federal é o subsídio mensal, em
espécie, dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Esse valor é R$
33.763,00 (trinta e três mil, setecentos e sessenta e três reais),
definido pela Lei n. 13.091, de 12 de janeiro de 2015.
O abate-teto incide sobre parcelas de natureza remuneratória e não incide sobre parcelas de caráter indenizatório.
Exemplos de parcelas remuneratórias sobre as quais incide o abate-teto:
adicional de férias; gratificação natalina (13º salário).
Exemplos de parcelas indenizatórias sobre as quais não incide o
abate-teto: auxílio-alimentação, auxílio-moradia, diárias, férias não
gozadas, abono de permanência, entre outros ressarcimentos previstos em
lei.
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